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Terça, 29 Setembro 2020 14:26

MPLA tem dois grupos internos poderosos e pode implodir a qualquer momento – Adão Ramos

Mais de três décadas na luta contra exclusão. Adão Ramos  é o nosso entrevistado desta semana. O também político ligado ao Bloco Democratico é activista pela Inclusão de pessoas com deficiência e foi co-organizador da única Caminhada pela Acessibilidade (manifestação) até agora realizado em Angola.

Ramos, tem intervenções públicas para despertar os governantes e a sociedade para a pertinência e a necessidade de serem respeitados os direitos destes cidadãos.

O Decreto: Como pensa dar sequência ao seu percurso político?

Adão Ramos: Darei continuidade a este percurso tal como vinha fazendo, sempre consequente, interventivo, com uma visão orientada para servir ao país e aos meus concidadãos, tendo em atenção a melhoria da qualidade de vida e bem estar comuns.

Para optimizar esse engajamento, comprometo-me a fazê-lo nas vestes de Secretário Geral do Bloco Democrático, cargo para o qual me proponho a concorrer na Convenção (Congresso) de Abril de 2021, sem perder de vista a divisa que também adoptei de “mais cidadania, menos militância”.

O Decreto: já ocupou cargos políticos? Quais?

Adão Ramos: Já os ocupei no BD.

Sou membro do Conselho Nacional e da Comissão Política desde a fundação, fui Secretário Nacional para Informação e Comunicação e entegrei várias comissões de trabalhos.

O Decreto: Já ocupou funções no executivo?

Adão Ramos: nunca! Kkkkkkk rsrsrsrsrs.

O Decreto: Qual é a razão do riso?

Adão Ramos: É uma pergunta estranha. Uma vez que não há possibilidade disto vir acontecer no regime do MPLA. Dada a cultura do regime que vigora em Angola, desde a proclamação da independência em 1975, muito dificilmente seria convidado para tal, porquanto sempre assumi um posicionamento crítico ao status quo.

Aliás o Presidente da República disse na primeira Conferência de Imprensa concedida aos jornalistas em Angola, depois da sua tomada de posse, que a militância no MPLA seria requisito para alguém ser nomeado para um cargo no executivo. E eu nunca fui deste partido.

O Decreto: Quais são os seus desafios daqui para frente?

Adão Ramos: Não sendo uma espécie de Messias, este só houve um, eu continuo a pensar que nós somos os outros, segundo a filosofía Ubuntu, uma pessoa é uma pessoa por meio de outras pessoas… portanto, como sempre, tendo o BD como instrumento, levarei avante o desafio de mobilizar sinergias e vontades para bater-nos intransigentemente contra a miséria que grande parte dos angolanos vivem, com foco na melhor distribuição do dinheiro que o executivo gere, mas é de todos os angolanos, com empoderamento financeiro das famílias, mediante o emprego, facilidade de acesso aos créditos bancários, oportunidades de negócios, formação técnico profissional e melhores condições de habitabilidade.

O Decreto: Que avaliação faz da MPLA actual?

Adão Ramos: Este partido está a viver momentos de incertezas e indefinições. Pela primeira vez na sua história, tem dois grupos internos poderosos e indinheirados, que se digladiam, o que deixa antever uma implosão a qualquer altura. Após terem atingido o topo da montanha, não é expectável que possam subir mais. A queda já começou.

O Decreto: Que avaliação faz da liderança dos outros partidos?

Adão Ramos: temos as lideranças possíveis, dado o contexto políticamente hostil vigente. Com os níveis de intolerância, não aceitação da democracia e o sistemático desrespeito dos direitos das oposições, liderar um partido da oposição tornou-se quase um exercício de heroísmo.

Todavia, devo reconhecer, que a este nível falta algum arejamento, rejuvenescimento e mais disponibilidade para fazer face aos desafios que são gigantescos. Não se pode continuar a chorar sobre o leite derramado.

O Decreto: Para si, qual é o nível de participação da juventude no desenvolvimento do país?

Adão Ramos: Ainda não é o ideal, ou pelo menos, aceitável. Mas é grande a vontade dos jovens angolanos participarem. Isso é sentido em todos os sectores da vida do país. Nas escolas, nos centros de formação, nas empresas, nos negócios formais ou informais, quem faz acontecer é maioritariamente a juventude. Em qualquer esquina você encontra jovens a inventarem ou reinventarem-se para não ficarem parados.

Todavia, é grande o exército de jovens desempregados e quase sem perspectiva de vida. Mas isso deve-se a falta de políticas de Estado que vão de encontro às expectativas juvenis, ou ajustadas ao tempo,  tendo como consequências a marginalização dos jovens.

A manifestação de jovens contra o desemprego, levada à cabo no último fim de semana, é prova de que a juventude não está a espera de misericórdia, pelo que, o Estado tem de atender às reivindicações.

O Decreto: Certamente conhece a actuação do CNJ, quê avaliação faz?

Adão Ramos: conheço sim, de alguma forma passei por lá.

O CNJ pode ter uma prestação melhor a que temos assistido.

Ao invés de ser uma congregação de jovens livres, vem sendo um instrumento de velhos para condicioná-los, com recursos a chantagens de natureza económica. Os últimos acontecimentos em torno da eleição do novo Presidente foram vergonhosos. Chegou-se ao ponto de ameaçar um juiz para se poder impôr a vontade de um grupo.  O MPLA tem de abandonar imediatamente a filosofia de partidarizar tudo e todos.

O Decreto: Quê avaliação faz aos tribunais do país? Acha normal não se criar nenhum partido em tempo de JLO?

Adão Ramos: Infelizmente, em poucas palavras, tenho de dizer que os tribunais ainda não são independentes das vontades de quem manda no país. A justiça ainda não é feita com base na lei e na consciência do juiz, mas sim, no interesse partidário. Daí o Tribunal Constitucional ter a sofrível prestação que tem. Deste jeito só surgirão partidos satélites.

O Decreto: Para o senhor quem são os líderes no país que mais lhe inspiram ? e internacionalmente?

Adão Ramos: kkkkkkk rsrsrsrsrs pergunta difícil. Bem, mas eu sou de uma escola política que tem como referências Justino Pinto de Andrade, Filomeno Vieira Lopes, Nelson Pestana, Vicente Pinto de Andrade, William Tonet, Abel Chivukuvuku, Jaka Jamba e Miguel Manuel. Também fui de alguma forma influenciado pelo velho Mendes de Carvalho e galvanizado por Holden Roberto, Agostinho Neto e Jonas Savimbi.

Internacionalmente, as minhas influências são Mahatma Gandhi, Nelson Mandela e Barack Obama.

O Decreto: Já pertenceu a um outro partido político angolano?

AR: sim, já fui do PSD, onde fui do Comitê Central e exerci alguns cargos.

O Decreto: Porque abandonou?

Adão Ramos: porque deixei de me rever no destino que estavam a dar ao partido.

O Decreto: O que tem a dizer sobre a governação de JLO?

Adão Ramos: resumo em três momentos:

1 - Antes. O discurso esperançoso, que reanimou a esperança de muitos angolanos, tendo granjeado elogios e apoios de sectores da sociedade civil e da oposição;

2 - As primeiras exonerações de governates outrora intocáveis e  comprometidos com a corrupção, bem como a indiciação de certas figuras por crimes de corrupção, branqueamento de capitais, associação criminosa, etc. Esses factos levaram ao delírio muito boa gente;

3 - A Governação propriamente dita, que está a ser uma autêntica decepção. Marcada pelo elevado custo de vida e o crescente empobrecimento das famílias e as pessoas.

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