De acordo com o empresário, a carência de divisas no mercado angolano influencia diretamente os preços praticados, porque grande parte da matéria-prima e dos produtos finais depende de importações.
“Mas a grande questão de fundo nem é a carência de divisas. A grande questão é para onde é que estão a ser canalizadas as divisas que o país arrecada. Este é o grande problema”, afirmou Rui Santos em declarações à Lusa, salientando que "estão a ser canalizadas para o pagamento de dívidas criadas ao abrigo de linhas de crédito Governo a Governo”.
O empresário apontou também o acordo que Angola tem com o Fundo Monetário Internacional (FMI) como um outro fator de escassez de divisas, porque “os kwanzas [moeda angolana] necessários para o contravalor das divisas a serem pagas cria uma pressão gigantesca sobre a Conta Única do Tesouro (CUT)”.
Rui Santos, também perito contabilista, disse ainda que tal pressão sobre a CUT, para a obtenção dos kwanzas, faz com que haja maior pressão sobre residentes no que diz respeito à “cobrança fiscal”.
Considerou, por outro lado, que, mesmo com a pressão sobre os contribuintes, os kwanzas não são suficientes, pelo que “Angola é obrigada a emitir Título do Tesouro com juros elevadíssimos para compensar a falta de kwanzas”.
Estes títulos, por sua vez, criam uma apetência para os bancos “deixarem de emprestar” divisas às empresas e, evitando o risco, fazerem as suas aplicações em títulos.
“E isto cria ainda um outro fenómeno perverso, que é o facto de os bancos, fruto destes juros, se terem tornado, na prática, as maiores contribuintes do Imposto Industrial no fim de cada ano”, concluiu o empresário, também membro do Grupo Técnico Empresarial, parceiro social do Governo angolano.
O Banco Nacional de Angola (BNA) colocou recentemente no mercado 300 milhões de dólares do Tesouro Nacional para tentar contornar a falta de moeda estrangeira, apesar da disponibilidade ter aumentado em janeiro, de 600 milhões de dólares (558 milhões de euros) para 836 milhões de dólares (778 milhões de euros).
O governador do BNA admitiu recentemente que há menos divisas disponíveis, devido à redução das receitas de exportação, mas disse que os bancos têm estado a comprar, pelo que não se justifica que não disponibilizem moeda estrangeira aos seus clientes.