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Quarta, 22 Janeiro 2020 15:19

Luanda Leaks. Rafael Marques quer PGR angolana a investigar facilitadores estrangeiros

O ativista angolano Rafael Marques de Morais defendeu esta quarta-feira que os facilitadores estrangeiros envolvidos na investigação conhecida como 'Luanda Leaks', que expôs os esquemas suspeitos na origem do império de Isabel dos Santos, devem responder perante a justiça angolana.

"Oque nós vemos hoje? As riquezas de Angola, os privilégios em Angola são apenas para uma pequena elite e para os cidadãos estrangeiros, como vemos agora no caso Isabel dos Santos. É uma família e um batalhão de estrangeiros de vários países que vieram ajudá-la a saquear", declarou o também jornalista à margem do Colóquio "Juventude em Ação" promovido pelo Ufolo (Centro de Estudos para a Boa Governação), hoje apresentado em Luanda.

Salientando que o fundamental neste momento é a cooperação judicial, Rafael Marques considerou que a luta anticorrupção não tem sido apenas dirigida a Isabel dos Santos e sua família, já que há várias figuras públicas do MPLA (partido no poder) que foram indiciadas por vários crimes, mas notou que a Procuradoria Geral da República (PGR) de Angola não está a acusar estrangeiros.

"Todos estes dirigentes, generais, ministros e outros pilharam o país com ajuda de muitos estrangeiros. Onde estão esses estrangeiros" questionou, acrescentando que "para que, de facto, as pessoas acreditem mais na justiça angolana temos de começar a ver que os estrangeiros facilitadores do saque de Angola comecem também a ser investigados pelas autoridades angolanas".

Considerou ainda "muito estranho" que "empresas que se dedicaram a pilhar o país", como a Odebrecht (construtora brasileira envolvida no escândalo Lava-Jato) que foi investigada em vários pontos do mundo, não esteja a ser alvo de um processo em Angola.

Tal como "não há um processo contra várias empresas portuguesas que facilitaram o saque em Angola, não há processos contra esses cidadãos estrangeiros", questionou.

Para o ativista, agora que Angola se encontra "numa fase muito avançada de exposição sobre questões de corrupção, que é notícia em todo o mundo", também a PGR deve começar a investigar "os estrangeiros que ajudaram ativamente a saquear este país" para que não sejam sempre os angolanos a pagar a fatura porque não foram os únicos a roubar neste país.

Sobre o facto de outras figuras indiciadas por crimes terem deixado de ser faladas afirmou que para a imprensa portuguesa e internacional "é muito mais 'glamouroso' o caso da Isabel dos Santos" e que "a responsabilidade não é dos angolanos".

Reforçou que a imprensa angolana tem falado de Higino Carneiro (general e deputado do MPLA), Manuel Rabelais (antigo ministro da Comunicação Social) e Vitória de Barros Neto (ex-ministra das Pescas), muitos dos quais já constituídos arguidos e pronunciados, enquanto "na Europa não foi notícia de destaque" a condenação do ex-ministro dos Transportes (Augusto Tomás).

O Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ) revelou no domingo mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de 'Luanda Leaks', que detalham esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, que terão permitido retirar dinheiro do erário público angolano, utilizando paraísos fiscais.

A empresária Isabel dos Santos disse estar a ser vítima de um ataque político orquestrado para a neutralizar e sustentou que as alegações feitas contra si são "completamente infundadas", prometendo "lutar nos tribunais internacionais" para "repor a verdade".

De acordo com a investigação deste conjunto de órgãos de comunicação social, entre os quais o Expresso e a SIC, Isabel dos Santos terá montado um esquema de ocultação que lhe permitiu desviar mais de 100 milhões de dólares (90 milhões de euros) para uma empresa sediada no Dubai e que tinha como única acionista declarada a portuguesa Paula Oliveira, amiga de Isabel dos Santos e administradora da operadora NOS.

Os dados divulgados envolvem também o advogado pessoal da empresária, o português Jorge Brito Pereira (sócio da Uría Menéndez, o escritório de Proença de Carvalho), o presidente do conselho de administração da Efacec, Mário Leite da Silva (CEO da Fidequity, empresa com sede em Lisboa detida por Isabel dos Santos e o seu marido), e Sarju Raikundalia (ex-administrador financeiro da Sonangol).

Segundo os documentos, Isabel dos Santos e Sindika Dokolo têm participações acionistas de empresas e bens, como imobiliários, em países como Angola, Portugal, Reino Unido, Dubai e Mónaco.

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