Segunda, 16 de Junho de 2025
Follow Us

Terça, 15 Março 2016 21:58

Saída de José Eduardo dos Santos "não é uma cura milagreira" para Angola

O investigador Ricardo Soares de Oliveira considera que a saída do Presidente de Angola da vida política, anunciada para 2018, não vai ser a "cura milagreira que alguns prometem" e que a mudança demora tempo.

"Ao fim de quase 40 anos no poder, a sua partida é necessária, mas não vai ser a cura milagreira que alguns prometem", defendeu o investigador luso-angolano.

Em entrevista à Lusa por escrito dias depois do anúncio do abandono da vida política feita pelo próprio Presidente da República de Angola, Soares de Oliveira admitiu que "não há dúvida de que o sistema económico e político angolano foram profundamente influenciados pelas escolhas de José Eduardo dos Santos", mas acrescentou que "é simplista pensar que tudo vai mudar de um dia para o outro".

Questionado sobre se a perceção de corrupção denunciada por diversos organismos internacionais e pelos ativistas locais vai melhorar com a saída do chefe de Estado, o professor de Política Africana no departamento de Política e Relações Internacionais da Universidade de Oxford respondeu: "O problema da corrupção (e mais ainda, o das políticas de favorecimento das elites, que tem consequências contrárias ao desenvolvimento para o país) não se resume ao excessivamente longo controlo do poder pelo Presidente".

Para Soares de Oliveira, "a maioria dos membros da elite está em sintonia com as escolhas do Presidente, nomeadamente no que diz respeito ao enriquecimento da autodenominada burguesia nacional e todas as grandes questões que o país defronta -- a falta de diversificação da economia, em particular -- estarão lá no dia em que o Presidente partir".

Sobre o legado que José Eduardo Santos, um dos líderes africanos há mais tempo no poder, deixa, o autor do livro `Magnífica e Miserável: Angola Desde a Guerra Civil` considera que o ainda Presidente "será sem dúvida uma figura incontornável, mas muito controversa".

Mergulhada numa crise económica por via da redução das receitas fiscais do setor do petróleo desde meados de 2014, Angola deverá ver a sua economia crescer este ano cerca de 3,5%, mais ou menos metade do que tem sido habitual nos últimos anos e o défice orçamental e a dívida pública estão a subir para compensar o garrote na cobrança fiscal.

"Se tivesse saído em 2008 ou até 2013, teria sido visto de forma muito mais positiva", diz o académico, sublinhando que como ficou no poder pelo menos até este ano, "é óbvio que a sua perpetuação no poder, o favorecimento de interesses específicos em seu redor, e a falta de diversificação da economia são um lastro considerável".

O anúncio de José Eduardo dos Santos foi feito na semana passada, em Luanda, na abertura da 11.ª reunião ordinária do Comité Central do MPLA, convocada para preparar o congresso do partido, agendado para agosto e que servirá para preparar as candidaturas às eleições gerais de 2017.

"Em 2012, em eleições gerais, fui eleito Presidente da República e empossado para cumprir um mandato que nos termos da Constituição da República termina em 2017. Assim, eu tomei a decisão de deixar a vida política ativa em 2018", anunciou José Eduardo dos Santos, depois de passar em revista o seu percurso no MPLA e na liderança de Angola.

Lusa

 

Rate this item
(0 votes)