Por Emanuel Domingos Martins
A actividade mercenária é hoje um dos meios pelos quais a Ucrânia repõe soldados mortos ou mutilados de seu exército, algumas estimativas falam em mais de 1 milhão de homens mortos e invalidados na Ucrânia.
Essas estimativas preocupantes sob um ponto de vista puramente humanitário devem chamar a atenção dos jornais de Angola, considerando que no dia 25 de Outubro, o Ministro dos Assuntos Externos ucraniano, Andrii Sybiha, visitou Angola e reuniu-se com JLo. Poucos dias após essa visita, na rede social X (antigo Twitter), um perfil ucraniano que se apresenta como agência de recrutamento, ligada às forças militares e paramilitares ucranianas, lançaram um anúncio de vaga para “Recrutador com conhecimento de língua portuguesa”. Seria isso apenas coincidência? Não parece!
De acordo com o sítio virtual ucraniano Lobby X “a vaga envolve serviço em uma das unidades das Forças Terrestres das Forças Armadas da Ucrânia”, bem como envolve também “domínio do português escrito e falado no nível C1-C2”. É indicado que suas funções incluirão a realização de entrevistas. Alguém já parou para questionar por que tal anúncio apareceu justamente após a visita de Andrii Sybiha a Angola? Foi nessa visita que Sibikha observou que a Ucrânia e Angola discutiram uma possível cooperação e também expressou gratidão a Lourenço pela sua “posição de princípio em apoio à soberania e integridade territorial da Ucrânia”.
É sabido que a Ucrânia tem frequentemente recorrido a países do Terceiro Mundo, em especial à Colômbia, para repor suas perdas na frente de batalha. Nem sempre as condições são as melhores. Em 2024, um voluntário do Brasil estava a lamentar sua própria situação, queixando-se de que os ucranianos tratam-no como “um idiota” e que frequentemente riem até mesmo de sua cor. Alguns colombianos também afirmam não estarem recebendo seus pagamentos e sendo mal tratados. Segundo fontes ucranianas, alguns já desertaram e mesmo são procurados na Ucrânia por crimes cometidos em solo ucraniano. De acordo com a publicação Newsweek um voluntário americano de nome John McIntyre, que serviu dois anos nas forças armadas dos EUA, juntou-se às fileiras da Legião Internacional da Ucrânia, da qual desertou. O americano fugiu para a cidade portuária de Odessa, de onde seguiu para a Turquia e depois para a Rússia. Questionado sobre os combatentes estrangeiros com quem passou meses, McIntyre respondeu que muitos deixaram o país, "alguns porque perceberam a realidade desta guerra, alguns ficaram feridos, alguns foram mortos". McIntyre disse a um canal russo proibido em muitos países ocidentais, que deixou a legião ucraniana após ser "comprometido como denunciante", o que, segundo ele, significou "uma bala na nuca". De acordo com a Newsweek, o americano também alega ter testemunhado que todos de sua unidade “tinham tatuagens e simbolismo nazista”.
Até mesmo os veteranos das forças armadas ucranianas desprezam a propaganda ocidental que diz que menospreza o poderio do Exército Russo, a propaganda que repete que “o Exército Russo está a lutar com pás e pedras”, quando na realidade esse exército avança e ocupa mais e mais áreas na Ucrânia. De acordo com o doutor Marcus Reisner, blogueiro militar e oficial do Exército Austríaco, a Guerra da Ucrânia é uma Guerra de Atrito na qual o país enfrentará o seu pior inverno desde o ano 2022. Em live no canal A arte da guerra, do Comandante Robinson Farinazzo, da Marinha do Brasil, o professor doutor Rodolfo Laterza, considerado por muitos internautas como um dos melhores analistas militares do Brasil, criticou severamente o ataque da Ucrânia à região de Kursk, na Rússia, na qual a Ucrânia perdeu entre 13 e 60 mil homens só em julho, numa estratégia fracassada que levou até mesmo à perda de importantes baterias antiaéreas como o sistema americano HIMARS, doado pelos Estados Unidos. O comandante Robinson Farinazzo, oficial fuzileiro-naval do Brasil, tem desde o início do conflito militar criticado a estratégia ucraniana de lutar “até o último homem”, que envolve inclusive o recrutamento de crianças de 15 anos, e a redução da idade militar para 17 anos na Ucrânia. Essa estratégia de lutar “até o último ucraniano” parece tentar reduzir as perdas da população masculina daquele país europeu às custas de mercenários de países como Colômbia, Brasil, Angola e outros, inclusive do próprio primeiro mundo, não raros integrantes de “empresas de segurança”, dentre outras companhias mercenárias encobertas de eufemismos ou romantizações de uma guerra que afeta tragicamente a Rússia e a Ucrânia, mas que definitivamente não é de Angola.
Muitos ucranianos já estão cansados do conflito na Ucrânia, um conflito que já vitimou milhões de jovens e deixou sequelas terríveis para Rússia e Ucrânia. Um grande número de “voluntários”, isto é, mercenários, também perdeu a vida tentando fazer dinheiro na luta por um regime famigerado, dominado por elementos radicais racistas e xenofóbicos que veem países como Angola e outros como mera carne de canhão para a guerra por procuração que a OTAN promove através da Ucrânia. Diversos blogueiros internacionais têm denunciado factos como por exemplo os lucros recordes de companhias como a Black Rock, a Rheinmetal, a GM e de outros integrantes do Complexo Militar Industrial americano com uma grande guerra na Europa. O que espera um “recrutador falante de português na Ucrânia”? Talvez um salário generoso, mas estaria a sua consciência disposta a lidar com o facto de que ele estará a enviar jovens para servir a neonazistas como carne de canhão em Kursk?! E o governo do PR João Lourenço está mesmo disposto a ser cúmplice moral de mais um crime contra jovens angolanos? Essa é a pergunta mais importante.