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Sábado, 25 Janeiro 2020 18:50

Polícia de Portugal acredita que Hacker português foi o denunciante dos Luanda Leaks

A Polícia Judiciária (PJ) de Portugal acredita que Rui Pinto pode estar na origem da divulgação de dados relativos ao processo Luanda Leaks.

Os elementos da Polícia Judiciária (PJ) que continuam a investigar o pirata português Rui Pinto, que vai ser julgado por 90 crimes no primeiro processo em que é visado, acreditam que o hacker foi o denunciante por trás da fuga de informação de mais de 715 mil ficheiros conhecida como Luanda Leaks. Esse grande volume de dados foi partilhado com o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (conhecido pela sigla inglesa ICIJ) através da PPLAAF, uma plataforma de protecção de denunciantes em África.

Na base da convicção dos investigadores está o facto de muitos dos documentos, que têm sido divulgados nos últimos dias pelos 31 órgãos de comunicação que integram o consórcio de jornalistas que investigou o caso, fazerem parte tanto do processo que está em julgamento como de outros inquéritos que ainda se mantêm em investigação. Os documentos estavam guardados nos dispositivos de armazenamento de dados - discos rígidos, pens, computadores - que foram apreendidos ao pirata português na Hungria e que as autoridades portuguesas já conseguiram aceder. Há, no entanto, muita informação que continua inacessível, já que a maior parte dos discos rígidos apreendidos estavam encriptados com um software que só muito dificilmente poderá ser aberto.

Outro dos argumentos apresentados pelos investigadores da PJ é o facto de um dos fundadores da PPLAAF ser William Bourdon, um dos advogados de Rui Pinto. Especializado na defesa de whistleblowers — tendo representado Edward Snowden, Hervé Falciani (SwissLeaks), Antoine Deltour (LuxLeaks) e Julian Assange (WikiLeaks) — o francês de 63 anos já veio várias vezes a Portugal visitar à cadeia o autor do Football Leaks. Assume actualmente o papel de presidente da PPLAAF, estando responsável pela supervisão e gestão das equipas da plataforma na África do Sul e França.

Confrontado com esta convicção da Judiciária, o advogado português de Rui Pinto, Francisco Teixeira da Mota (que também representa o PÚBLICO), não quis comentar a informação.

Recorde-se que o advogado francês Henri Thulliez, um dos co-fundadores da PPLAAF, tinha revelado ao PÚBLICO que esta organização recebeu os documentos em “finais de 2018, inícios de 2019”, período em que Rui Pinto ainda estava em liberdade em Budapeste, na Hungria, onde foi detido em meados de Janeiro do ano passado. Durante os dois meses que os tribunais húngaros estiveram a decidir se extraditavam o português, este esteve apenas retido em casa, onde chegou a dar uma entrevista. A mesma fonte cita ainda que a organização possuía “confiança no whistleblower” recusando, contudo, revelar em que factores assentavam este sentimento, invocando o dever de protecção de identidade do delator.

“Começámos a receber os documentos [dos Luanda Leaks] no final de 2018, início de 2019. O whistleblower disse-nos que a informação mostrava violações do interesse público e, muito rapidamente, concluímos que o tamanho e dimensão internacional tornariam essencial partilhá-la com o nosso parceiro, o ICIJ”, afirmou, por escrito, Henri Thulliez.

O marido de Isabel dos Santos, Sindika Dokolo, apontou o dedo a Rui Pinto, acusando-o de ser “o braço armado deste complô [Luanda Leaks]”. Em entrevista à rádio RFI Afrique disse ainda que várias empresas tinham sido alvo de ataques informáticos realizados por “um hacker português”. Por sua vez, a empresária Isabel dos Santos apontou o dedo ao Governo angolano, acusando-o de participar num “ataque político coordenado”.

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