Em declarações à agência Lusa, o analista referiu que Cabinda é parte integrante de Angola, “mas sabe-se que existem algumas forças a nível de Cabinda que vão defendendo a necessidade da independência”.
A Frente de Libertação do Estado de Cabinda — Forças Armadas Cabindesas (FLEC-FAC) é o rosto visível desta reivindicação, alegando que o enclave era um protetorado português – tal como ficou estabelecido no Tratado de Simulambuco, assinado em 1885 – e não parte integrante do território angolano.
Para Tiago Armando, Cabinda “é um dossier que requer estudo, análise e, ao mesmo tempo, resposta do Governo angolano”.
“Porque isto não é de hoje, vamos sempre ouvindo esta situação, daí que o próprio Estado deve fazer uma análise e dar resposta em torno disso”, referiu o académico, salientando que esta resposta deverá depender da avaliação do contexto.
“Se é de ameaça militar, logo, a resposta vai ser militar, se não for militar, logo, também a resposta não será militar”, afirmou.
O silêncio do Governo angolano sobre o que se passa naquela parcela do território angolano “não é um sinal positivo”, disse, considerando que face às informações de ataques a Cabinda, “deve haver um esclarecimento sobre o que de facto se passa”.
“Se são mesmo FLEC, se são alguns insurgentes, que tendem a ter controlo de determinadas zonas, só o Estado pode nos dizer isso, então isso requer uma análise, o perfil dos indivíduos, grupos, para termos uma comunicação oficial”, disse.
Segundo o investigador, estas forças tendem a enveredar por práticas violentas, mas Tiago Armando questionou também “se de facto” as ações que a FLEC reivindica são mesmo suas ou de grupos de indivíduos com interesses económicos naquela região.
“Muitas vezes nós ficamos à mercê da informação que surge nas redes sociais e o que nós esperamos, para que tenhamos mais detalhes, são eventuais informações oficiais do Governo de Angola”, acrescentou.
“Se realmente são indivíduos da FLEC ou grupos com interesses económicos que querem ter controlo de uma determinada zona com recursos naturais, que querem explorar de forma ilegal, volta e meia esses indivíduos praticam atos de terrorismo ou de violência para criar pânico e também para se fazerem conhecer”, salientou.
O território de Cabinda é rico em petróleo, de onde provém a maior parte da produção angolana, madeiras, ouro, diamantes, urânio e fosfatos.
Para Tiago Armando, é necessário que, do ponto de vista de segurança nacional, se consiga identificar “as várias variáveis que desencadeiam estas situações e dar uma resposta eficaz”.
A permeabilidade da fronteira comum, prosseguiu o especialista em relações internacionais, gera troca de acusações sobre a invasão de território entre Angola e a vizinha República Democrática do Congo (RDCongo).
De acordo com o analista, esta porosidade da fronteira facilita igualmente a fuga dos elementos que combatem em Cabinda, que “facilmente conseguem atravessar para o outro lado”, violando as fronteiras.
“Muitas vezes a resposta é muito violenta e envolve perda de vidas humanas e surge as trocas de acusações de invasão de território. É um dossier que requer estudo, análise e ao mesmo tempo resposta do Governo angolano”, vincou.
Na semana passada, a FLEC divulgou que efetuou um ataque contra um pelotão das Forças Armadas Angolanas, afirmando ter matado 12 soldados angolanos e ferido gravemente quatro, e que as FAC vão intensificar os ataques “contra os soldados angolanos em todo o território de Cabinda”.
No comunicado da FLEC, assinado pelo tenente-general João Cruz Mavinga Lúcife, chefe da direção das Forças Especiais das FAC, garante-se que o lado angolano “é o único responsável pelo agravamento do conflito” naquela região.
O Governo angolano não responde a estes comunicados da FLEC sobre os ataques e o número de mortos.