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Sábado, 24 Junho 2023 14:11

Especialista critica MPLA pela “narrativa de agenda oculta” da UNITA em manifestações de cidadãos

Um especialista angolano em assuntos eleitorais criticou hoje a “narrativa do MPLA”, no poder, de que as manifestações públicas dos cidadãos sejam uma “agenda oculta” da UNITA (oposição), considerando que as autoridades administrativas transformaram a polícia numa “instituição anti-manifestação”.

“O que acontece é que há uma narrativa, um aproveitamento político do MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola, no poder desde 1975], enquanto instituição governante, que a manifestação dos cidadãos reivindicando questões públicas é sempre uma agenda oculta que por detrás está o partido da oposição UNITA e inclusive o Presidente da República ter reiterado que é para desestabilizar a ordem democrática, a tal agenda oculta”, disse Luís Jimbo à Lusa.

Falando sobre a manifestação nacional de sábado passado, onde em Luanda os manifestantes foram reprimidos pela polícia, tendo esta acusado a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) de promover distúrbios, Jimbo considera que as referidas acusações não fazem qualquer sentido, sobretudo para os cidadãos.

Isso não está a fazer sentido para os cidadãos, principalmente na zona urbana, e isto é que fez com que o MPLA, por exemplo, em Luanda, tivesse perdido uma grande base do seu eleitorado”, referiu, aludindo aos resultados eleitorais de agosto de 2022.

Porque não faz sentido, hoje o cidadão está mais consciente, é mais livre, tem mais informação, demos muitos progressos nos direitos fundamentais e liberdades de expressão, o cidadão está consciente em estar na rua de forma livre”, frisou.

Para o diretor executivo do Instituto Angolano de Sistemas Eleitorais e Democracia (IASED), quando o cidadão escuta “a narrativa do MPLA” de que este está na rua por motivação partidária da UNITA, tem um “sentimento de frustração” e não acredita que as autoridades estejam "interessadas em resolver o problema”.

A manifestação de sábado passado, promovida por ativistas e membros da sociedade civil, foi dispersada pela polícia, em Luanda, tendo a polícia acusado a UNITA de ter organizado o protesto, por registar a presença de dirigentes e deputados dos 'maninhos' no ato.

Detenções e feridos foram alguns dos resultados dos protestos de Luanda, enquanto protestos anteriores contra a subida do combustível na província angolana do Huambo fizeram, pelo menos, cinco mortos.

As acusações foram rejeitadas pela UNITA, considerando que o MPLA está a criar um “bode expiatório” para fugir à essência das manifestações, um assunto discutido esta quinta-feira pelo parlamento angolano.

Luís Jimbo criticou também o MPLA e o Governo por “não responderem” aos clamores dos cidadãos, que “gritam por qualidade de vida e redução do preço da cesta básica”, e transformam a UNITA no “seu alvo”.

Perante um problema público, perante o gritar do cidadão reclamando qualidade de vida, redução do preço da cesta básica, o MPLA e o Governo não respondem ao cidadão, respondem à UNITA”, apontou.

Com esta mensagem que o partido no poder passa, salientou, o cidadão, os grupos de pressão e as organizações não-governamentais que realizam manifestações “são empurrados a serem solidários com a UNITA”.

O diretor executivo do IASED reprovou igualmente a reação da polícia, considerando que “foi uma deceção muito grande” ter envolvido a UNITA na organização das manifestações.

Lamentou mesmo que a polícia “seja apenas republicana” em atos públicos dos partidos MPLA e UNITA, quer em marchas ou ações de mobilização política, onde participa para garantir o exercício pleno dos partidos, mas “impede” manifestações de cidadãos.

Recordou que a UNITA realizou há semanas uma manifestação em Luanda, onde “não houve incidentes, em que polícia participou de forma republicana”, questionado os impedimentos quando a iniciativa vem de cidadãos.

“Parece que estamos num país onde o respeito já não é a cidadania, os governantes, os políticos, não estão interessados no bem-estar das pessoas, mas no bem-estar os partidos políticos? Quer dizer, todos nós devemos ser de partidos políticos para nos sentirmos pessoas e sermos respeitados?”, questionou.

Este especialista disse ainda que as autoridades administrativas, sobretudo dos governos provinciais, transformaram a comunicação dos cidadãos sobre a realização de manifestações num “verdadeiro mecanismo de negação”.

Isto transformou a polícia numa instituição anti-manifestação e sai para a rua para impedir com que esse exercício de liberdade fundamental seja exercido à luz da comunicação que recebeu da administração, ao invés de ir à rua para garantir o exercício livre e pacifico do cidadão”, criticou.

Jimbo referiu-se também sobre a participação de deputados e/ou entidades governamentais em manifestações, considerando que estes têm esse direito, para responderem às inquietações dos cidadãos.

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