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Sexta, 04 Setembro 2020 19:13

Caso dos 900 milhões de Carlos São Vicente “atesta a pilhagem de Angola” – Rafael Marques

O caso das centenas de milhões de dólares congelados nas contas na Suíça do empresário Carlos São Vicente “atesta o nível de pilhagem que ocorreu” em Angola, disse o conhecido jornalista de investigação angolano e presidente da Fundação Ufolo para a Boa Governação, Rafael Marques.

Falando no programa “Angola Fala Só” Rafael Marques afirmou que o caso "provavelmente envolve muito mais" do que os quase 900 milhões de dólares congelados pelas autoridades suíças pois "nunca põem os ovos no mesmo cesto".

Para Marques a pergunta a fazer é como Carlos São Vicente obteve os contratos para as suas companhias que lhe permitiram ter essa quantia de dinheiro em contas pessoais ou controladas por si.

“Isso não poderia ter sido feito sem o conhecimento da presidência na altura que era de José Eduardo dos Santos”, afirmou.

Para este combatente da luta contra a corrupção, esta é uma luta que vai “levar muito tempo porque não estamos a falar só de corrupção institucional mas também de uma sociedade que passou a ser governada pela via da corrupção”.

“A corrupção foi institucionalizada”, disse o também director da publicação Maka Angola explicando que a corrupção acontece a todos os níveis.

‘Muitos dos problemas de corrupção tem a ver com com a dignificação do trabalho das pessoas”, disse, fazendo notar, por exemplo, que guardas com salários de 25.000 ou 30.000 kwanzas não ganham o suficiente para cobrir o transporte de e para o trabalho.

“Estes indivíduos têm que arranjar um esquema para sobreviver e depois temos os casos da grande corrupção dos indivíduos empoderados como é o caso de São Vicente”, acrescentou.

Para Rafael Marques o positivo do que se passa em Angola atualmente é que o país “está a ver de uma forma muito lenta e com alguma hesitação a institucionalização da luta contra a corrupção”.

“É um processo extremamente difícil e penoso porque temos de contar com os mesmos magistrados, quer a nível da procuradoria quer a nível dos juízes”, disse o jornalista para quem “apesar de ter havido mudança de presidente, o MPLA continua o mesmo”.

“As pessoas estão à espera de milagres e que o presidente tenha uma varinha mágica (mas) a sociedade tem que perceber que tem agora uma oportunidade extraordinária para promover e participar, promover uma nova mentalidade e nova ideias que permitam ter um governo diferente”, acrescentou.

“O país não vai mudar apenas porque o presidente mudou”, disse ainda Rafael Marques que rejeitou as acusações de que a luta anti-corrupção tem sido feita apenas contra a família do ex-presidente José Eduardo dos Santos.

“Nas províncias há muitos indivíduos das administrações provinciais que estão na cadeia por peculato” sublinhando. Na sua opinião todos aqueles acusados de crimes de corrupção deveriam imediatamente abandonar todos os cargos públicos que mantêm.

Rafael Marques falou também sobre o alegado envolvimento em corrupção dos generais Kopelipa e Dino afirmando que estes já foram ouvidos pela procuradoria. “Kopelipa tem sido ouvido e pelo que sei tem sido bastante prestável nas suas idas à Procuradoria Geral da República”, disse.

Questionado sobre que conselho daria ao presidente Rafael Marques defendeu a necessidade de mudar a sua política económica e abrir discussōes com todos os setores da sociedade angolana para receber novas ideias de como resolver os problemas do país.

O fundador do Maka Angola criticou os partidos da oposição por não fazerem um combate mais constante e influente para garantir eleições imparciais e justas.

A este respeito mencionou a composição da Comissão Nacional Eleitoral em que os partidos da oposição deveriam ter tido um papel mais ativo para garantir a sua independência. “Temos cinco anos para tratar com vigor as questões (da liberdade e idoneidade das eleições) e isso não é feito”, afirmou. “Só haver’a democracia efectiva com alternância de poder, isso é desejável mas só pode acontecer com muito trabalho”, acrescentou.

Ao longo do programa Rafael Marques negou também acusações de que estaria agora “a soldo do governo” ou seria conselheiro do Presidente da República como tem sido alegado. VOA

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