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Terça, 14 Novembro 2023 18:11

EUA, o inesperado trunfo de João Lourenço

A invasão da Ucrânia pela Rússia fez mexer o xadrez diplomático em todo o mundo. No continente africano, João Lourenço é por estes dias um aliado de Washington e essa circunstância garante-lhe um maior peso político.

A invasão da Ucrânia pela Rússia, a 24 de fevereiro do ano passado, foi uma circunstância geopolítica que trouxe uma inesperada vantagem ao Presidente de Angola no seu relacionamento com os Estados Unidos. João Lourenço, por estes dias, é considerado uma peça essencial no xadrez da diplomacia norte-americana no continente africano. Lourenço afastou Angola do círculo de países tidos como afetos a Moscovo e goza de influência junto dos seus pares, sobretudo da África Ocidental, o que pode permitir a mudanças de opinião nos organismos multilaterais, em especial nas Nações Unidas.

Angola sempre foi pragmática na gestão das suas relações externas e mesmo quando esteve mais próxima do denominado Bloco de Leste, nunca hostilizou as petrolíferas norte-americanas, por exemplo, a Chevron que está no país desde antes da independência, em 1975, e continuou por lá depois disso. Prova disso é que, segundo consta, foi graças a tecnologia israelita que as forças armadas angolanas conseguiram detetar o então líder da UNITA, Jonas Savimbi, matando-o a 22 de fevereiro de 2002.

As ligações a Israel mantêm-se fortes. Não por acaso, a última entrevista de José Eduardo dos Santos foi concedida a um jornalista da SIC que é correspondente em Israel, Henrique Cymerman, e não é igualmente circunstância a decisão tomada este mês por João Lourenço de aprovar um empréstimo de 2,5 mil milhões de euros com a Luminar Finance Limited, empresa ligada ao grupo israelita Mitrelli, para financiamento de infraestruturas públicas. Os lóbis israelitas em Washington são fortíssimos e ajudam a que Angola ganhe peso junto da administração de Joe Biden.

João Lourenço tem sido pressionado pela UNITA, mas também por rivais no interior do seu partido, o MPLA.

EUA privilegiam a previsibilidade

Agora, esta proximidade ganhou uma dimensão política e constitui um trunfo para João Lourenço, sendo que inversamente representa um problema, tanto para a oposição, que se agrega à volta da UNITA, como para seus adversários no interior do MPLA. Esta conjuntura significa que os Estados Unidos irão estar ao lado do atual líder angolano em nome da previsibilidade e de um apoio que reputam como importante no quadro das nações africanas.

Neste momento, João Lourenço vive uma situação interna periclitante, sobretudo por causa dos efeitos da desvalorização do poder de compra dos angolanos devido à queda do kwanza, mas possui trunfos diplomáticos que compensam essa debilidade, pelo menos no campo do jogo político.

Neste cenário, a hipótese de João Lourenço conseguir engendrar uma forma de se manter no poder para lá de 2027, ano em que terminará o seu mandato, ganha robustez. E os Estados Unidos nada irão fazer para obstacularizar esta possibilidade pela razão cínica de que sabem que podem contar com o atual líder angolano e preferem o que já conhecem a terem que arriscar no desconhecido. É também por isso que tanto a UNITA, liderada por Adalberto da Costa Júnior, como os rivais de João Lourenço no MPLA, se têm desdobrado em ações, públicas ou de bastidores, que o visam fragilizar.

Num outro plano, a China tem intensificado movimentações e promovido encontros para debater a sua relação com Angola, sinal de que está desconfortável com esta nova arquitetura onde João Lourenço procura contabilizar Washington com Pequim. Jornal de Negócios

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