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Terça, 14 Abril 2015 08:56

Chivukuvuku tem o rei na barriga - Álvaro Domingos

No berço aprendi a respeitar os outros e tratá-los como gosto que me tratem a mim. Quando a vaidade me afastava desses princípios, a minha mãe criticava-me a pose, dizendo que andava com o rei na barriga.

Abel Chivukuvuku é um político experimentado, já ameaçou reduzir Angola a pó, mas acabou por se arrepender. Depois renunciou à UNITA que viveu nas bases sul-africanas na Namíbia ocupada. Foi um passo que gerou muitas expectativas na sociedade angolana. Uma campanha eleitoral desastrosa, muito colada à propagandasavimbista, acabou por render uma derrota humilhante.

O dia seguinte é que revelou a verdadeira dimensão da CASA-CE e da sua liderança. Abel Chivukuvuku andava com o rei na barriga. Politicamente, a coligação mergulhou num apagão que não promete nada de bom.

O líder decidiu sair do conforto do Parlamento e lançou o programa “15-15”, que merece todos os elogios. Chivukuvuku fica 15 dias em Luanda e outros 15 numa província.

Ninguém escrutina o seu trabalho político, porque ele tem o cuidado de não convocar os órgãos de comunicação social. Não quer testemunhas da sua actividade política em Luanda e nas províncias. Com essa atitude ganha de duas maneiras. Não se sabe o que anda a fazer e que apoio popular consegue. Mas pode sempre dizer que os órgãos públicos de comunicação social ignoram a oposição. Sem essa ladainha, ninguém se pode considerar oposicionista.

Depois de meses a viver 15 dias nas províncias, Chivukuvuku decidiu conceder uma entrevista. Li avidamente a primeira metade mas vou ignorar o prometido segundo episódio. Chivukuvuku usa os argumentos de sempre e repete até à náusea as suspeitas de fraude eleitoral. Diz que se as próximas eleições forem “limpas” é ele que ganha e o MPLA perde. Mais do mesmo. Todos dizem isso, seguindo a velha máxima de Savimbi e Sean Cleary: se ganharmos, as eleições, foram livres e justas. Se perdermos, houve fraude e tomamos o poder pela força.

Chivukuvuku nesta última parte é mais meigo. Diz que a “sociedade”, se ele perder as próximas eleições, obriga às reformas como aconteceu na Tunísia e no Burkina Faso. Segundo o chefe da CASA-CE, nesses países não houve violência. De facto, aqueles países ainda não foram reduzidos a pó.

Chivukuvuku também não resistiu à manipulação grosseira. Diz que a CASA-CE hoje tem um milhão de militantes com cartão. Pode ser que sim. Mas afirma algo mais que, sendo verdade, não cola com a realidade política. Diz que é a terceira força política. Por isso, pode muito bem ser a primeira, nas eleições de 2017. Se numa corrida entrarem três atletas, o terceiro é último.

O terceiro lugar da CASA-CE valeu 345.589 votos, apenas seis por cento e oito deputados. O MPLA teve 4.135.503 votos (71,84 por cento) e 175 deputados. Uma maioria qualificada. Toda a oposição vale apenas 45 deputados.

Chivukuvuku acha que com o programa “15-15” vai passar de oito deputados para uma maioria, nas próximas eleições. Desde que vi uma bicicleta andar de porco, passei a achar tudo possível. Mas neste caso, trata-se de uma fantasia, que nada tem de inocente. O chefe da CASA-CE já está a preparar terreno para considerar as próximas eleições fraudulentas. Isto é intolerável, mesmo num político que se diz rei do Bailundo e, portanto, pode andar com o dito na barriga.

Chivukuvuku também “patinou” quando exigiu que o Estado pagasse os subsídios para a campanha eleitoral, muito antes das eleições, para comprar a propaganda. A CASA-CE tem um milhão de militantes com cartão. Compra tudo com o dinheiro das cotizações e quando chegarem as subvenções, o partido fica com os cofres cheios, para próximas disputas eleitorais.

O milhão de militantes também parece fantasia. Pelo menos é o mesmo número dos votos que a UNITA conseguiu em 2012. Chivukuvuku conta com um terramoto eleitoral.

Por Álvaro Domingos

Jornal de Angola

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