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Terça, 17 Março 2020 21:18

UNITA: "Angola deve cortar nas despesas para minimizar drama social"

Oposição angolana está preocupada com possível aumento do preço dos combustíveis. Subida da cesta básica já agravou a vida das famílias. "Governo deve ter a coragem de cortar nas despesas administrativas", diz UNITA.

Em entrevista à DW África, o economista angolano Faustino Mumbica, membro da União para a Independência Total de Angola (UNITA), diz que os impactos da subida do preço dos combustíveis e da cesta básica já têm consequências na vida dos angolanos. A situação é agravada pela descida dos preços do petróleo e pela pandemia do novo coronavírus.

O membro do maior partido da oposição em Angola acredita que há condições para minimizar o drama social que se vive em Angola se o Governo de João Lourenço tiver a coragem de cortar nas despesas administrativas e apostar no setor social.

DW África: A oposição está preocupada com o possível aumento do preço de combustíveis em Angola, sobretudo por causa das consequências sociais, e está a desaconselhar o Governo a fazê-lo. Acha que o Governo vai dar ouvidos aos apelos da oposição?

Faustino Mumbica (FM): Na verdade, o Governo tem prestado pouca atenção ao que a oposição propõe. Portanto, o que nós nos acostumamos foi a ver o Governo, no fim de tudo, a acabar, de forma indireta, por acatar aquilo que a oposição, a regra e a própria sociedade propõem. Contudo, mesmo que o faça, mesmo que não leve em consideração as propostas da oposição neste ponto, entendo que, na verdade, o Governo não tem condições para subir o preço dos combustíveis.

DW África: Os preços da cesta básica em Angola já subiram, portanto, um possível aumento dos combustíveis vai agravar ainda mais a vida dos angolanos?

FM: Sim. É de realçar que a subida dos preços da cesta básica está a ser bastante influenciada por vários fatores, com o grande destaque para o facto de grandes importadores serem, se não de forma direta os governantes, mas de forma indireta são eles, através dos seus sócios que fazem este processo. E como sabe, há uma grande dificuldade de o país ter acesso a divisas e consequentemente está a encarecer os produtos, porque a maior parte dos importadores o fazem com recurso à divisas no mercado paralelo, de um lado. Mas por outro lado, também sabemos que mais do que isso está cada vez mais a florestar uma grande escassez de bens da cesta básica e consequentemente isso faz subir os preços. As pessoas estão a perder a cada vez mais o poder de compra e, na verdade, há aqui um cenário quase imprevisível em termos de impacto sociais que pode também ter grades repercussões no plano político.

DW África: O preço do petróleo, que já estava em queda por causa do avanço do coronavírus, piorou também o fracasso das negociações entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e a Rússia com esta guerra de preços de petróleo. Os impactos se sentem na economia angolana e no dia-a-dia dos angolanos?

FM: Já se sente no dia-a-dia sem dúvidas absolutamente. Basta olhar sobretudo para a escassez de determinados produtos. Por exemplo, nos últimos três, quatro e cinco dias, há um fator que chama bastante atenção, é a escassez de medicamentos que são considerados básicos. Estamos a falar de medicamentos para atender questões das doenças endémicas no nosso país. A questão de paludismo por aí. Mas a verdade é que nós, infelizmente, enquanto país, as políticas adotadas pelos políticos continuaram a insistir permanentemente na excessiva dependência do petróleo. E como se não bastasse, no que diz respeito, por exemplo, a própria política orçamental não se notam medidas de contenção de autoridade. Portanto, o Executivo continua com medidas desperdiças. Mesmo que haja uma revisão do Orçamento, penso que não vai responder a crise que no plano orçamental o Executivo ou país vai viver.

DW África: E parece que também vem aí dias piores para atividade económica. A Comissão Económica da ONU para a África (UNECA) estima que a Angola pode enfrentar uma quebra na atividade e económica de mais de 10% devido aos preços baixos de petróleo e também esta expansão de Coronavírus. Este relatório da UNECA diz que os Governos africanos deviam aproveitar esta crise para melhorar o sistema de saúde e preparar pacotes de estímulos orçamentais. Acha que isto seria possível em Angola?

FM: Penso que seria possível. Repare que Angola tem, independentemente dos vários problemas como é o caso do que acaba de se referir, uma questão que considero endémica que está liga a política orçamental. Há despesas exageradas, sobretudo em questões que podemos considerar supérfluas. Repare que neste momento o país está a gastar dois milhões de dólares na reabilitação, no aumento das instalações onde funcionam as administrações municipais dos governos provinciais que eu penso que é um absurdo neste momento.

DW África: Portanto, a UNITA recomenda vivamente uma revisão orçamental?

FM: Uma revisão orçamental como tal, talvez não. Porque, repare, normalmente sempre que o executor faz a revisão orçamental, "a corda arrebenta sempre no ponto mais fraco”, significa que o Governo faz é normalmente reduzir cada vez mais as despesas em setores sociais. Agora, o que nós pensamos é que efetivamente se houver da parte do Executivo uma medida corajosa, dispensaria a revisão do orçamento. Era simplesmente suspender determinadas dispensas no orçamento, já contribuiria bastante.

DW África: Deveria apostar no setor social?

FM: Exatamente. Ao invés de mexer no setor social era simplesmente olhar para a despesas administrativas, que em regras sabe que são despesas que acabam por dizer mais respeito aos cargos de direção da administração pública, os próprios governantes, enfim o que mais se exige nesta fase é ainda no plano da despesa, olhar-se para aquelas despesas que podem ser proteladas.

DW África: Os peritos acreditam que países como Angola não vão ter dinheiro que precisam para reagir à pandemia do Coronavírus, porque enfrentam outro perigo. Por um lado, são atacados por vírus e, por outro, pelo abrandamento do crescimento económico. Prevê dias difíceis para os angolanos agora?

FM: Sim, até porque os angolanos já vivem dias difíceis. Na verdade, se nós tivéssemos sistemas de informação que atuassem com alguma eficácia e eficiência já estariam a esta altura a revelar indicadores que poderiam estar mais próximos do que está a acontecer na realidade da vida dos angolanos. Os angolanos estão a viver um drama neste momento, mas que infelizmente as nossas estatísticas andam sempre à leigo do que está a ser a realidade. Olhando para todo este quadro, penso que na verdade não há outra coisa que se espera aos angolanos se não dias piores. Contudo, continuamos a insistir que se houver coragem da parte do Executivo haverá condições para minimizar este drama. Portanto, o impacto negativo que se espera do está a ocorrer no mundo e no nosso país, pode ser minimizado, na economia angolana, se o Governo tiver a coragem de a nível das despesas fazer determinados cortes orçamentais. DW África

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