A informação foi hoje confirmada à agência Lusa por Adolfo Campos, porta-voz do movimento, que desde 2011 tem promovido diversas manifestações em Luanda de contestação ao regime de José Eduardo dos Santos, envolvendo sempre confrontos com a polícia.
"Cancelamos a manifestação devido à decisão da revogação. Mas vamos estar o com olho aberto, caso mudem alguma coisa", afirmou Adolfo Campos.
Alves Kamulingue e Isaías Cassule foram raptados na via pública, em Luanda, nos dias 27 e 29 de maio de 2012, quando tentavam organizar uma manifestação de veteranos e desmobilizados contra o Governo do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos.
À data do crime, António Manuel Gamboa Vieira Lopes - um dos sete suspeitos que continuam em prisão preventiva à conta deste processo, de rapto e homicídio - exercia funções de chefia no Serviço de Inteligência e de Segurança do Estado, em Luanda.
A agência Lusa noticiou na quinta-feira que o Presidente angolano revogou a promoção de Vieira Lopes a brigadeiro.
Essa promoção tinha levado o Tribunal Provincial de Luanda (TPL), a 08 de setembro, a declarar-se incompetente para continuar com o julgamento - sendo um oficial general o caso transitaria, depois de decisão do Tribunal Supremo, para a Justiça Militar -, uma semana depois de iniciado.
Numa ordem assinada pelo Comandante-Em-Chefe e Presidente da República, de 22 de setembro, além da revogação da promoção é ainda determinada a abertura de uma investigação à instrução daquele processo por, à data, Vieira Lopes já se encontrar detido. A mesma ordem considera "inconveniente e inoportuna" a promoção, concedida a 27 de maio de 2014, ao grau militar de brigadeiro.
A manifestação, conforme comunicação que este grupo de ativistas entregou no Governo Provincial de Luanda, estava agendada para 04 de outubro, no Largo da Independência, sob o lema "Chega de impunidade em Angola", para exigir a "imediata despromoção" de Vieira Lopes.
Face à revogação da promoção, o processo estará em condições de voltar a ser julgado no TPL, daí a justificação do Movimento Revolucionário para o cancelamento da manifestação, explicou ainda Adolfo Campos.
Além dos sete detidos, outros dois suspeitos neste caso continuam foragidos e um terceiro viria a falecer.
Em comunicado de dezembro de 2013, aquando das primeiras detenções, a Procuradoria-Geral da República angolana referiu que os dois ex-militares terão sido assassinados por agentes da Polícia Nacional e da Segurança do Estado.
Nas várias manifestações promovidas desde 2012 pelos jovens do Movimento Revolucionário foi sempre exigida "Justiça" para o caso "Kamulingue e Cassule".
Os corpos dos dois homens nunca foram recuperados.
Lusa