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Quinta, 07 Janeiro 2021 18:11

Joana Tomás: ‘Não é verdade que caímos aqui (Na OMA) do nada’

A pouco menos de três meses para a sua eleição ao cargo de secretária-geral da Organização da Mulher Angolana (OMA), Joana Tomás abre-se em entrevista a OPAIS para falar da luta contra a violência doméstica, que não é nova, mas que, a partir de Março, merecerá uma atenção especial, quando estiver sob a liderança do órgão feminino do seu partido, o MPLA.

Disse ser preciso insistir na luta contra este mal por constituir um dos principais entraves ao desenvolvimento da sociedade

A olhar paras as políticas públicas no domínio da legislação que, no âmbito dos normativos legais, penaliza e responsabiliza a violência doméstica, que é tipificada como crime, Joana Tomás aponta a necessidade de educação permanente da sociedade como saída para a diminuição ou, até mesmo, a erradicação desta prática.

A luta, frisou, não é olhar pelo sexo, classe social ou orientação política. É, explicou, necessário o envolvimento de todos na causa a julgar pelos números alarmantes que a violência doméstica soma com toda a velocidade e sob olhar das próprias famílias, vizinhos e de parte da sociedade que foram, desde cedo, educados que “no problema de marido e mulher não se põe a colher”.

É preciso, apontou, a insistência na desconstrução desta narrativa que, durante anos, matou centenas de mulheres e também homens, porque as testemunhas da violência doméstica compreendiam que é um caso que devia estar abafado entre quatro paredes.

No entanto, no princípio da conversa com O PAÍS, como ponto de partida, Joana Tomás começou por dizer que não é contra os homens. Aliás, frisou, há marido, filhos, irmãos e outros homens que, no dia-dia, se cruzam nas ruas, no serviço, nas estradas, supermercados e noutros pontos da agitada vida.

Disse ser contra os que desrespeitam o direito das mulheres e dos homens. Conforme explicou, dentro do seu programa de acção, a ser executado a partir de Março, na sequência do VII Congresso da OMA, o foco da luta pela educação e sensibilização centrar-se-á no grupo e segmento de pessoas que, apesar de todos os apelos, continuam a resolver os diferendos domésticos com base em ataques físicos e psicológicos, aumentando, assim, a estatística da violência.

Essa mesma violência, frisou, que, quando não mata, deixa rastos e marcas para a toda a vida, como a desestruturação familiar, sequelas psicológicas, ferimentos e outros males que remetem a sociedade para um claro retrocesso.

Joana Tomás, que é candidata única à liderança da organização feminina do MPLA, disse que todos os dias devem ser dias para a chamada de atenção sobre a necessidade de mudanças de atitudes no seio das famílias que, esclareceu, constituem as bases da sociedade para as quais se destinam todas as políticas públicas do Estado.

“Esta sociedade que, muitas vezes, só desperta para a luta quando a vítima da fúria de alguns homens é uma pessoa próxima. Ali é que se percebe a necessidade da luta”

Para Joana Tomás, as bases da luta há muito que já foram lançadas pelas organizações, governo e até mesmo pelo seu partido MPLA, através da OMA.

Porém, apesar dos caminhos indicados, lamentou a tendência de insistência à prática por parte de alguns sectores da sociedade.

“Esta sociedade que, muitas vezes, só desperta para a luta quando a vítima da fúria de alguns homens é uma pessoa próxima. Ali é que se percebe a necessidade da luta”, apontou.

“Mas não pode ser assim”, esclareceu, tendo apelado para a necessidade de a “luta contra a violência doméstica ser de todos e para todos, mesmo que ainda não tenhamos sido vítimas de formas directa e indirecta deste mal que, há anos, pula de geração a geração”.

E como fazer parte da luta?

Joana Tomás reconhece que, em termos de políticas públicas, o país dispõe de conjunto de leis e programas executivos com vista a erradicar e responsabilizar os autores da violência doméstica.

O grande problema, notou, continua a ser a educação das famílias neste sentido.

Para o efeito, referiu, é preciso mudar a táctica, no que a sensibilização e consciencialização dizem respeito, passando a envolver os próprios homens no processo de luta.

Emponderamento da mulher rural

Por outro lado, Joana Tomás reconheceu os avanços dados a nível da valorização da mulher rural. Mas, ainda assim, disse que os desafios para este segmento populacional continuam a ser enormes.

De acordo com a também jornalista, já há muito trabalho feito, mas as mulheres seguem tidas como o rosto da pobreza no meio rural em função dos entraves ao processo de desenvolvimento a nível das comunidades.

Conforme explicou, um dos pontos de partida para o processo de integração e valorização da mulher rural passa por uma aposta séria na educação, devendo ter como enfoque a alfabetização.

Para Joana Tomás, durante muitos anos as mulheres foram postas de lado nos processos de educação e isso acabou por fragilizar a sua condição, tornando-as em seres vulneráveis e não donas dos seus próprios destinos.

“Já há um trabalho feito no processo de educação. Precisamos é de continuar a levar em conta essas acções para que tenhamos a mulher do campo como parceira no processo de desenvolvimento das comunidades”, defendeu.

“Não sou uma desconhecida na OMA”

Ainda durante a entrevista a OPAIS, Joana Tomás atirou-se contra as vozes que a acusam de ser uma intrusa e que terá caído de pára-quedas na OMA.

“Não é verdade que caímos aqui do nada. Eu estou na OMA e conheço a organização há anos porque sou militante efectiva que começou das bases”, começou por dizer a futura líder do órgão feminino do MPLA, para depois acrescentar que não está na organização a procura de protagonismo ou de quaisquer benesses.

“Estou na OMA porque, desde muito cedo, abracei os ideais da organização. Sinto-me parte da família. Andamos neste processo de valorização da mulher angolana há anos. É uma luta incansável”, frisou.

“Não há luta de gerações”

Joana Tomás desmentiu ainda aquilo que considerou de ‘‘bocas que se levantam’’ para acusar a existência de um suposto mal clima no seio da organização desde a sua indicação ao cargo de secretária-geral da OMA.

De acordo com Joana Tomás, a organização está coesa e alinhada porque, apesar da mudança geracional na liderança, as bases da OMA serão as mesmas, estando assentes na coabitação entre a geração mais velha e a mais jovem.

Não há necessidade de as pessoas pensarem que a OMA vai mudar radicalmente. A base vai continuar a ser a mesma com as mais velhas a passarem os seus conhecimentos às mais novas”, assegurou.

“A OMA é de todas”

Questionada se se sente confortável em ser candidata única uma vez que a organização conta com outras mulheres e ângulos diferentes de visão, Joana Tomás respondeu que, embora venha a estar na liderança da OMA, não vai trabalhar sozinha e que todas essas visões vão ser aproveitadas e consideradas durante a sua gestão na organização.

“A OMA é uma organização de todas e todas contam para o sucesso da organização. Portanto, não estamos sozinhas. Temos o apoio de todas para continuarmos a fazer da OMA a maior e melhor organização feminina do país”, assegurou.

Andamos neste processo de valorização da mulher angolana há anos. É uma luta incansável” O Pais

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