“Seja qual for o critério utilizado, quando se fala nas relações entre a China e África, Angola está geralmente entre os primeiros lugares, se não mesmo no topo”, apontou o analista Ovigwe Eguegu, da consultora Development Reimagined, com sede em Pequim.
Durante o período da luta anticolonial, a China apoiou os movimentos de libertação em Angola (incluindo o MPLA, a UNITA e a FNLA), a nível político, formação militar e fornecimento de armas, mas não reconheceu imediatamente o Governo do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) após este ter assumido o poder em 1975, apoiado pela União Soviética.
Pequim reconheceu oficialmente a República Popular de Angola em 12 de janeiro de 1983, mais de sete anos após a proclamação da independência. Em 11 de novembro de 1975, o MPLA proclamou, em Luanda, a independência do país, após 14 anos de luta armada. Seguiu-se uma guerra civil que só terminaria em 2002, deixando Angola devastada.
A República Popular da China foi um dos primeiros países a reconhecer o novo Estado angolano e manteve, ao longo das décadas, relações diplomáticas com todos os principais atores políticos, incluindo a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), rival do MPLA. Com o fim do conflito armado, Angola converteu-se num destino prioritário para a política chinesa em África.
A partir de 2004, Luanda recorreu a linhas de crédito chinesas garantidas por petróleo para financiar a reconstrução nacional. Pequim forneceu financiamento, mão-de-obra e empresas estatais para erguer estradas, hospitais, habitação e linhas de caminho-de-ferro.
O modelo de cooperação adotado entre Luanda e Pequim ficou conhecido entre analistas como o “Modelo Angola”: um esquema de financiamento em que linhas de crédito chinesas, garantidas por petróleo, eram canalizadas para grandes projetos de reconstrução executados por empresas chinesas, tornando-se um paradigma replicado por Pequim noutros países africanos, como a Nigéria, a República Democrática do Congo e o Sudão.
Segundo dados oficiais chineses, o comércio bilateral ultrapassou os 20,88 mil milhões de dólares (18,08 mil milhões de euros) em 2024.
No entanto, a estratégia que aproximou os dois países nas últimas décadas está a enfraquecer, à medida que a China começou a importar menos petróleo de Angola e de outras nações africanas, preferindo fornecedores da Rússia, Golfo Pérsico e Ásia.
Equipamentos obsoletos e campos em declínio tornam os produtores africanos, incluindo Angola, menos fiáveis como exportadores, segundo investigadores do grupo de reflexão Carnegie Endowment for International Peace.
Apesar de a China continuar a ser o principal destino das exportações de Angola e de outras nações do continente, África representa, no seu conjunto, menos de 5% das importações chinesas, segundo os mesmos investigadores.
“O caso de Angola é particularmente revelador”, escreveram os autores num relatório recente sobre a evolução das relações da China com os países africanos. Em 2010, Angola era o segundo maior fornecedor de petróleo à China, atrás apenas da Arábia Saudita.
Em 2023, caiu para o oitavo lugar. Entre 2019 e 2023, as exportações angolanas para a China caíram 20%, de acordo com o relatório da Carnegie. A China continua a absorver cerca de 72% das exportações de petróleo de Angola, sendo o seu maior comprador.
Mas a quebra nas exportações está a pressionar a capacidade do país para cumprir os pagamentos da dívida à China. Desde 2002, Angola contraiu mais de 45 mil milhões de dólares (39 mil milhões de euros) em empréstimos chineses, segundo dados da Universidade de Boston. A dívida angolana à China representava já cerca de 40% do total da dívida externa do país em 2022, segundo o Ministério das Finanças de Angola.
Apesar dos desafios, Angola continua a ser um dos pilares da presença chinesa em África. A construção do Centro de Convenções de Talatona, do novo aeroporto internacional de Luanda ou do projeto agroindustrial de Longa são exemplos recentes da continuidade do envolvimento chinês.
“A China apoia firmemente o povo angolano no seu caminho de desenvolvimento independente”, lê-se numa declaração conjunta, emitida em junho passado, após um encontro entre os chefes da diplomacia dos dois países.
Pequim e Luanda “rejeitam resolutamente a lei da selva, opõem-se ao hegemonismo, à política do poder e a todas as formas de unilateralismo e protecionismo, contribuindo para a promoção da paz duradoura e desenvolvimento do mundo”, acrescenta-se na mesma nota.
A nível político, os dois países têm mantido um diálogo no quadro do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC), e Angola é membro fundador do Fórum Macau, mecanismo de cooperação entre a China e os países de língua portuguesa.

