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Quarta, 22 Mai 2019 12:33

Benguela: militantes do MPLA agastados com Rui Falcão

Em causa está a eleição de 50 membros, sendo 2 para o Comité Central (CC) e 48 para o Comité Provincial. Insatisfeitos, alguns militantes atiram-se contra Rui Falcão, acusando- o de ter indigitado para as duas estruturas gente sem “história partidária”

A onda de contestação de militantes contra o 1º secretário e governador provincial de Benguela está a assumir contornos alarmantes, facto que motivou uma influente militante, a escritora Paula Gomes, a manifestar o interesse, por via das redes sociais, de abandonar a agremiação partidária em consequência das opções feitas pela direcção do partido em Benguela. Em breve conversa com O PAÍS, Paula Gomes assumiu ter sido ela a escrever com o seu próprio punho o que está publicado nas redes sociais. Segundo sustenta, este não é o movimento político em que vem militando desde a década de 1980, daí que tivesse ponderado a decisão de abandoná-lo, porquanto determinados dirigentes estariam a pôr em causa os princípios que norteiam o partido nesta província. Disse que assume tudo o que escreveu e não retira nenhuma virgula, realçando ser necessário denunciar alguns actos incompatíveis com os estatutos do partido,recorrendo ao novo slogan do seu partido: “corrigir o que está mal e melhorar o que está bem”.

Os contestados

Os militantes contestam, fundamentalmente, a entrada para o Comité Provincial (CP) de militantes como Aryson Marques Vieira, empresário, João Francisco Júnior “Surpreso”, director do Gabinete de Falcão (no Governo e no partido), Urbana da Conceição André, Chefe de protocolo do governador, e Marlene de Almeida Simões, secretária do vice-governador Leopoldo Muhongo, este último eleito para membro do Comité Central na IV conferência extraordinária. Herculano Cabral, um outro membro do MPLA, assumiu publicamente o seu descontentamento pela forma como foi conduzido o processo, que, no seu ponto de vista, estaria maculado por “compadrio”. Num tom um tanto ou quanto agressivo, igualmente nas redes sociais, lamentou: “(…) Dentro do MPLA não existe democracia, mas sim imposição. Belos tempos do MPLA – PT.

Agora qualquer… entra para o MPLA, ao empurrão, com os padrinhos, passam rapidamente para o Comité Provincial do Partido sem documentos de transferência”, desabafa. Cabral acrescenta que, mesmo com os documentos de transferência, não lhes cabe o direito em simultâneo de passar automaticamente para o Comité Provincial do Partido. “É preciso militar na base um tempo e depois, consoante a participação na base, conquistar o mérito para o Comité Provincial. Os estatutos do partido em Benguela estão a ser violados de uma forma vergonhosa”, acusa. Um outro militante, que não se quis identificar, e que há muito aguarda na posição de suplente para o Comité Provincial, diz ser inconcebível que Falcão tivesse indigitado aqueles de quem diz que são “miúdos”, uma vez que existem militantes com histórico partidário que há muito dão o seu contributo em prol da vitalidade da formação política nesta circunscrição.

O militante, ligado à actividade empresarial, recorda que quando o partido precisa da classe empresarial recorre a eles, entretanto, na hora de retribuição são “apunhalados pelas costas” por Rui Falcão, o número um do MPLA em Benguela. Refere que, contra todas as expectativas, Rui Falcão Pinto de Andrade indigitou para as estruturas partidárias – central e provincial –gente cujo cadastro em nada abona o bom “nome do partido”, dado que se luta para combater determinados males derivados de más práticas em que o partido esteve mergulhado durante anos. “Não, não pode, o 1º secretário meteu água, não devia ser desse jeito. Nós pensávamos que com o camarada Falcão as coisas seriam diferentes, mas não. Porque estou recordado que no tempo do camarada Isaac dos Anjos tentou-se também introduzir miúdos, até que muitos contestaram e ele recuou”, lembra.

Falcão antecipa-se

Prevendo lamentações e críticas por parte dos seus correligionários face ao cenário, antes mesmo das eleições, o 1º secretário antecipou-se, pedindo aos militantes que se encarasse estes processos com a maior serenidade. “Hoje são uns, amanhã são outros. Todas as funções que se exercem num partido político são sempre funções efémeras, todos nós estamos de passagem, antes de nós houve gerações que conduziram o processo”, disse aos delegados na sessão de abertura da IV Conferência Provincial Extraordinária do MPLA em Benguela, ocorrida no dia 18 deste mês, no Cine Monumental.

Carlos Feijó: ninguém deve sentir-se diminuído

Antes de acalmar os ânimos aparentemente exaltados por alegadas irregularidades apontadas por militantes, Carlos Maria Feijó, coordenador do Grupo de Acompanhamento do Bureau Político à província de Benguela, refutou informações postas a circular segundo as quais o MPLA estaria a viver uma crise interna. “Não raras vezes, nos últimos tempos, se tem repetido que o MPLA é um Partido em que não impera união, está desunido, ou que estão em contradições internas. (…) Àqueles que apregoam a nossa divisão interna, os nossos problemas internos, fica aqui demonstrado que este partido é cada vez mais forte, cada vez mais coeso e que é um partido que está acima de qualquer aspiração individual de cada um de nós”, declarou.

Segundo Feijó, não são fáceis os processos de selecção, mas, apesar do alargamento do Comité Provincial – de 155 para 203 membros -, não é possível “cada militante ser membro”. O político disse que ninguém se deve sentir diminuído por não ser membro do Comité Central, Bureau Político ou do Comité Provincial. Antes pelo contrário, prossegue, a militância e o empenho não deve depender de cargo electivo, mas é a atitude individual de cada um que o MPLA precisa. Os novos membros para o Comité Provincial mereceram a aprovação de 680 delegados à conferência, 20 votos contra e 101 abstenções. O acto serviu ainda para a eleição de dois candidatos ao Comité Central (Leopoldo Muhongo e Adelta Matias), com 675 votos a favor, 22 contra e 100 abstenções.  OPAIS

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