Ministros, secretários se Estado, governadores provinciais, administradores municipais, directores nacionais, chefes de departamento, administradores de empresa etc. delinquiam a todo o vapor. Um exemplo (de um universo de miríades) foi a desestatização da Movicel, ou seja, a transformação da mesma em empresa privada. Num processo opaco e eivado de ilegalidades de contornos pornográficos, a Movicel tornou-se privada sem que o Estado ganhasse um vintém sequer. Passou das mãos do Estado para um grupo de chico-espertos (governantes e generais), um dos quais é José Carvalho da Rocha, o actual ministro das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, que desempenhou um papel fundamental no processo de viciação e manipulação do concurso público, facilitando que a Telstar saísse vencedora.
Alertado pelos assessores, o Presidente João Lourenço, depois de ter-se inteirado da fraude, procedeu à anulação do concurso público, facto que pôs fim à espécie de estado nacional de descontentamento despoletado com a publicação – da responsabilidade do ministério da tutela via INACOM – do comunicado de imprensa que anunciou a Telstar como vencedora do concurso público internacional.
Todavia, a anulação do mesmo não é suficiente para a resolução do problema de probidade, confiança e consequente remoralização do Governo de João Lourenço, cujo discurso e agenda reformista sofre(u) um sério revés com o escândalo do concurso público viciado e manipulado.
É necessário também que José Carvalho da Rocha seja exonerado, pois, além de ser um elemento toxico no Governo do Presidente João Lourenço, coleciona os seguintes problemas:
1 - Esteve envolvido no nebuloso processo de privatização da Movicel, que beneficiou meia dúzia de chico-espertos. José Carvalho da Rocha é acionista da Movicel através da empresa Lambda (que ficou com 6% das acções na altura na desestatização).
2 - É um ministro que, além de estar envolvido em escândalos de nepotismo e tráfico de influências em proporções pornográficas, representa a sobrevivência do grupo de indivíduos cuja actuaçao põe em causa a governação actual que se apresenta como reformista e de estabelecimento de uma data de corte com as práticas que levaram Angola ao marasmo socioeconómico. José Carvalho da Rocha vem dos últimos governos de José Eduardo dos Santos e não demonstra sinais de ter abandonado o cabritismo ou a marimbodagem.
3 - O Angosat – que custou 300 000 000 00 de dólares ao Estado – constitui(u) um enorme fracasso técnico e político que o deixou fragilizado enquanto titular do Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação. A farra pelo lançamento do satélite deu lugar a um aziago e lancinante sentimento de perda e derrota, pois o mesmo desapareceu e, por mais que esteja em andamento a construção de um novo satélite, a experiência do Angosat continua a ser um fracasso de proporções hercúleas.
O ministro não tem condições de continuar no Governo. Deve demitir-se ou ser exonerado.
O ministro viciou e manipulou o concurso público internacional, fez a empresa em que é acionista – a Telstar – ganhar, mas, felizmente, foi travado pelo Presidente, ou seja, como dizemos na gíria «(em)bateu na rocha», sim, uma rocha maior do que ele.
O ministro «rochou» com o satélite.
O ministro da Rocha «rochou» com o concurso público.
Deve demitir-se ou ser exonerado.
Caso nenhum dos cenários ocorra, as suspeitas dos cidadãos adensar-se-ão no que tange à hipótese segundo a qual, no quadro de uma estratégia de messianismo forjado, determinados membros do Governo agem de forma contrária à governação reformista de João Lourenço, e este age a seguir em sede de actos correctivos e restabelecedores, levando à sua exaltação como messias – o salvador de Angola.
Por outro lado, a manutenção de José Carvalho da Rocha no cargo acabará por transmitir a mensagem de que titulares de cargos públicos que cometem erros graves de probidade apenas verão os efeitos dos seus actos revertidos ou anulados, isto é, não serão responsabilizados política, civil nem criminalmente.
Demissão ou exoneração já!