Em causa está um incidente registado no dia do arranque do julgamento que envolve elementos da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) em Angola, cuja terceira sessão decorreu hoje no Tribunal Provincial de Luanda (“Palácio Dona Ana Joaquina”), no qual o advogado de acusação acusou o arguido de o ter ofendido, situação que reportou ao tribunal, tendo o juiz aconselhado que caso achasse conveniente apresentasse queixa à polícia.
Naquele dia, em declarações à imprensa, o advogado chegou a afirmar que o arguido “teve sorte, porque fugiu”, senão poderia ter-lhe dado “uma bofetada” na hora, garantindo que iria abrir um processo contra o bispo, alegando que este não pode ofender as pessoas.
“Não é porque é brasileiro que chega aqui e pode fazer o que quer. Chamou-me de criminoso”, disse, frisando que este é um comportamento de “falsos profetas”.
Em sua defesa, o arguido, em declarações à Lusa, disse que tinha havido um mal-entendido, porque o que disse ao advogado é que não era um criminoso, quando o foi cumprimentar.
No processo são também arguidos o bispo angolano António Miguel Ferraz, o pastor brasileiro Fernando Teixeira, e o angolano Belo Kifua Miguel.
O ex-líder espiritual da IURD optou hoje por não responder a nenhuma das questões do advogado de acusação David Mendes.
Na terceira sessão da audiência de julgamento do processo que envolve bispos e pastores da IURD acusados dos crimes de associação criminosa, branqueamento de capitais e violência doméstica, o tribunal continuou a ouvir o bispo brasileiro Honorilton Gonçalves, na altura dos alegados crimes líder espiritual da igreja.
A sessão, que durou nove horas, com 30 minutos de intervalo, foi suspensa quando o arguido manifestou cansaço, depois de responder a questões colocadas pelo tribunal, Ministério Público e assistentes de acusação.
Durante a sessão de julgamento, que começou no dia 18 deste mês, o arguido chegou a manifestar ao tribunal algum desconforto pelo facto de o advogado David Mendes estar a “abanar a cabeça, reprovando e rindo-se" das suas respostas, o que argumentou estar a atrapalhá-lo quando respondia a questões do Ministério Público.
Em resposta, David Mendes sugeriu que deixasse de olhar para si e se concentrasse no juiz, tendo este sugerido ao arguido para que sentasse mais para o lado da defesa para evitar o contacto visual.
Depois do Ministério Público, passada a palavra aos assistentes de acusação, Honorilton Gonçalves entendeu não responder a nenhuma das questões colocadas pelo advogado David Mendes, que trouxe para a sala de julgamento duas provas para juntar nos autos, nomeadamente um documento para que o arguido reconhecesse a sua assinatura e um áudio em que supostamente dava instruções sobre o processo de vasectomia.
Sobre este procedimento cirúrgico foram hoje colocadas várias questões, quer na instância do tribunal, quer do Ministério Público e assistentes, tendo o arguido dito que durante o seu mandato de pouco mais de um ano nunca foi de seu conhecimento que tivesse sido feito por algum pastor ou bispo.
Esta foi, aliás, a maioria das respostas que hoje deu em tribunal, o que levou a uma advertência do juiz para que alterasse a sua atitude, por estar a tornar a audiência num “ambiente cómico”.
Relativamente a esta prova do áudio, a defesa considerou-a ilícita, questionando o modo como ela foi gravada, se com a autorização ou não, e da garantia de que se trata do arguido, tendo em conta os vários programas hoje disponíveis para editar sons.
O juiz presidente da sessão, Tutti António, relegou para a próxima sessão, marcada para o dia 09 de dezembro, que prossegue ainda com a audição de Honorilton Gonçalves, a admissão ou não desta prova, depois de analisada com as partes envolvidas antes do início da audiência.
Em declarações à imprensa, David Mendes disse acreditar que as provas hoje trazidas por si vão mudar o curso dos argumentos apresentados até agora pelo arguido, “porque ele vinha com uma linha de que não fez nada, que não estava à frente da igreja”.
“Mas começou a ficar claro a partir do momento que apresentei provas que foram assinadas pelo senhor Honorilton Gonçalves e por outro lado também temos áudios em que ele dá instruções para se fazer vasectomia, então as coisas começam a mudar”, disse.
“A partir do momento que eu requeri a junção de documentos ele entrou em stress", disse, salientando também: "Ele repetiu várias vezes nesse tribunal que a Igreja Universal de Angola nada tem a ver com o Brasil, é uma igreja autónoma, é uma igreja que depende dos angolanos, então fica aqui bem claro, aquilo que muita gente dizia que a IURD era do Brasil e o líder espiritual que vem e diz que não é verdade, então dá outra dimensão”, acrescentou.
No que se refere ao facto de não ter respondido a nenhuma das suas questões, o causídico considerou normal, por fazer parte da estratégia da defesa, porque sabia que o seu constituinte poderia ser encurralado, “como acabou de acontecer”.