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Quarta, 29 Julho 2020 20:19

A extinção do legado do "anti-herói" José Eduardo dos Santos?

Esta quinta-feira entram em circulação as novas notas do kwanza, já sem o rosto do ex-Presidente angolano. Analistas acreditam que devem seguir-se mais medidas para apagar o "símbolo da ditadura".

A cara de Agostinho Neto, o primeiro Presidente de Angola, é a única que se mantém nas novas notas do kwanza, a moeda angolana, que entram em circulação esta quinta-feira (30.07). As novas cédulas deixam de exibir o rosto do ex-chefe de Estado José Eduardo dos Santos, confirmando "algo que já se comentava nalguns meios", lembra o jornalista e analista angolano Ilídio Manuel.

Oficialmente, sublinha, "não houve uma explicação plausível sobre as razões da introdução das novas notas do kwanza. Em princípio, circulavam rumores de que havia necessidade de se proceder a uma mudança do dinheiro, uma vez que estava muito dinheiro fora do controlo governamental. Dizia-se que havia algumas quintas onde havia contentores com kwanzas e também dólares, no sentido de se desestabilizar a economia angolana", recorda.

Depois, a confirmação: "José Eduardo dos Santos já não iria figurar nas novas notas".

A retirada da imagem do ex-Presidente pode ir além da moeda nacional, desconfia Ilídio Manuel: "Já se fala também em alguns meios que algumas instituições, como a Universidade José Eduardo dos Santos, no Huambo, e algumas mediatecas que levam o seu nome tendem a desaparecer".

Do endeusamento ao ofuscamento

Só em Luanda estão as mediatecas "Zé Du" e "28 de Agosto" em homenagem ao nome e à data de nascimento do antigo estadista angolano, "que era tido como um herói", lembra o jornalista. Mas podemos estar perante um caso de "um herói que se converte em vilão".

"Acredita-se que ele amanhã pode vir a ser um anti-herói", conclui.

Inocêncio de Brito, um dos ativistas que protestaram nas ruas de Luanda contra a má gestão da governação anterior e pela destituição do ex-Presidente, acredita que o partido no poder está a tentar livrar-se de um "símbolo da ditadura", depois de ter o rosto de Eduardo dos Santos no bilhete de identidade e espaços públicos angolanos como forma de "endeusamento".

"Pensava-se que ele iria eternizar-se no poder. Nós não estamos a viver ainda uma democracia efetiva, mas o regime do MPLA está a tentar adaptar-se às novas circunstâncias que interessam e a fazer com que esses símbolos da ditadura de José Eduardo dos Santos sejam retirados para dar aquela imagem de que, efetivamente, estamos numa nova era", considera o ativista.

Talvez um dos poucos legados que não estejam em risco de extinção seja a conquista da paz, com analistas a atribuírem este grande feito ao antigo chefe de Estado.

Inocêncio de Brito, no entanto, questiona-o, devido às atitudes do "arquiteto da paz": "O tal legado da paz seria muito bem encarado se José Eduardo dos Santos, depois de 2020, tivesse feito uma reforma nas instituições, se tivesse tido um caminho diferente do que tomou".

As suspeitas de se ofuscar o nome de José Eduardo dos Santos intensificaram-se, na semana passada, quando foi lida uma nota de condolências sobre a morte de Kundi Paihama, ex-membro do Governo angolano, que será sepultado esta quinta-feira. A Televisão Pública de Angola (TPA) tratou José Eduardo dos Santos apenas como patrono da Fundação Eduardo dos Santos (FESA) ao invés, por exemplo, de Presidente emérito. DW Africa

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