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Terça, 26 Novembro 2013 14:09

CASA-CE pode abandonar o parlamento Angolano

O segundo maior partido da oposição em Angola, a coligação eleitoral Convergência Ampla de Salvação de Angola (CASA-CE), vai debater se vale a pena ou não continuar no Parlamento, anunciou hoje, em Luanda, o seu líder.

Abel Chivukuvuku falava em conferência de imprensa para apresentar a versão do partido sobre os acontecimentos dos últimos dias em Luanda, dos quais resultou a morte de um dos seus dirigentes por efetivos da guarda presidencial, e para dar a conhecer o programa das cerimónias fúnebres marcadas para quarta-feira.

Abel Chivukuvuku anunciou que os restos mortais do dirigente Manuel Hilberto Ganga vão sair, de manhã, do quartel-general dos bombeiros, em marcha apeada até ao cemitério, para a qual convidou todos os que queiram participar no que designou de "evento já comunicado às autoridades civis e policiais".

Manuel Hilberto Ganga, dirigente da Convergência Ampla de Salvação de Angola (CASA-CE), foi abatido com um tiro, no sábado (23.11), em Luanda, por um elemento da Guarda Presidencial.

Segundo o porta-voz do Comando Geral da Polícia Nacional angolana, Aristófanes dos Santos, o grupo, do qual Ganga fazia parte "foi detido quando procedia à afixação indevida de cartazes de propaganda subversiva de caráter ofensivo e injurioso ao Estado e aos seus dirigentes, tendo os mesmos sido prontamente neutralizados por uma patrulha da Guarnição do Palácio Presidencial, resultando na sua detenção".

O comunicado de imprensa divulgado por Aristófanes dos Santos refere ainda que o jovem dirigente da CASA-CE foi morto com tiro quando se tentou pôr em fuga.

Quase 300 pessoas foram detidas, em várias províncias angolanas, por participarem em manifestação (23.11) proibida pelas autoridades

Citando um dos restantes sete elementos que estiveram também detidos, António Baião, a CASA-CE alega que foram disparados dois tiros e não um, como afirma a polícia.

A principal questão que se põe, neste momento, é: quem deve ser responsabilizado pela morte de Manuel Hilberto Ganga, dirigente da oposição, que foi abatido por um elemento da Guarda Presidencial?

A DW África fez esta e outras perguntas a Adolfo Campos, membro do Movimento Revolucionário, que foi também um dos detidos, em Luanda, e participou na distribuição e afixação de panfletos que era feita por membros da CASA-CE, ao lado do falecido Manuel Hilberto Ganga.

DW África: Na sua opinião, de onde veio a ordem para disparar sobre Manuel Hilberto Ganga?

Adolfo Campos (AC): O elemento da Guarda do Presidente da República obviamente não fez aquilo porque quis fazer, obviamente que havia algum mandato prévio sobre o que fazer com os manifestantes ou com as pessoas que estavam a colar os cartazes.

DW África: Depois da morte de mais um jovem manifestante, como descreve o ambiente que se vive em Angola neste momento?

AC: Angola encontra-se numa situação muito crítica neste momento. O povo angolano está muito furioso, com uma dor enorme com a situação que está a decorrer porque temos um Governo em que não podemos confiar. Não entendemos por que é que a tropa do Presidente é uma tropa privada, é uma tropa dele, pessoal. O Presidente da República perdeu o controlo da situação, uma situação onde ele quer ser tudo, mandar em tudo e fazer tudo.

DW África: A Polícia Nacional admitiu que Manuel Hilberto Ganga foi baleado por um membro da Guarda Presidencial, mas alega que o jovem se tentou pôr em fuga após ter invadido o perímetro do espaço reservado ao Presidente.

AC: Isso é pura mentira! Simplesmente querem limpar a imagem do Presidente da República. Não tem como alguém entrar no perímetro do Presidente para pôr um cartaz. Isto é uma pura mentira. A história verídica é que o jovem estava a colocar o panfleto na área dos coqueiros, que está muito fora do perímetro do Presidente da República. Pelo que, quem apanhou esse jovem foi porque foi mandado para fazer limpeza, para recolher todo o pessoal que estivesse a pôr os cartazes. Inclusive, recolheram-me a mim e não estava no lado da casa presidencial. Estava no aeroporto e fui também recolhido.

Recolheram essas pessoas, que eram o grupo do Ganga, e meteram-nas no carro. Dentro do carro, conforme as informações que tivemos das pessoas que lá estavam presentes, receberam muitas ameaças, [por exemplo] que iam ser mortos, fizeram um terror dentro do carro.

Assim que o guarda presidencial saiu para abrir o portão, então o Ganga viu que aquela era a única possibilidade de sair para poder sobreviver. Então saltou do carro e pôs-se em fuga e foi nesse momento que o alvejaram diretamente. Agora a pergunta é: porque é que dispararam? Obviamente que havia um mandato para disparar contra as pessoas, para matar as pessoas que estavam a pôr os panfletos.

DW África: Já foi identificado o homem que disparou sobre Manuel Hilberto Ganga?

AC: Só se sabe que quem matou é um membro da segurança do Presidente da República. Obviamente cabe agora à polícia apresentar essa pessoa, quem matou e quem mandou matar, porque nós não só queremos [saber] quem matou mas quem mandou matar. Depois do enterro, nós vamos pedir todos esses dados.

DW África: Como reagiram os colegas, amigos, a vizinhança, o povo em geral a esta morte?

AC: O povo está assustado, nem sabe o que vai fazer neste momento. Estamos todos assutados porque estamos todos inseguros no país, a qualquer hora isto pode desabar. Estamos todos em fúria, com muita dor e sem saber o que fazer. Todas as manifestações que temos feito, desde 17 de março, tanto nós como o Movimento Revolucionário, são sempre pacíficas. E, neste momento, em Angola encontramo-nos num clima de terror.

DW África: E é neste clima que se vai realizar, na quarta-feira (27.11), o enterro do jovem Manuel Hilberto Ganga. Como vai ser?

AC: Esperamos que seja o enterro se realize em paz. Esperamos que eles [forças de segurança] não façam nada de mal até porque já começaram a aterrorizar as pessoas. E isto só nos leva a dar a conhecer à comunidade internacional que, neste momento, estamos sob vigília do SINFO [Serviços de Informação]. O SINFO está agora a aterrorizar a vida de cada pessoa que se manifesta por qualquer coisa neste país.

DW.DE

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