Segunda, 23 de Junho de 2025
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Terça, 11 Março 2025 13:17

Venâncio Mondlane apresenta queixa-crime contra Presidente de Moçambique por incitação à violência

O ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane submeteu esta terça-feira ao Ministério Público (MP), em Maputo, uma queixa-crime contra o Presidente da República, Daniel Chapo, acusando-o de instigação à violência no seu discurso sobre "jorrar sangue" para travar protestos.

"No mais alto pedestal da magistratura, que jurou fazer respeitar a constituição (...) espezinha a lei mãe, quando em causa está a eliminação de quem, legitimamente, reclama, nos marcos constitucionais da lei, por justiça, neutralidade e imparcialidade dos órgãos eleitorais e da alta corte da magistratura eleitoral", lê-se na queixa de Mondlane contra o Presidente moçambicano, submetida à Procuradoria-Geral da República (PGR), divulgada pouco depois de o político começar a ser ouvido pelo MP.

"Tal como estamos a combater o terrorismo e há jovens que estão a derramar sangue para a integridade territorial de Moçambique, para a soberania de Moçambique, para manter a nossa independência, aqui em Cabo Delgado, mesmo se for para jorrar sangue para defender essa pátria contra as manifestações, vamos jorrar sangue", disse o chefe de Estado.

"Com o discurso belicista, viram-se goradas todas as expectativas para o diálogo construtivo, manifestadas pelo querelante [Venâncio Mondlane] (...) A contundência e repetição das ameaças e da integridade colocaram a nu a indisponibilidade total em encetar negociações públicas sérias, sem pré-condições e com agenda acordada entre as partes", lê-se no mesmo documento.

Na queixa, Venâncio Mondlane indica que não "houve coincidência" face ao seu alegado atentado em 05 de março, durante uma passeata na capital moçambicana, indicando que o veículo que o transportava foi atingido por seis balas, tendo sido baleadas 16 pessoas, como avançou a Plataforma Decide, que acompanha o processo eleitoral.

O ex-candidato presidencial diz na queixa que "reputa como grave o facto" de Daniel Chapo "continuar a dar ordens executivas às forças policiais e às Forças de Defesa e Segurança que, pese à luz da Constituição serem apartidárias, submetem-se ao presidente da Frelimo [partido no poder] ao invés do Presidente da República, que deve ser apartidário".

Além de exigir a instauração de um processo-crime, Mondlane pede que seja constituído assistente do mesmo, exigindo igualmente a indemnização aos que perderam os seus familiares durante protestos.

Já no passado domingo foi conhecido o homicídio de outros dois apoiantes do antigo candidato presidencial, atingidos a tiro no interior de uma viatura, em Massinga, província de Inhambane, sul de Moçambique.

Venâncio Mondlane está esta terça-feira a ser ouvido na PGR, em Maputo, sobre um dos oito processos em que é visado no âmbito dos protestos e agitação social pós-eleitoral em Moçambique.

"As minhas expectativas não são assim tão grandes", disse o ex-candidato presidencial, em declarações aos jornalistas no aeroporto de Maputo, na segunda-feira, após alguns dias ausente do país, no Botsuana, quando questionado sobre a convocatória para prestar declarações na PGR.

A polícia moçambicana lançou esta terça-feira gás lacrimogéneo nas imediações da Procuradoria-Geral da República (PGR), em Maputo, para dispersar dezenas de apoiantes de Venâncio Mondlane.

Desde o início da manhã que um forte dispositivo policial impede a circulação automóvel e de peões na avenida Vladimir Lenine, sede da PGR, com dezenas de apoiantes do ex-candidato presidencial concentrados nas imediações, com gritos de apoio.

Cerca das 12:20 locais (menos duas horas em Lisboa), a polícia lançou gás lacrimogéneo e recorreu a brigadas cinotécnicas para afastar os apoiantes da zona mais próxima da PGR, no centro de Maputo.

Moçambique vive desde outubro um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas por Mondlane, que rejeita os resultados eleitorais de 09 de outubro, que deram vitória a Daniel Chapo.

Atualmente, os protestos, agora em pequena escala, têm estado a ocorrer em diferentes pontos do país e, além da contestação aos resultados, os populares queixam-se do aumento do custo de vida e de outros problemas sociais.

Desde outubro, pelo menos 353 pessoas morreram, incluindo cerca de duas dezenas de menores, de acordo com a Plataforma Decide.

O Governo moçambicano confirmou pelo menos 80 óbitos, além da destruição de 1.677 estabelecimentos comerciais, 177 escolas e 23 unidades sanitárias durante as manifestações.

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