"[Há] 147 mortes confirmadas no atentado de Garissa", indicou o NDOC, em comunicado divulgado após o mais mortífero atentado no Quénia desde o ataque bombista à embaixada dos Estados Unidos, em 1998.
A operação realizada pelas forças de segurança quenianas para retomar o controlo da universidade, tomada de assalto por um comando 'shebab' hoje de madrugada, "terminou [e] os quatro terroristas foram mortos", acrescentou o NDOC, quase 16 horas após o início do ataque na localidade situada a 150 quilómetros da fronteira com a Somália.
Um anterior balanço oficial dava conta de cerca de 70 mortos.
O grupo islâmico somali 'shebab' tinha já reivindicado o atentado contra o centro universitário.
"O Quénia está em guerra com a Somália (...) Os nossos homens estão ainda no interior e em combate. A sua missão é matar aqueles que são contra os 'shebab'", tinha referido por telefone à agência noticiosa AFP xeque Ali Mohamud Rage, um porta-voz do grupo islâmico.
Quem é o Al-Shabab?
Al-Shabab significa "A Juventude" em árabe. O grupo apareceu como uma ala radical da hoje finada União das Cortes Islâmica da Somália em 2006, enquanto o grupo combatia as forças etíopes que entraram na Somália para apoiar o fraco governo interino.
Há vários relatos sobre a presença de jihadistas estrangeiros na Somália para ajudar o Al-Shabab.
O grupo impôs uma versão rígida da sharia (lei islâmica) nas áreas sob seu controle, incluindo o apedrejamento até a morte das mulheres acusadas de adultério e o amputamento das mãos de acusados de roubo.
Quanto da Somália o Al-Shabab controla?
Apesar de ter perdido o controle de cidades e povoados, o grupo ainda tem influência sobre muitas áreas rurais da Somália.
O Al-Shabab foi expulso da capital do país, Mogadíscio, em agosto de 2011, e perdeu o controle do vital porto de Kismayo em setembro do ano passado.
Kismayo era uma peça importante para os militantes, permitindo que suprimentos chegassem a áreas sob seu controle e provendo recursos para suas operações.
A União Africana (UA), que apoia as forças do governo, comemorou a retomada do controle de ambas as cidades, mas o Al-Shabab ainda promove ataques suicidas com relativa frequência em Mogadíscio e em outros lugares.
Analistas acreditam que o Al-Shabab está se concentrando cada vez mais em táticas de guerrilha para conter o poder de fogo das forças da UA.
Militantes do Al-Shabab
O grupo extremista muçulmano ganhou notoriedade com o ataque em Nairóbi em 2013
Mas o grupo está sob pressão em várias frentes, incluindo a incursão das forças do Quênia na Somália em 2011. O Quênia acusou o Al-Shabab de sequestrar turistas. As forças quenianas, agora sob o comando da UA, esteve à frente dos esforços para expulsar o grupo no sul do país, até Kismayo.
Enquanto isso, as forças da Etiópia entraram pelo oeste e tomaram controle das cidades centrais de Beledweyne e Baidoa.
Quem lidera o Al-Shabab?
Ahmad Umar é o chefe do grupo desde setembro do ano passado, quando um ataque de um drone americano matou o então líder, conhecido como Mukhtar Abu Zubair.
Foi o mesmo destino de seu antecessor, Moalim Aden Hashi Ayro, morto em um ataque aéreo americano em 2008.
Quais são as ligações internacionais do Al-Shabab?
O Al-Shabab se aliou à Al-Qaeda em fevereiro de 2012. Em um comunicado conjunto em vídeo, o então líder do grupo disse que "prometia obediência" à Al-Qaeda.
Os dois grupos trabalham juntos há tempos, e estrangeiros estariam lutando ao lado dos militantes somalis - autoridades britânicas, por exemplo, temem que haja um grande recrutamento junto à comunidade somali vivendo na Grã-Bretanha.
Autoridades americanas acreditam que, com a Al-Qaeda em retirada do Afeganistão e do Paquistão após a morte de Osama bin Laden, seus combatentes estejam cada vez mais buscando refúgio na Somália.
O Al-Shabab já havia promovido ataques fora da Somália?
Antes do aterrorizante ataque ao shopping center na capital queniana, o grupo tinha sido responsável por um ataque suicida duplo na capital de Uganda, Kampala, que matou 76 pessoas que assistiam pela televisão à final da Copa do Mundo de futebol, em 2010.
O ataque aconteceu porque Uganda - junto com o Burundi - forneceu grande parte das tropas da UA na Somália antes de o Quênia entrar no conflito.
Analistas dizem que os militantes entram com frequência no Quênia e deixam o país sem serem interceptados. Seus militantes até mesmo visitariam Nairóbi para tratamentos médicos.
O duplo ataque em 2002 contra alvos israelenses próximos ao balneário de Mombasa, no Quênia, foi supostamente planejado na Somália por uma célula da Al-Qaeda.
Os Estados Unidos também acreditam que alguns dos integrantes da Al-Qaeda que planejaram os ataques contra as embaixadas americanas em Nairóbi e Dar-es-Salaam (Tanzânia), em 1998, depois fugiram para a Somália.
Quem são os apoiadores do Al-Shabab?
A Eritreia é o único aliado regional, mas nega prover armas ao Al-Shabab.
O país apoia o Al-Shabab para conter a influência da Etiópia, seu maior inimigo.
O que faz o governo da Somália?
O presidente do país é o ativista e ex-acadêmico Hassan Sheikh Mohamud, eleito em 2012 por um recém-escolhido Parlamento somali, após um processo de paz promovido pela ONU.
Ele derrotou o ex-presidente Sheikh Sharif Sheikh Ahmed - um ex-combatente rebelde islâmico, cujos três anos no poder foram criticados pelo suposto descontrole sobre a corrupção.
O Al-Shabab denunciou o processo de paz como um plano estrangeiro para controlar a Somália.
A Somália é considerada um "Estado falido". Há duas décadas, a maior parte do país tem sido uma zona de guerra constante.
A situação ajudou o Al-Shabab a ganhar apoio entre os somalis. O grupo prometia segurança à população, algo fortemente desejado.
Mas sua credibilidade foi atingida quando rejeitou a ajuda alimentar ocidental para combater a fome causada pela seca em 2011.
Qual é a orientação religiosa do Al-Shabab?
O Al-Shabab defende a versão wahabista do islã, inspirada pela Arábia Saudita, enquanto a maioria dos somalis segue a linha do sufismo. O Al-Shabab destruiu um grande número de santuários sufistas, provocando queda ainda maior em sua popularidade.
BBC