Segunda, 20 de Janeiro de 2025
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Sábado, 30 Novembro 2024 13:12

Capacidade de adaptação do MPLA é condição de sobrevivência - Jaime Nogueira Pinto

O politólogo e historiador Jaime Nogueira Pinto considera que o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, partido no poder desde a independência em 1975), teve sempre “capacidade de adaptação” à realidade para além da ideologia.

“No dilema ideologia e razão de Estado, que é aquele que os governantes enfrentam na política externa, eles foram capazes de sobreviver por essa capacidade de adaptação”, considera Jaime Nogueira Pinto, em declarações à Lusa a propósito da visita que o Presidente cessante dos EUA, Joe Biden, efetua de 02 a 04 deste mês a Angola.

Essa “capacidade de adaptação” resultou das condições dos primeiros anos de independência, defende. “Eles alinhavam na Guerra Fria com os soviéticos, mas dependiam das ‘royalties’ americanas do petróleo que nunca deixaram de vir, apesar de, a partir de 1984, a Administração Reagan apoiar com dinheiro e armas a UNITA de Jonas Savimbi.

Claro que aqui, para além desse dilema – ideologia e razão de Estado – há a defesa da permanência no poder, onde existe, claro, oportunismo político”, destaca. Jaime Nogueira Pinto sustenta que uma potência regional com as caraterísticas e os recursos de Angola “pode, perfeitamente, equilibrar dependências e alianças”.

“Até porque, curiosamente, as grandes potências do momento – Estados Unidos e China – não querem e não estão em condições de exigir a ninguém fidelidades absolutas”, frisa. Instado a comentar como será o relacionamento dos Estados Unidos com África, com o regresso de Donald Trump à Casa Branca a partir de 20 de janeiro de 2025, Jaime Nogueira Pinto não antevê grandes diferenças relativamente ao que a administração cessante de Joe Biden fez.

“Não creio que, no que respeita a África, tenha grandes variantes ou alternativas. Essa ideia de que Trump vai deixar o mundo à deriva faz parte da argumentação dos democratas”, responde. Relativamente ao papel de Angola como potência regional, Jaime Nogueira Pinto acredita que o país tem condições para reivindicar esse estatuto e vê nesse particular um dos motivos para o Presidente cessante Joe Biden encetar uma deslocação a pouco mais de mês e meio de deixar a Casa Branca.

“Esse papel de potência regional e a existência de condições para o realizar é um feito de facto e penso que é também a consciência desse potencial e a ideia de o aproveitar que leva a Administração Biden, neste final, a empreender uma visita em vários aspetos tão singular”, comenta.

Joe Biden visita Angola de 02 a 04 deste mês, concretizando a deslocação que chegou a estar inicialmente agendada para outubro mas que o Presidente cessante norte-americano adiou para supervisionar a passagem do furacão Milton pelos Estados Unidos.

No passado dia 26 de novembro, num ‘briefing’ à imprensa sobre as prioridades da visita de Biden, a assistente especial do Presidente e diretora de Assuntos Africanos no Conselho de Segurança Nacional norte-americano, Frances Brown, salientou que o líder norte-americano vai reunir-se bilateralmente com o Presidente angolano, João Lourenço, para aprofundarem as conversas sobre infraestrutura, clima, paz e segurança, democracia e objetivos económicos compartilhados.

Em 2023, o comércio entre Estados Unidos e Angola totalizou aproximadamente 1,77 mil milhões de dólares (1,69 mil milhões de euros), o que tornou Angola no quarto maior parceiro comercial de Washington na África Subsaariana.

"Vemos Angola como um parceiro estratégico e um líder regional. O nosso relacionamento com Angola transformou-se completamente nos últimos 30 anos, e essa transformação ganhou ritmo nos últimos três anos", assinalou Frances Brown.

Nesse sentido, a diretora de Assuntos Africanos resumiu a viagem de Biden a Angola a três objetivos: "elevar a liderança dos EUA em comércio, investimento e infraestrutura em África"; destacar a "liderança regional e a parceria global de Angola num espetro completo de questões urgentes, incluindo comércio, segurança e saúde"; e, por último, destacar a "notável evolução do relacionamento EUA-Angola".

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