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Segunda, 19 Março 2018 11:14

Membro do conselho da república sugere retirada voluntária de JES

O jornalista Ismael Mateus considera que José Eduardo dos Santos devia antecipar-se às reuniões do MPLA, agendadas para Abril ou Maio, e renunciar voluntariamente à presidência do partido.

O agora conselheiro da República, que considera este o cenário ideal, afirmou que José Eduardo dos Santos não pode esperar até Dezembro deste ano ou Abril do próximo ano para que o partido decida sobre o seu destino, porque isso deixaria o antigo Presidente da República numa situação mais fragilizada.

Ismael Mateus considera que não existe nenhuma razão plausível para que se mantenha até Dezembro ou Abril na presidência do partido que governa o país. Segundo Ismael Mateus, a manutenção de José Eduardo dos Santos na presidência do MPLA “atrasa as reformas, cria instabilidade e nem sequer o favorece pessoalmente”.

O jornalista aconselha José Eduardo dos Santos a evitar um processo semelhante ao que aconteceu a Jacob Zuma, que foi afastado da Presidência da República no meio de escândalos de corrupção e enfrenta agora a justiça.

Em relação à decisão da última reunião do comité central do MPLA de analisar ainda em Abril ou Maio, e não em Dezembro ou Abril do próximo, a data do congresso extraordinário que vai definir a liderança do partido, Ismael Mateus considera que abre boas perspectivas para a democracia interna.

“As últimas reuniões do comité central têm sido um proforma. Às vezes, as reuniões nem chegam a ‘fazer’ quatro horas. O bureau político e o secretariado do partido levavam tudo cozinhado e o comité central batia palmas. Esses tempos parecem-me que acabaram e o maior órgão do MPLA entre congressos vai assumir as suas responsabilidades”, afirmou. Ismael Mateus defendeu a criação de um estatuto de presidente honorário meramente protocolar e de prestígio para José Eduardo dos Santos, caso a sua saída seja tranquila.

O jornalista considera que José Eduardo dos Santos não está a viver nenhuma oposição interna no partido. “José Eduardo dos Santos é que não percebeu em tempo devido que o “timing” se esgotou”, disse.

“Ele acredita ainda ter um papel a desempenhar na organização do partido e no processo autárquico, quando o que toda a gente quer é que ele deixe os mais novos trazerem novas ideias, novas formas de organização”, afirmou Ismael Mateus, acrescentando que José Eduardo dos Santos representa o passado e o antigo Chefe de Estado ainda não percebeu.

“Isso não se trata de nenhuma oposição ou facções. É uma questão de ciclo esgotado que teima em não encerrar e o ciclo novo que tem de começar”, disse.

Em relação à gestão da comunicação de dentro para fora do partido, Ismael Mateus reconhece que há um esforço grande para retratar os factos ocorridos nas reuniões, mas considera que é preciso manter a unidade e o respeito pelas figuras envolvidas.

“A questão é que se não fornecem pistas suficientes sobre o que acontece as versões que correm nas redes sociais tornam-se credíveis”, disse Ismael Mateus.

Posições opostas

O docente universitário considera que a ideia de bicefalia, utilizada como argumento à saída de José Eduardo dos Santos da presidência do MPLA, "não passa de intenção de alguns grupos que pretendem criar um espaço para o Presidente João Lourenço assumir as rédeas do partido e, em consequência disso, fazer com que José Eduardo dos Santos cesse o seu mandato como presidente do MPLA, realidade que, na opinião dessas pessoas, vai permitir haver uma harmonia no partido.

Tentar resolver a questão da suposta bicefalia, argumentou, poderá fragilizar o partido porque o mesmo está, neste momento, numa situação muito boa, em que, basicamente, se vê o poder partilhado entre José Eduardo dos Santos, que encabeça o partido político, e João Lourenço, que encabeça o Estado.

Lindo Bernardo Tito, da CASA-CE, corrobora com Albano Pedro acerca da questão da bicefalia. O político disse não haver este problema no país. “Do ponto de vista do Estado angolano, não existe bicefalia. Não há uma outra figura que partilha os poderes com o Presidente da República. Agora, se o há dentro do MPLA, é um assunto que eles devem resolver”, afirmou.

O político da coligação CASA-CE referiu que nas grandes democracias há separação entre o Presidente da República e do partido. O modelo de concentração de poder não ajuda a consolidação da democracia. JA

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