Segundo Bumba, homens alegadamente enviados pela polícia interromperam a reunião, agrediram e detiveram um ativista, que se encontra gravemente ferido. Também foram detidos dois advogados. "Quem tentava obter esclarecimentos acabava preso", afirmou.
Os protestos visam contestar os 50 anos de governação do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), denunciando o desemprego, a pobreza extrema e a degradação dos serviços públicos. En entrevista à DW, Bumba criticou ainda os gastos milionários com o jogo entre as seleções da Argentina e Angola, agendado para sexta-feira, enquanto milhares de crianças continuam fora do sistema de ensino.
Apesar da ausência de resposta oficial por parte do Governo Provincial de Luanda, os organizadores garantem que a manifestação seguirá os princípios constitucionais. A DW contactou o comando da polícia de Cacuaco, mas não foi possível obter uma reação sobre as denúncias.
DW África: O que aconteceu esta manhã durante a vossa reunião de preparação para os protestos de terça-feira?
Yared Bumba: Tínhamos uma reunião marcada, à porta fechada, em Cacuaco, e a polícia enviou um grupo de milicianos. Arrastaram-nos. Começaram a espancar-nos e a perguntar o que se estava a passar. Não percebemos nada. Voltámos para tentar acompanhar o companheiro, na tentativa de o libertar das mãos dos bandidos. Quem entrava para saber da situação acabava por ser preso.
DW África: Quantas pessoas estão presas neste momento?
YB: Três pessoas. Entre elas, uma está gravemente ferida. Está com o pé deslocado e tem feridas no rosto.
DW África: Está prevista uma manifestação para esta terça-feira. Como está esse processo? O que pretendem protestar?
YB: O protesto é contra os 50 anos de governação do MPLA - contra o desemprego, a miséria extrema e a fome. São 50 anos de sofrimento. Este partido-Estado só tem degradado a sociedade angolana. Pagaram mais de 20 milhões de dólares por um jogo que vai alegrar não sei quem, porque naquele estádio nem um milhão de pessoas cabe. Gastaram 13 milhões num campo, enquanto temos 9.000 crianças fora do sistema de ensino. Vivemos uma pobreza extrema nas comunidades. É grave ver crianças a comer do lixo. Não há qualquer intervenção social. Há lixo por todo o lado e hospitais degradados. Não há nada que socorra o cidadão.
DW África: Ou seja, protestam também contra o jogo da seleção da Argentina contra Angola, em Luanda?
YB: É contra tudo. Já tínhamos marcado a manifestação para o dia 14. Avisámos antecipadamente o Governo Provincial de Luanda, entregando uma carta. Também entregámos uma carta para o dia 11 de novembro. O prazo de resposta do governo provincial já passou e, até agora, não recebemos qualquer resposta da polícia.
A polícia não se reuniu connosco para definir os contornos da manifestação, onde pode ou não passar. Mas todas as leis que não estejam em conformidade com a Constituição são nulas. Por isso, vamos seguir apenas a Constituição.
DW África: Estão criadas as condições para o protesto desta terça-feira?
YB: Sim, há condições. Todos os grupos estão devidamente orientados. Há grupos em toda a parte de Luanda, em todas as administrações e municípios. Todos estão concentrados. Amanhã, os grupos vão reunir-se — alguns nas administrações, outros no centro da cidade, perto do governo provincial, outros na zona da Santana.
DW África: Não há receio de retaliação policial?
YB: A lei neste país é a Constituição. Se o Ministério Público ainda não entendeu isso, nós não somos culpados. Somos jovens e queremos o bem de Angola.

