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Sexta, 17 Julho 2020 14:06

Deputado da UNITA lamenta “falta de vontade política” para resolver “instabilidade” de Cabida

O deputado angolano Raul Danda, considerou hoje que existe uma “gritante falta de vontade política, de sensibilidade e sensatez” para resolução do problema de Cabinda, que “continua a ser minimizado pelas autoridades angolanas”, porque a “instabilidade na região persiste”.

“Porque não podemos olhar para um território onde haja uma guerrilha, baixa ou média, e dizer que não há instabilidade. Numa localidade onde há tiros há sempre instabilidade. É ridículo vermos como tratamos questões muito sérias com tanta ligeireza”, afirmou hoje em entrevista à Lusa.

Segundo o deputado do União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), maior partido na oposição, “não é sério” quando governantes angolanos, civis e militares, “negam o conflito que existe em Cabinda e depois admitem guerrilha e algumas negociações”.

O ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente da República de Angola, Pedro Sebastião, rejeitou, na quarta-feira, situações de instabilidade no território de Cabinda, enclave do norte do país, dizendo que vive uma “paz efetiva”, apesar de “grupos que possam fazer uma ou outra ação”.

Durante o balanço epidemiológico sobre a covid-19, Pedro Sebastião, que é também coordenador da comissão multissetorial de prevenção e combate à doença, respondeu a questões relacionadas com os conflitos na província angolana.

“De vez em quando, muito raramente, aqui e acolá podem surgir grupos que possam fazer uma ou outra ação, não uma ação organizada como tal, a guerrilha tem a particularidade que tão depressa está em paragem como se pode criar um momento de instabilidade”, afirmou.

Hoje, à margem de um encontro de auscultação aos parceiros sociais sobre o Orçamento Geral do Estado (OGE) revisto para 2020, promovido pela UNITA, Raul Danda, referiu que as pessoas têm de se compenetrar que “Cabinda é um problema”.

“Não vale a pena fingir, porque você não resolve esse problema por um decreto”, notou.

A solução para o “problema de Cabinda”, sublinhou o deputado, natural daquela província de Angola delimitada pela República Democrática do Congo, é “um diálogo construtivo, sério, honesto, transparente com os atores” locais.

O sensato seria, adiantou, “um diálogo sério para buscar soluções tal como o Governo angolano aconselha os outros países para priorizar o diálogo para dirimir conflitos”.

A Frente de Libertação do Estado de Cabinda-Forças Armadas de Cabinda (FLEC-FAC) saudou, na quinta-feira, o que disse ser o reconhecimento da “existência de guerra” por parte do ministro de Estado, Pedro Sebastião, que convidou a visitar “as bases militares”.

Os separatistas prometem ainda “garantir a segurança” do general durante a sua permanência de Cabinda e lançam um apelo à população para abster-se “de qualquer manifesto de hostilidade” contra Pedro Sebastião “por ser um dos representantes da potência colonial que ocupa Cabinda”.

No comunicado, assinado pelo porta-voz do Estado-Maior-General das FAC, general António do Rosário Luciano, o movimento saúda “o momento de lucidez” de Pedro Sebastião quando “reconheceu a existência da guerra”, honrando “as famílias angolanas enlutadas” pelos soldados angolanos que morreram em combate.

Para Raul Danda, é sensato que o general Pedro Sebastião visite “as bases militares” da FLEC “para ver onde está o grupinho de marginais”.

Segundo o deputado angolano, nunca houve convergências de pensamento entre o Governo angolano e os “Cabindas” porque “nunca houve honestidade e transparência por parte do Governo angolano”.

“Porque o Governo sempre pautou pela integração, pela compra de consciências, pelo oferecimento de lugares no Governo e não é isso que é resolver o problema, mas a sua resolução implica dialogar-se com as pessoas de Cabinda”, frisou.

Porque, notou, a FLEC “está a transformar-se em um sentimento e quando isso acontece o problema depois fica difícil”.

“Essa guerrilha em Cabinda existia antes da independência, o país existe há 45 anos e se, nesse período, não se derrotou essa guerrilha, por que que não se dialoga? Estão a morrer pessoas de vários cantos desse país, então são coisas que deveriam ser evitadas havendo algum bom senso”, rematou.

A província angolana de Cabinda, onde se concentram a maior parte das reservas petrolíferas do país, não é contígua com o resto do território e, desde há muitos anos, que líderes locais defendem a independência, alegando uma história colonial autónoma de Luanda.​​​​​​​

A FLEC, através do seu “braço armado”, as FAC, luta pela independência no território alegando que o enclave era um protetorado português, tal como ficou estabelecido no Tratado de Simulambuco, assinado em 1885, e não parte integrante do território angolano.

Criada em 1963, a organização independentista dividiu-se e multiplicou-se em diferentes fações, efémeras, com a FLEC/FAC a manter-se como o único movimento que alega manter uma “resistência armada” contra a administração de Luanda.

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