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Quinta, 11 Novembro 2021 21:22

Polícia angolana reprime com violência marcha por Inocêncio de Matos em Luanda

Marcha que assinalava esta quinta-feira, em Luanda, um ano da morte do estudante Inocêncio de Matos foi reprimida com violência pela polícia. Há relatos de detenções, mas manifestantes advertem que não se vão calar.

Em declarações à RFI, uma das participantes da marcha, a activista Laura Macedo, refere que não só a manifestação foi impedida pela polícia, como foram feridas duas pessoas e outras quinze foram detidas, nomeadamente alguns dos organizadores da concentração.

"Quando chegamos ao local por volta das 10h30 da manhã, já a polícia tinha tomado todo o parque de estacionamento do cemitério de Santana que era o local da concentração. Não nos deixaram aproximar, não deixavam sequer que carros estacionassem no parque de estacionamento e acabaram correndo com toda a gente que lá estava. Saímos a primeira vez. Depois chegou outro grupo de jovens que voltou a entrar a quem polícia tirou de lá com bastonadas. Feriram dois manifestantes e aí detiveram primeiro três dos promotores da manifestação", relata a activista.

"No total estão detidas, até ao momento, quinze pessoas. Entre elas está o Hitler Samussuku e o José Gomes Hata que são dois elementos que pertencem à plataforma 'terceira divisão' que é uma plataforma de jovens ligados ao hip-hop, e estão outros mais lá", acrescenta Laura Macedo informando, por outro lado que as pessoas interpeladas pela polícia se encontram detidas dentro de um veículo no local da concentração, não tendo sido levadas para nenhuma esquadra."Não foram levados para esquadra nenhuma, eles estão no local da concentração fechados dentro de uma viatura. A polícia não permite que ninguém se aproxime, fez um cordão à volta do sítio onde eles têm as viaturas e ninguém consegue sequer chegar", refere a activista indicando todavia que estão lá dois advogados.

Ao relatar que as autoridades tinham sido devidamente informadas sobre a perspectiva de se organizar esta marcha, Laura Macedo comenta que "o governo não se incomoda sequer em responder à comunicação de que se vai fazer uma manifestação. A lei diz que o governo tem 24 horas para responder à carta onde os manifestantes se propõem de ir à rua e eles nunca respondem. Respondem sempre no dia, no acto, quando as pessoas estão para iniciar o acto a que se propuseram e eles respondem sempre com muita violência e é sempre a polícia nacional que responde."

"O grande problema aqui é que o partido que nos governa não quer que se façam manifestações muito menos no dia 11 de Novembro.Tentam 'vender' uma imagem para o exterior de que aqui está tudo bem e que eles estão a trabalhar, o que não é verdade", comenta a activista que ao evocar o objecto da marcha que estava prevista hoje, clamar por justiça para com o jovem Inocêncio de Matos que morreu há um ano durante um protesto, constata que "não há absolutamente nada. Aliás esta manifestação foi precisamente para se exigir justiça por Inocêncio de Matos. Não foi para comemorar a independência de Angola porque o povo angolano não está independente."

Apesar da ação da polícia, o ativista angolano Dito Dali frisa que a luta para se exigir a responsabilização do autor da morte de Inocêncio de Matos vai continuar.

"Não é a polícia que fica a violar constantemente a Constituição, os direitos dos cidadãos, alegando que a manifestação não foi autorizada. Ninguém precisa de autorização, ela carece sim de uma comunicação. Ao fazer isso, está gravemente a violar os direitos dos cidadãos e nós não podemos permitir. Vamos continuar a resistir até que a justiça seja feita pela morte de Inocêncio de Matos", garantiu o ativista aos microfones da DW África.

A polícia angolana argumenta que reprimiu a manifestação porque a mesma não foi autorizada pelo governo da província de Luanda.

Pai pede responsabilização pelo homicídio

Na sequência da atuação policial, Alfredo de Matos apela à intervenção do Presidente angolano, João Lourenço, para se responsabilizar o autor do disparo que vitimou o seu filho há um ano e cujas circunstâncias permanecem por apurar.

Também Amélia Aguiar, jornalista angolana que participou na marcha, diz estar revoltada com o papel dos órgãos do Estado.

"Em quase cinco anos, o regime do Presidente João Lourenço já matou mais do que o regime de José Eduardo dos Santos em 38 anos. Estou muito revoltada", asseverou. RFI/DW África

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