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Quinta, 20 Agosto 2020 00:01

Rafael Marques considera “distração evitável e corrigível” nomeação da filha do PR

O jornalista e ativista cívico angolano Rafael Marques considerou hoje a nomeação da filha do Presidente angolano para um cargo público como “uma distração evitável e corrigível”, referindo que o processo, que não considerou nepotismo, “é desaconselhável”.

“Primeiro, é preciso esclarecer que não é uma nomeação feita pelo Presidente, aliás a filha de João Lourenço, já antes de ele ser Presidente, exercia uma função no Ministério das Finanças. Mas do ponto de vista da opinião pública seria de todo aconselhável que a ministra das Finanças, responsável pela nomeação, não a fizesse”, disse Rafael Marques em declarações à Lusa.

Para o ativista, que entende que o cargo “não trará mais-valia à Bodiva ou à carreira da filha do Presidente da República angolano”, o ideal era Cristina Dias Lourenço “demitir-se do cargo para salvaguardar a imagem do pai”, João Lourenço.

“O problema resolve-se e ela [Cristina Dias Lourenço] até para salvaguardar a imagem do pai pode apresentar a título pessoal a sua demissão”, defendeu.

Cristina Giovana Dias Lourenço, filha do Presidente angolano, João Lourenço, foi nomeada, em março passado, pela ministra das Finanças para o cargo de administradora executiva da Bolsa de Dívida e Valores de Angola (Bodiva).

No despacho n.º2260/20, de 05 de maio, o Ministério das Finanças confirma a dispensa de Cristina Giovana Dias Lourenço, onde é técnica superior de 2.ª classe, para dirigir os departamentos de Finanças e Património e de Comunicação e Intercâmbio da Bolsa angolana.

O assunto, que surge na sequência de recentes notícias sobre o poder político em Angola publicadas pelo Jornal de Negócios, tem merecido críticas em vários círculos sociais do país por se tratar de “alegado ato de nepotismo”.

Muitos associam a questão aos atos praticados anteriormente pelo ex-Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, que nomeou filhos, como Isabel dos Santos e José Filomeno “Zenu” dos Santos, para cargos públicos.

Mas segundo o ativista e presidente da organização não-governamental (ONG) angolana Ufolo – Centro de Estudos para a Boa Governação, “não se está perante um caso de nepotismo, porque não é de nomeação”.

“Ela [filha do PR angolano] exerce um cargo, como há outros familiares do Presidente que exercem cargos no aparelho público”, notou.

Por isso, frisou: “Não acho que isso fragilize as ações de combate à corrupção e o nepotismo, mas em termos de opinião pública é desaconselhável”.

Rafael Marques admitiu que a questão que considera “evitável e corrigível”, pode “reavivar traumas do passado” em Angola no que diz respeito à nomeação de familiares de dirigentes para cargos públicos.

“Isso pode encorajar governadores e ministros a fazerem o mesmo, a nomearem seus parentes, mas também é preciso lembrar que ela já exercia uma função no Ministério das Finanças e não foi contestada porque era uma função de pouca visibilidade”, salientou.

Questionado se filhos de políticos não deveriam ocupar cargos públicos, Rafael Marques respondeu que as decisões “dependem das circunstâncias”, afirmando, no entanto, que pessoas com carreira na função pública “não devem ser prejudicadas por causa dos seus pais”.

“Mas, penso ser uma distração evitável e isso corrige-se. A Cristina pode dar um grande exemplo de apoio ao pai, apresentando a sua demissão”, realçou.

O jornalista angolano disse ainda existirem muitos setores da sociedade angolana, “inclusive dentro do Governo e do MPLA”, partido no poder, e no exterior do país que “apostam no insucesso” de João Lourenço, “por tocar em muitos interesses instalados nacionais e estrangeiros”.

“Inclusive de muitos interesses portugueses instalados em Angola que estavam habituados aos grandes esquemas de corrupção”, apontou.

E, acrescentou: “As pessoas vão pegar qualquer questão irrelevante, de repente as pessoas descobriram que a Bodiva faz uma grande coisa”.

Quanto aos angolanos “querem mudança”, sendo “fundamental que se aconselhe o Presidente e sua família a evitarem essas distrações”, rematou.

O combate à corrupção tem sido uma bandeira do Governo de João Lourenço, no poder há três anos, mas que é criticado por alguns setores por alegadamente fazer uma escolha seletiva dos alvos da justiça, nomeadamente familiares do seu antecessor, José Eduardo dos Santos.

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