Em declarações hoje à Lusa, o padre católico deu conta que "maior parte" da província, sul de Angola, está afetada pela seca e "sem qualquer perspetiva" para o início do ano agrícola, "agudizando a carência de comida e água" para o consumo humano e dos animais.
"As perspetivas não são boas, na medida em que, normalmente, a esta altura as lavras estariam já verdes e teríamos já uma noção do que seria o ano agrícola, mas o que está a acontecer este ano é exatamente o contrário", disse.
"É que até agora, temos pessoas que não cultivaram por falta de chuvas", adiantou.
Uma delegação multissetorial chefiada pelo ministro da Administração do Território e Reforma do Estado de Angola, Adão de Almeida, visitou na segunda e terça-feira a capital do Cunene, Ondjiva, para avaliar a situação da seca na região.
Adão de Almeida assumiu que a situação da província "é crítica, desafiante e exige mais pragmatismo", apontando entre as medidas a "reparação e abertura de furos de água" para atender as populações das zonas "mais críticas".
Para o padre Félix Gaudêncio, também presidente da Associação Ame Naame Omuno, de promoção e defesa dos direitos humanos, a abertura de furos de água "é uma alternativa viável mas insuficiente", defendendo também a "construção de 'chimpacas' [reservatórios]" de água.
"Acho que os furos não seriam suficientes, mas poderíamos apostar mais em 'chimpacas', encontrar alternativas que se adaptem à maneira de viver da população, porque um furo que fica a 10 quilómetros para lá as pessoas chegarem é difícil", sublinhou.
O líder da "Ame Naame Omuno", que na língua angolana Kwanyama significa "também sou pessoa", considera que uma outra alternativa para acudir à situação do Cunene seria as autoridades angolanas perceberam a experiência da vizinha República da Namíbia.
Segundo as autoridades, mais de 280.000 pessoas estão afetadas pela seca na província angolana do Cunene.