(Gabinete de comunicação institucional e imprensa da direcção geral do SIC, em Luanda, aos 21 de abril de 2022)
No comunicado do SIC há, pelo menos, dois elementos merecedores de reflexão: a) a omissão da identidade da gráfica em que teriam sido impressos os tais 50 milhões de dólares falsos; b) os números apresentados não resistem a um elementar exercício de aritmética.
Vamos lá:
Se cada saco contem 25 lotes de USD 200.000, 00 (duzentos mil dólares), temos, então, um total de 5.000.000.00 por unidade. Os 5 milhões por saco resultam desta simples operação de multiplicar: 25 x USD 200.000, 00 = USD 5.000.000,00.
E como o comunicado fala em 50 sacos, só temos de multiplicar esse número pelo conteúdo de cada um. Assim, temos 50 x USD 5.000.000,00 = USD 250.000.000,00.
Portanto, a Aritmética ensina que o total do dinheiro apreendido tem de ser de USD 250 milhões.
Do comunicado do SIC extraem-se duas ilações: ou os “operativos” não são dados a contas (o que é totalmente inadmissível numa polícia de investigação) ou, o que é bem pior, alguém deu destino incerto à parte de leão do dinheiro “falso” apreendido. É que faltam 200.000.000.00 (Duzentos milhões) de dólares!
Quase uma semana depois, o silêncio do SIC a respeito desse equívoco, se é que se tratou mesmo de um equívoco, significa, no mínimo, que a instituição já deu por encerrado o assunto.
As autoridades angolanas repetem-se em demonstrações de serem bons intérpretes da máxima segundo a qual o latir dos cães não trava a marcha de uma carruagem.
Traduzido, depois do show off, com que o SIC mostraria algum serviço, o dinheiro já foi parar aos bolsos dos seus “donos” e aos “cães”, que são os contribuintes, só resta mesmo ladrar.
Foi assim com o caso Lussaty. Depois dos “banquetes” servidos pela TPA, em que foram exibidas quantidades enjoativas de dinheiro e bens materiais como carros e casas, pertencentes a um major da Casa Militar da Presidência da República, à opinião pública não mais foi dada qualquer informação sobre o destino dado tanto aos milhões de dólares quanto aos carros e casas de luxo.
Outrossim, os angolanos aguardam, há mais de quatro anos, explicações para o destino dado à enorme quantidade de cocaína apreendida no porto de Luanda.
Falou-se de um barão da droga em Angola, mas a sorte da cocaína nunca foi partilhada com o povoléu.
Os modus operandi e faciend das autoridades sugerem que os 200 milhões de dólares que o SIC não reportou já “passaram no barulho”.
E, como diz o nosso generoso povo, “não lhes vai acontecer nada”. Correio Angolense