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Sexta, 08 Julho 2022 19:08

ADEUS Zédu: Agualusa diz que lutas dos filhos tornam "indigno" o fim de vida

O escritor José Eduardo Agualusa lamentou hoje que os filhos de José Eduardo dos Santos tenha tornado "um pouco indigno" o fim de vida do ex-presidente angolano, recordando-o pela corrupção, mas também por ter posto fim à violência pós-independência.

"É muito triste a forma como decorreram estes últimos dias com os filhos lutando uns com os outros e em particular uma das filhas fazendo acusações absurdas contra o Presidente atual", disse o escritor luso-angolano em declarações à Lusa por telefone após o anúncio da morte, hoje, do antigo chefe de Estado.

"Tudo isto me parece muito triste. Acho que, enfim, de alguma forma, veio tornar um pouco indigno todo este processo, que podia ser um processo, um drama íntimo da família", acrescentou.

Agualusa disse não acreditar que a morte de José Eduardo dos Santos possa "provocar grandes sobressaltos em Angola", uma vez que o que o antigo presidente já estava "há bastante tempo (...) totalmente afastado da vida política e social" do país.

Sobre o legado do ex-presidente, o escritor disse ser "difícil esquecer que o Presidente José Eduardo dos Santos foi o principal responsável pelo início da grande corrupção em Angola".

Mas considerou ser "de justiça reconhecer" que, imediatamente após chegar ao poder, Dos Santos "tratou de pôr um ponto final no processo de perseguição e de crimes de Estado que Presidente anterior, Agostinho Neto, iniciou logo após a Independência" de Angola.

"José Eduardo dos Santos tratou de libertar a maioria dos presos políticos, sobretudo aqueles presos ligados ao processo de organização comunista de Angola e os chamados 'nitistas' e mais tarde acabou com a pena de morte. Então é justo reconhecer isso", afirmou.

E concluiu: "Não me parece que o José Eduardo dos Santos fosse um homem que gostasse de violência, mas a verdade é que ele esteve quase 40 anos no poder, um poder quase total. E durante esse tempo foram cometidos crimes muito graves, portanto, é impossível esquecer esse passado e essa herança".

José Eduardo dos Santos morreu hoje aos 79 anos numa clínica em Barcelona, Espanha, após semanas de internamento, anunciou hoje a presidência angolana, que decretou cindo dias de luto nacional.

O antigo Presidente da Angola estava há duas semanas internado nos cuidados intensivos de uma clínica em Barcelona.

Neste período, a filha Tchizé dos Santos apresentou uma queixa junto da polícia da Catalunha, argumentando que o antigo chefe de Estado de Angola não estava a ter os cuidados que considerava adequados.

Segundo disse então à Lusa a advogada que representa a angolana, Carmen Varela, a queixa visava investigar alegados crimes de tentativa de homicídio, omissão do dever de assistência, ferimentos devidos a negligência grosseira e revelação de segredos por pessoas próximas".

Segundo disse também à Lusa uma fonte próxima da família, Tchizé dos Santos queria afastar Ana Paula dos Santos, ex-mulher de José Eduardo dos Santos e mãe de três dos seus filhos, e impedir que fossem desligadas as máquinas que mantinham vivo o ex-presidente.

Tchizé dos Santos acusou também nos últimos dias o atual chefe do executivo, João Lourenço, de estar a fazer uma gestão política do caso.

O governo angolano anunciou hoje a criação de uma comissão do Estado para organizar a cerimónia fúnebre do ex-Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, que integra 11 ministros e a governadora de Luanda.

A realização da cerimónia fúnebre não é consensual, já que as filhas mais velhas de José Eduardo dos Santos não querem regressar a Angola, por enfrentarem processos judiciais ou por alegadamente correrem risco de vida.

Um outro filho, José Filomeno "Zenu" dos Santos, foi condenado a uma pena de prisão no âmbito de um processo de corrupção, aguardando em liberdade o recurso que interpôs, e disse recentemente que o seu passaporte estava a ser retido pela autoridades angolanas.

José Eduardo dos Santos, 79 anos, é pai de oito filhos com cinco mulheres e esteve à frente dos destinos de Angola durante 38 anos.

Eduardo dos Santos governou Angola entre 1979 e 2017, tendo sido um dos Presidentes a ocupar por mais tempo o poder no mundo e era regularmente acusado por organizações internacionais de corrupção e nepotismo.

Em 2017, renunciou a recandidatar-se e o atual Presidente, João Lourenço, sucedeu-lhe no cargo, tendo sido eleito também pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que governa no país desde a independência de Portugal, em 1975.

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