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Segunda, 05 Junho 2023 14:04

Ex-conselheiro de João Lourenço crítica "subida brusca" do combustível que tem "efeitos gravosos"

O engenheiro agrónomo angolano Fernando Pacheco criticou hoje a "subida brusca de quase 100%" do preço da gasolina no país, que tem "efeitos gravosos" na vida das pessoas, na inflação e na confiança ao Governo, defendendo "aumento gradual".

"Era inevitável (a subida) como toda a gente dizia, mas deveria acontecer gradualmente, já a última subida foi muito brusca e agora acontece outra subida brusca de quase 100%, isto não pode acontecer, não me parece que seja correto fazer este tipo de aumentos bruscos", disse hoje Fernando Pacheco à Lusa.

Para o conhecido agrónomo angolano, o aumento do preço dos combustíveis tem efeitos "muito gravosos na vida das pessoas, na confiança que as pessoas têm no governo e claro na inflação, que era uma bandeira do governo com o nível mais baixo dos últimos tempos".

"Mas, que agora possivelmente vai haver um retrocesso (da inflação) e isso, mais uma vez, vai retirar a confiança dos cidadãos, que já é pouco, sabemos que isso está já a trazer bastante insatisfação, algumas manifestações por parte dos cidadãos", frisou.

O clima de insatisfação dos cidadãos, em consequência do aumento do preço do combustível, assinalou "em nada contribui para o clima de paz e concórdia que me parece que é fundamental nesta altura no país".

"Não é errado aumentar o preço dos combustíveis, na perspetiva de se diminuir os subsídios que é muito elevado e penaliza muito o erário, mas o que é errado é a forma como está a acontecer esse aumento", observou Fernando Pacheco.

Desde sexta-feira passada que o litro de gasolina em Angola passou a custar 300 kwanzas (0,48 euros) contra os anteriores 160 kwanzas (0,25 euros), com os cidadãos a recearem ao aumento dos preços dos produtos da cesta básica.

O Governo angolano anunciou na quinta-feira passada a retirada gradual de subsídios à gasolina, mantendo a subvenção ao setor agrícola e à pesca.

De acordo com o ministro de Estado para a Coordenação Económica de Angola, Manuel Nunes Júnior, as tarifas dos taxistas e mototaxistas vão ser subvencionadas, continuando os mesmos a pagar 160 kwanzas o litro de gasolina, cobrindo o Estado a diferença.

Em relação aos subsídios atribuídos aos taxistas, mototáxistas e ao setor produtivo, o também ex-conselheiro do Presidente angolano, João Lourenço, referiu que a medida "poderia ser correta se o nosso país estivesse organizado".

"O nosso país não está organizado, não acredito que isto vá funcionar", atirou, acreditando em "esquemas" por parte dos beneficiários da subvenção estatal.

Porque a reação dos cidadãos "é logo pensar que as pessoas que vão se beneficiar dos subsídios vão tentar encontrar esquemas para abastecer e revenderem ao preço normal ou até superior, essa é a ideia que perpassa por toda a sociedade e acredito que isso vai acontecer", disse.

Pacheco considerou ainda que Angola precisa "fundamentalmente de se organizar, em termos das instituições", para que outras medidas possam ser tomadas.

"Enquanto isso não acontecer, nós vamos viver esta situação de instabilidade", rematou o agrónomo, que é igualmente membro do Observatório Político e Social de Angola (OPSA).

Em 2022, a subvenção aos preços dos combustíveis ascendeu cerca de 1,98 bilhões de kwanzas, o correspondente ao câmbio atual a 3,8 mil milhões de dólares (3,5 mil milhões de euros).

O Governo angolano vai liberalizar os preços dos combustíveis, de forma faseada, até 2025, começando pela remoção parcial dos subsídios à gasolina, cujo preço será "livre e flutuante" já no próximo ano, anunciaram as autoridades.

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