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Segunda, 09 Março 2020 19:56

Bispos angolanos avisam que repatriamento de capitais não deve resvalar na vingança

Os bispos da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) defenderam hoje que o processo de repatriamento de capitais angolanos, um processo urgente e necessário, “não deve resvalar na vingança que pode dar lugar ao ódio”.

A posição consta do comunicado final da I Plenária Anual da CEAST, que decorreu de 03 a 09 de março, no Santuário de Nossa Senhora da Muxima, nos arredores de Luanda.

“O repatriamento de capitais ilicitamente levados para fora do país, sendo um processo urgente e necessário, não deve resvalar na vingança que pode dar lugar ao ódio, mas deve ser um processo de justiça e de perdão e ser um caminho que ajude à consolidação da paz e obrigando os visados a devolverem os recursos ao país”, afirmam os bispos católicos.

Em conferência de imprensa, o porta-voz da CEAST, Belmiro Chissengueti, disse que os bispos chamam a atenção para dois aspetos, nomeadamente a consolidação da paz, “que é necessário” e “um elemento importante”, e fazer com que o que foi levado ilicitamente do país possa voltar.

“Por isso, o que estamos a chamar a atenção é que não haja esse processo seletivo, que pode transparecer uma certa vingança dirigida para A ou B”, disse o também bispo de Cabinda.

Segundo o porta-voz da CEAST, é importante dar a oportunidade para que os que têm dinheiro fora o tragam de volta e invistam no país, assumindo as responsabilidades inerentes neste processo.

“Mas é preciso dar mais tempo, mais oportunidades. O que é que nos interessa gritarmos tanto e não termos nada? Depois de todo este tempo, qual é o balanço efetivo do repatriamento de capitais, quanto é que voltou?”, questionou.

Belmiro Chissengueti perguntou também se os valores de repatriamento divulgados pelo Governo angolano, entre quatro a cinco milhões de dólares, são apenas relativos ao capital do Fundo Soberano recuperado.

“Mas o que é que voltou efetivamente? Talvez pouco ou nada, nós também queremos saber quanto é que voltou”, acrescentou.

De acordo com o prelado, é dado assente que se se continuar a percorrer “o caminho do repatriamento com exigências seletivas e não abrangente, que não tenha em conta a questão da conservação da paz, da sua preservação e também da unidade nacional”, o processo pode “resvalar num ciclo de ódios, que será interminável, porque os ciclos de poder são limitados”.

“Esta atual administração do Estado, vai ficar cinco anos, possivelmente 10 anos, com as próximas eleições, mas temos um futuro muito grande para Angola. Se entramos na espiral de perseguição seletiva, nunca teremos paz em condições”, frisou.

Para o porta-voz da CEAST, através “de uma reconciliação mais abrangente, que permita que o que foi levado possa ser trazido, até com um sentimento patriótico de se querer o bem de Angola, será muito melhor”.

O bispo de Cabinda sublinhou a necessidade de se preservar e garantir a empregabilidade e da existência de uma visão de nação, de honestidade contextual, da reconciliação, o que “não exime a responsabilidade de trazer de volta o que foi ilicitamente levado, contribuindo dessa forma para o desenvolvimento do país, para a criação de emprego e não correr o risco de se destruir empregos”.

“O que é que nós pretendemos afinal? Pretendemos que as empresas fechem, que se aumente o número de desempregados, que se aumente a fome e a miséria ou queremos garantir a empregabilidade e essa empregabilidade é garantida de alguma forma por aqueles que são os principais visados”, sublinhou.

Belmiro Chissengueti reiterou: “É preciso também ter em conta que ficamos muitas vezes emocionados com acusações, mas não olhamos para o dado real que isso produz na vida real das pessoas, o emprego é escasso e tem de se encontrar medidas corajosas para se garantir o seu aumento e não a sua redução”.

Para terça-feira, está prevista uma audiência do Presidente de Angola, João Lourenço, aos bispos da CEAST.

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