José Gama falava durante uma mesa-redonda virtual sobre a "Contestação pós-eleitoral em Moçambique", organizada pela Friends of Angola, organização não-governamental internacional centrada na defesa dos direitos humanos, democracia, promoção da transparência e boa governação em Angola.
Segundo José Gama, ao observar a situação em Moçambique, o Governo angolano está ciente de que “isto também vai se repetir em Angola". "Porque todo o angolano vai dizer amanhã ‘se os moçambicanos conseguiram enfrentar a Frelimo, porque é que não conseguimos enfrentar o MPLA?’ e vão até às últimas consequências”, referiu.
Para o jornalista, se os resultados definitivos das eleições de 09 de outubro em Moçambique ditarem a queda do regime da Frelimo, em 2027, ano das eleições gerais em Angola, o MPLA "fica automaticamente ameaçado, em termos da sua permanência no poder e da sua integridade”.
Na sessão, moderada pelo diretor executivo da Friends of Angola, Florindo Chivucute, participou também o pesquisador moçambicano Borges Nhamirre, que manifestou preocupação com a situação por que estão a passar os jornalistas no seu país e com a falta de pronunciamento das instituições, permitindo um sentimento de impunidade.
Na opinião do pesquisador, quando um militar da guarda presidencial arranca o telemóvel da mão de uma jornalista, como aconteceu em Moçambique, sem consequências, isto torna-se “um paraíso de abuso ao direito dos jornalistas”.
“O futuro é assustador para os moçambicanos que trabalham nesta área, o ambiente está cada vez mais hostil para a classe”, disse Borges Nhamirre, consultor no Instituto de Estudos de Segurança.
Para Borges Nhamirre, se os moçambicanos desistirem do que já fizeram até agora “a democracia vai despenhar-se, pode queimar-se e acabar-se”.
“Se for confirmado os 70% da Frelimo, [o Governo] vai ser mais duro, vai aprovar leis que vão proibir manifestações como essas, eventualmente vão criminalizar alguns partidos políticos, há de acontecer coisas que estão a acontecer em Angola agora, como a lei contra o vandalismo, destruição de bens públicos, que em Moçambique não existe.
A repressão vai ser maior”, disse. A jornalista angolana Geralda Embalo considerou que a postura intimidatória aos jornalistas, sobretudo desde que começaram as manifestações, visa calar a comunicação social.
“Esta intimidação dos jornalistas, esta mensagem de nós vamos vos atacar se vocês estiverem a fazer o vosso trabalho, é claramente passada para os jornalistas que estão no terreno”, salientou.
Moçambique atravessa uma crise pós-eleitoral, com a realização de manifestações de rua, das quais já resultaram dezenas de mortos, convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane.
Venâncio Mondlane contesta a atribuição da vitória a Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), com 70,67% dos votos, segundo os resultados anunciados em 24 de outubro pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) e que ainda têm de ser validados pelo Conselho Constitucional.