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Domingo, 03 Agosto 2014 21:04

Um líder que faz acontecer

A Cimeira de Washington junta, no início da semana, meia centena de Chefes de Estado e de Governo a convite de Obama. Já foi anunciado que o tema central das discussões vai incidir na forma como cada Estado investe nas gerações do futuro.

Como apêndice do tema central, está a segurança em África – isso na óptica de Washington, que muitas vezes é contrária aos interesses dos países africanos. Os exemplos da Tunísia, Egipto e sobretudo da Líbia, onde em nome da democracia e segurança se destruiu um Estado para o Ocidente ficar tranquilo, vão ser afastados das luzes da ribalta.

Os líderes ocidentais tardam em olhar para África numa perspectiva moderna e sem complexos de superioridade. Quando chegam ao continente estão sempre à espera de encontrar um Idi Amin, um Bokassa, um Mobutu ou um Savimbi. Os mais desconfiados ainda devem pensar que vão encontrar em cada palácio presidencial canibais prontos a morder as suas carnes bem tratadas, especialmente nesta época de Verão no Hemisfério Norte. Quando chegam a uma capital africana e verificam que estão rotundamente enganados, dizem que afinal os líderes africanos vestem fatos, usam gravatas e andam calçados. E a sua conversa não sai disto.

Continuo à espera de um líder ocidental que no regresso de África diga que encontrou políticos africanos sábios, hábeis e cultos. Não desejo que sejam sinceros e reconheçam publicamente que se sentiram ultrapassados pela qualidade política e humana de alguns dirigentes políticos africanos, como Jacob Zuma ou José Eduardo dos Santos, para dar exemplos da África Austral, entre muitos outros.

As relações entre os países ocidentais e África foram inquinadas pelo esclavagismo e a dominação colonial e ainda estão muito marcadas pelo eurocentrismo. Do alto da sua superioridade, a Europa até se deu ao luxo de desenhar o mapa político do nosso continente. Dividiram e exterminaram povos. Indiferentes às culturas nacionais, espalharam por várias colónias o mesmo povo que fala a mesma língua e tem as mesmas raízes. Na verdade, a indiferença e o desprezo continua a ser mais pelos seres humanos que habitam um continente que antes não conheciam e ainda não conhecem, porque os seus interesses passam exclusivamente pela exploração sem regras dos recursos naturais de cada país africano.

Da Conferência de Berlim resultaram crimes contra a Humanidade, com tal dimensão que ainda hoje causam dor e sofrimento a milhões de africanos. Naquela cimeira das potências coloniais de má memória, os africanos foram condenados à fome, ao analfabetismo e à pobreza e despojados das suas terras, da sua cultura e do seu pensamento. Tudo foi feito com frieza e no desprezo absoluto pelos mais elementares direitos humanos. Mas já passou mais de um século sobre esse momento ignominioso para a Humanidade. Nos anos 50, das colónias começaram nascer países africanos independentes. Os deserdados da dignidade e da liberdade começaram a assumir os seus destinos negados pelo colonialismo.

Mas nem assim mudou o registo dos políticos ocidentais. Pelo contrário, a Europa continua a mover influências para dar dos líderes africanos imagens dantescas que são pasto de todas as calúnias nos seus Media. Um africano rico só pode ser corrupto. Um líder político africano só existe se prestar vassalagem às antigas potências coloniais ou se ajoelhar perante a ordem estabelecida e que é causadora da desordem mundial.

O Presidente José Eduardo dos Santos é um grande líder de nível mundial. A sua dimensão é a mesma em Angola, Portugal, França ou nos EUA. O meu amigo cónego Apolónio Graciano disse ontem que ele fez de Angola “um pulmão de ar fresco e puro” onde vários países africanos encontram inspiração para renovarem as suas nações e engrandecerem os seus povos. Estou à espera do dia em que líderes ocidentais digam nos seus países que estiveram em Luanda com um político de excepção, com o comandante das forças que destroçaram o regime de apartheid. Digam que ouviram da sua boca sábias palavras, que veicularam ideias arrojadas e modernas que dão à estabilidade política, à reconciliação e à paz uma base sólida impossível de dinamitar, por mais ataques que lhe sejam lançados.

Estou à espera do dia em que líderes ocidentais sejam capazes de olhar para Angola e pedir desculpas pelo que fizeram aos angolanos e aos povos da África Austral. E reconhecerem que o líder angolano desenvolveu as políticas mais correctas para enfrentar a desestabilização do seu país e, com paciência mas determinação, acabou com as ditaduras sanguinárias da região e derrubou o apartheid, que teve o seu ponto final nos heróicos combates do Triângulo do Tumpo, à vista do Cuito Cuanavale, e nos Acordos de Nova Iorque.

Espero que a inteligência e a humildade iluminem os líderes ocidentais para seguirem o rumo que o Presidente José Eduardo dos Santos traçou para Angola e para a região. Um caminho de paz, reconciliação, verdade, humanismo e uma integração económica e social em benefício dos povos. Só assim a economia tem ambiente para crescer e a riqueza pode chegar aos que mais precisam.

Os angolanos têm um grande líder e há-de chegar o dia em que Luanda vai acolher a Cimeira dos Grandes Líderes Mundiais. As soluções do Presidente José Eduardo dos Santos privilegiam sempre a pessoa humana e jamais endeusaram os mercados. Os seres humanos valem pelas suas qualidades, pelos seus princípios e pelo que realizam em conjunto com os outros. Infelizmente temos entre nós quem ainda corra a alimentar o preconceito secular sobre o homem africano. E esta época do ano é muito propícia à afirmação da mania da superioridade.

Por José Ribeiro

Jornal de Angola

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