Terça, 03 de Junho de 2025
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Domingo, 01 Junho 2025 12:49

No dia em que fui medalhado: o muito positivo e o negativo

Por acaso não me demorei muito a decidir-me se deveria ou não receber a anunciada outorga, à minha pessoa, de uma medalha, pelos 50 Anos de Independência Nacional, na categoria de Paz e Desenvolvimento.

Marcolino Moco

Para além de o achar justo, em relação a toda a acção que tenho desenvolvido, pensei ser isso mais uma forma de legitimar os meus esforços nesse sentido, apesar das incompreensões de não negligenciáveis sectores da sociedade, próximos do poder.

Para a minha surpresa, muito agradável, reparei que o texto que acompanha a outorga da respectiva medalha, assinado pelo Presidente da República, Sª Exª, João Manuel Lourenço, sintetiza com muita precisão aquela ideia. E, antes de o ler, reparei que fora, justamente, o aspecto que eu sublinhara, aos meios de comunicação presentes, que me entrevistaram, antes e depois do acto. Viria, também, a reparar, que no  momento exacto em que apertava a mão e trocava palavras amáveis com o PR que me outorgava a medalha, os locutores de uma das televisões, referiram, com toda a correcção que se tratava de reconhecer a acção de alguém que, apesar de uma linha diferente de pensamento, tem dado a sua valiosa contribuição, na construção do país independente, há 50 anos.

Mas, como não há bela sem senão, lá apareceram alguns aspectos negativos. Entre os quais um trivial e outro algo essencial. O trivial: À entrada, para uma das amplas salas do sumptuoso Hotel Intercontinental, sou saudado e saúdo muita gente, por mim conhecida ou não. Muito agradável aquela série de reencontros com antigos companheiros e amigos, perdidos na selva de Luanda e outras localidades; ou com quem rejubila por te encontrar pela vez primeira depois de tanto desejo de te dirigir uma palavra e revelar-te um segredo. O desagradável foi dirigir um “galanteio” a uma velha confreira, nas lides do “glorioso MPLA”, dizendo que ela se mantém bela e jovem e ouvi-la, em tom, tão escusadamente crispado que ela se mantém jovem porque nunca falou mal contra ninguém. Bom, havia que esboçar muitos sorrisos, para não se ganhar mais umas rugas ou ostentar mais uns cabelos brancos onde eles já não cabem, enquanto a outra se vai renovando com o lançamento de viperinas auras, kkkkkk....

Da trivialidade ao mais preocupante, chegado à casa o que vejo? Reparo que as minhas entrevistas foram bem limadas, para poderem ser exibidas no mesmo bloco que a de concidadãos da família partidária UNITA que (terão driblado alguma orientação do seu partido no sentido de não aceitarem as medalhas?) pareciam “ser obrigados” a ter de explicar o porque é que outros da agremiação acharam por bem não comparecer. Ora nas minhas entrevistas eu havia assacado isso a um processo de consolidação de reconciliação que, por essa altura, já não devia provocar esse tipo de atritos, em razão de meros lanços de jogo de poder, o que vai atrasando o nosso Desenvolvimento.

Claro que com aquela presença de meios de comunicação tão “bem selecionados” e “disciplinados” (diria Lula), como não se chegaria a esse aspecto negativo do tão agregador dia de ontem, quando tivermos a capacidade de transformar actos de grande simbolismo em factos reais?

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