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Sábado, 04 Julho 2020 18:52

Jovens marcham em Luanda por mais medidas contra a covid e contra a pobreza

Cerca de 50 jovens marcharam hoje em Luanda reclamando medidas mais adequadas na luta contra a covid-19, mas também mais justiça e apoios sociais, num protesto marcado por uma fraca mobilização.

Os manifestantes começaram a concentrar-se junto do cemitério de Santa Ana, por volta das 11:00, para prepararem os seus cartazes, mas só partiram às 13:00, desfilando em direção ao Largo das Escolas, gritando as palavras de ordem que expressam as suas preocupações: Luz, Água, Pão, Educação.

“Queremos cesta básica, não queremos rebuçado”, ouviu-se no arranque do desfile, numa alusão à frase do ministro angolano do Interior, Eugénio Laborinho, que, numa conferência de imprensa, respondeu às queixas de violência policial durante o estado de emergência devido à pandemia, dizendo que a polícia “não estava para distribuir rebuçados”.

Ermelinda Tchikuamby, exibe um cartaz pedindo à policia que não a mate e explica à Lusa que se juntou ao protesto para denunciar a situação que os mais pobres estão a viver.

“Existem bairros em Luanda que estão a viver mal, chega a doer o coração. Foi prometida cesta básica mas não foi dada cesta básica a essas pessoas”, declarou a estudante de Direito, salientando que muitos dos que não cumprem o confinamento a que as autoridades angolanas apelam reiteradamente ficariam em casa se tivessem alimentos.

A jovem de 28 anos questionou também a passagem de Angola do estado de emergência para o de calamidade, quando aumentaram os casos de infeção por covid-19.

“Há pessoas que não sabem o que é estado de calamidade e acham que não tem coronavírus na rua e [dizem]: ‘se tenho fome, vou na rua vender’ e lá vêm os senhores da ordem pública bater por que deviam estar em casa”, criticou Ermelinda Tchikuamby.

A estudante frisou que os ativistas querem promover “uma manifestação pacífica, sem qualquer problema, sem qualquer agressão”, mas afirmou que a polícia é rápida “a atirar e dar porretes”

“Por isso, estou a pedir não me matem”, justificou, apontando o cartaz.

Timóteo Miranda, um dos organizadores, explica que a marcha teve vários objetivos, entre os quais chamar a atenção para a situação que se vive devido à pandemia.

“Estamos numa fase muito sensível em que a saúde está em perigo, mas o Estado nunca deixa de ser Estado”, disse o ativista, lamentando que muitas pessoas tenham tido “supressão dos seus direitos e liberdades fundamentais”.

O ativista falou em vários problemas, desde os professores das escolas privadas, que estão sem receber salários há meses, ao escasso acesso à água das comunidades mais vulneráveis.

“Nós entendemos que é necessário nos higienizarmos contra a covid-19, mas entendemos também que é necessário que o executivo crie condições para que a água chegue aos pontos mais distantes do país”, reivindicou.

“Como é que vamos exigir que as pessoas fiquem em casa, se as pessoas não têm o que comer, se grande parte depende do mercado informal”, questionou, criticando “a perseguição sistemática das zungueiras [vendedoras ambulantes], que fazem o seu negócio”.

Quanto à fraca mobilização do protesto, Timóteo Miranda admite estar relacionada com a falta de cidadania, mas também algum medo, que faz com que haja cada vez menos gente na rua.

“Há falta de incentivo à cidadania, nós somos rotulados de frustrados porque exercemos a cidadania”, realçou o estudante de Ciências de Educação, de 21 anos.

“As pessoas ainda não saíram da caverna porque o executivo também não facilita, faz com que as pessoas tenham medo de exercer a sua cidadania”, acrescentou Timóteo Miranda, sublinhando que o mais importante era que os jovens conseguissem transmitir as suas mensagens.

Nos cartazes artesanais liam-se contestações ao partido no poder em Angola há mais de 40 anos – “o MPLA é uma desgraça” -, mas apelava-se também por soluções ao executivo liderado por João Lourenço e à prisão dos corruptos.

Entoando “ativistas unidos jamais serão vencidos”, os jovens que se juntaram à manifestação, onde era obrigatório o uso de máscara para cumprir as medidas de biossegurança, foram acompanhados pela polícia até ao Largo das Escolas, onde foi lido um manifesto com as reivindicações e o protesto terminou, sem incidentes, pelas 15:30.

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