Quinta, 06 de Novembro de 2025
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Quinta, 06 Novembro 2025 14:00

Bispos católicos pedem participação de todos na construção de uma nova Angola

Os bispos católicos apelaram à participação de todos na construção de “uma nova Angola”, assente na coabitação harmoniosa e repartição dos benefícios, no congresso de reconciliação “acolhido por muitos e não compreendido por alguns”, que hoje começou em Luanda.

Os apelos foram feitos pelo presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), Dom José Manuel Imbamba, na abertura do Congresso Nacional da Reconciliação, iniciativa da Igreja Católica que, segundo o prelado, foi “saudada e acolhida por muitos, mas não compreendida por alguns”.

Na plateia encontravam-se deputados do partido dirigente, MPLA, e da oposição (UNITA, FNLA, PRS e PHA), bem como outros partidos sem assento parlamentar, como o PRA-JÁ ou Partido Liberal, além de analistas, ativistas, representantes de diferentes confissões religiosas, setores da justiça, saúde e educação, membros da sociedade civil e autoridades tradicionais.

Esteve, no entanto, ausente um representante do Governo ou do Presidente da República, João Lourenço, que inicialmente confirmou a presença, mas manifestou mais tarde a sua indisponibilidade por razões de calendário ligadas a compromissos de Estado”, garantindo, contudo, que o Executivo estaria representado.

Na manhã de hoje, o chefe de Estado participou e discursou na cerimónia de condecorações no âmbito das comemorações do 50.º aniversário da independência, tema que marca também a agenda do congresso da CEAST.

Com esta iniciativa, disse o presidente da CEAST, “a Igreja pretendeu buscar um conjunto de compromissos que ajudem a trazer para todos uma nova era de compromisso com as pessoas, de modo especial as mais vulneráveis, e com a ética, transformando este espaço que se chama Angola num lugar onde a coabitação harmoniosa seja possível e a repartição justa dos benefícios e das oportunidades seja o nosso agir habitual”.

O presidente da CEAST afirmou que “os novos tempos de abundância [que se seguiram à guerra civil] ficaram feridos por uma injusta repartição de bens, que a Igreja soube denunciar, chamando a necessidade de se buscar justiça e igualdade no acesso aos bens de todos”.

Para Dom José Imbamba, os tempos pós-Congresso poderão ser de “uma terapia” em torno de um projeto de nação onde todos participem livremente, na edificação de uma nova Angola, com novas lógicas de administração pública e novas e fortes instituições “que ajudem a servir e a fortalecer a cidadania consciente, responsável e participativa”.

“Não nos deixemos invadir pelo pessimismo nem pelos ressentimentos pejorativos quanto ao nosso futuro de paz, harmonia, participação e desenvolvimento”, apelou, garantindo que a Igreja continuará a “disseminar” os frutos deste Congresso “como singela forma de contribuição para a mudança de mentalidades e de atitudes”.

“Afinal, uma nova cultura para uma nova Angola impõe-se”, sintetizou o também arcebispo de Saurimo, assegurando que os resultados do encontro “serão levados para mais longe, para que ninguém fique de fora”, e reforçando o compromisso da Igreja em “debater todos os fatores de degradação humana, social, cultural e espiritual numa terra em que Deus criou todos os ingredientes para vivermos com a dignidade de filhos”.

Dom José Imbamba sublinhou ainda a “necessidade de consenso sobre os caminhos pelos quais a pátria deve ser levada”, lembrando que todos fazem parte desta nação.

“E por isso, temos uma palavra a dizer e somos todos responsáveis pelo nosso futuro, que pertence tanto aos que militam na política ativa como aos que atuam noutros campos da vida social”, vincou. O presidente da Comissão Episcopal de Justiça e Paz, Dom Zeferino Zeca Martins, acrescentou que a Igreja Católica “não pretende substituir-se a nenhuma entidade” e que a sua linguagem é de “inclusão, porque Angola é de todos”.

“Sempre fomos e seremos a consciência crítica da sociedade e a voz dos sem voz”, afirmou o bispo, acrescentando que, para a Igreja, ser instrumento de reconciliação e de paz entre os homens é “um imperativo absoluto”.

“A Igreja é conciliadora, não quer atirar pedras nem ofender ninguém. Passados 23 anos de paz, nenhum de nós tem o direito de adiar o futuro”, concluiu.

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Last modified on Quinta, 06 Novembro 2025 16:13