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Quinta, 11 Setembro 2014 21:25

Roubam milhões e milhões de dólares em Angola para investirem em Portugal

ANewshold empresa de Álvaro Sobrinho, homem acusado de ter locupletado de mais de 5, 7 mil milhões de dólares do banco BESA, levando-o a falência, para encobrir tamanha roubalheira, cujo destino o deveria levar a cadeia, continua a comprar órgãos de imprensa em Portugal, com “dinheiro de sangue” e da corrupção, anunciou a compra do jornal português “i” através de uma participada, passando a deter, também o “Sol”.

“A Newshold, ao fim de quase três anos de acordo de gestão com o jornal I, adquiriu os direitos editoriais desta publicação, através de uma das suas participadas”, lê-se no comunicado, assinado pelos administradores da Newshold, Sílvio Alves Madaleno e Mário Ramires. A empresa adianta que o pedido de registo da titularidade do jornal “i” deu entrada no 02.09.14, dia em que também os trabalhadores da publicação foram informados das alterações a nível societário e da composição da nova equipa de Direcção editorial.

No documento, a Newshold explica que “em consequência desta aquisição” passa a deter, “por via de duas sociedades por si controladas, o Jornal Sol e o Jornal i”. Além destes meios, acrescenta, a Newshold detém ainda participações financeiras em outros grupos de comunicação social sedeados em Portugal, “onde não tem, nem nunca teve qualquer interferência nos seus actos de gestão, quer nas ‘holdings’ quer nas empresas detentoras das respectivas publicações”.

Até novas ordens de Luanda, Luís Rosa (jornalista com pouco mais de dez anos de profissão) que até agora desempenhava as funções de director adjunto do jornal “i” vai ser o novo director da publicação, substituindo Eduardo Oliveira e Silva, cujas funções no cargo cessaram no 03.09. O antigo director do jornal “A Capital”, Luís Osório, que nem jornalista é, será director-adjunto.

A Newshold anunciou ainda que tem uma participação inferior a 4% na Cofina, ao contrário do que se lê no site da Cofina, onde a participação atribuída à empresa angolana é de 12,21%. No comunicado onde anuncia a compra do jornal “i”, a Newshold avança ter uma participação inferior a 4% na Cofinae a 3% na Impresa.

Recorde-se que a Newshold está em todas. Por exemplo, os créditos sem garantias concedidos pelo BESA a sociedades de proprietários desconhecidos atingem as muitas centenas de milhões de dólares. No topo do universo BES em Angola está, desde logo, os proprietários da Newshold, Emanuel Madaleno e Álvaro Sobrinho, este último presidente do BESA até se incompatibilizar com Ricardo Salgado em 2012.

Outros são Hélder Bataglia, presidente da ESCOM e administrador do BESA; Eugénio Neto, vice-presidente da ESCOM e parceiro angolano da General Electric no negócio do petróleo, que terá beneficiado de 1,5 mil milhões de dólares de crédito. Outra figura é Domingos Vunge, da Score Media, sociedade da Newshold e da portuguesa Ongoing na corrida à privatização da RTP, bem como na tentativa de controlo do grupo Controlinveste (DN, JN, TSF), que chegou a ter assinada uma promessa de compra. Neste caso o vencedor foi Isabel dos Santos através de António Mosquito.

A chegada com armas e bagagens (estas constituídas por malas a abarrotar de dólares) da Newshold às empresas detentoras de órgão de comunicação social data de 2009. Nessa altura comprou 96,96% do jornal Sol. Dois anos depois foi a vez da Cofina (Correio da Manhã, Jornal de Negócios e revista Sábado) onde detém não se sabe bem com que percentagem. Seguiu-se a Impresa (Expresso e SIC entre outros) onde detém ainda 3,21%. Quando resolveu apalpar terreno para comprar a RTP, a Newshold revelou quem eram oficialmente (a verdade pode ser diferente) os seus proprietários. Estrela Serrano especialçista com os media, recorda que “não existe em Portugal uma lei anti-concentração dos media, uma vez que Cavaco Silva vetou um projecto de lei do governo anterior que visava regular a concentração da titularidade dos meios de comunicação social.

Contudo, a ERC – Entidade Reguladora da Comunicação Social tem, nos termos dos seus Estatutos, o dever de “assegurar o pluralismo e a diversidade de expressão, velando pela não concentração da titularidade das entidades que prossigam actividades de comunicação social”. “A aquisição do jornal i pela Newshold suscita, tal como aconteceu com a aquisição do Sol (quando este tinha uma enorme dívida e uma situação financeira muito difícil), uma reflexão sobre as motivações do grupo para a aquisição de jornais deficitários, num momento em que o sector dos media, em particular a imprensa, vive uma situação de grandes dificuldades”, considera Estrela Serrano.

No primeiro semestre deste ano, o diário “i” apresentou uma média de circulação paga de 3.941 exemplares por edição, uma quebra de 25% face ao período homólogo. Por seu turno, o semanário “Sol” apresentou uma média de vendas de 21.254 exemplares por semana, uma queda homóloga de 11,7%.

“É sempre uma perda ver desaparecer um jornal e seria também uma perda, pelo que representaria de despedimentos de trabalhadores num mercado já muito precário, se o jornal i não encontrasse um comprador.

Mas isso não deve impedir que as operações de concentração de meios de comunicação social, pela importância de que estes se revestem na formação da opinião pública, sejam profundamente escrutinadas”, afirma Estrela Serrano, acrescentando que, “aproximando-se tempos eleitorais, as movimentações no sector dos media carecem de redobrada atenção”.

F8

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