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Domingo, 26 Janeiro 2020 18:50

O 4 de fevereiro e 15 de março: duas datas um só objectivo

Se a minha ideia for uma inferência válida direi que tenho problema de reflexão. Pois, é lógico saber que para Jonh Lock, a fonte de todo conhecimento assenta na experiência sensível e a reflexão.

Todavia, a despeito deste postulado, assevero que os que não viveram a guerra em Angola estão sujeitos a vive-la por meio da reflexão ou dos sentidos, isto é, quem não viveu no tempo da guerra e sente os seus efeitos através dos sentidos biológicos é passível por intermédio dos livros e fontes orais descreve-la e pensa-la, ontologicamente, como se tivesse vivido ou guerreado. Porém, os que não foram à guerra sentem-na e orgulham-se pelos que foram, porque a guerra é de todos.     

À luz da reflexão politológica observei a realidade Angolana por meio dos livros e constatei um grande problema; que se chama politização histórica. A politização histórica pode ser definida como a história contada de forma parcial pelos vencedores e perdedores da guerra colonial ou fratricida de uma Nação, no caso de Angola, constata-se que o MPLA e FNLA (UNITA), actores da guerra colonial contam histórias e estórias desarticuladas. Deste modo, entre a verdade e a falácia, face a história endógena e exógena, simplesmente essa atitude tem gerado dissabor e impele o bom leitor a ler obras de escritores estrangeiros que de forma imparcial conseguem descrever o que não é absoluto, mas é sentido e vivido pelos Angolanos.

O objectivo deste texto é responder a seguinte questão – por que celebramos o 4 de Fevereiro e não o 15 de Março, uma vez que as duas datas são elementos da cultura estratégica e vectores que serviram para o derrube colonial e a independência de Angola? Porém, a resposta assenta, obviamente, na teoria da cultura estratégica.

Trata-se duma cultura ou campo de conhecimento de inteira responsabilidade da Ciência Política e Relações Internacionais, entendido como resultado de vários acontecimentos históricos, geografia e cultura política. Autores como BOOTH, CHAN e JONSTON etc desenvolveram cientificamente a cultura estratégica, e para VERÍSSIMO em Angola não há uma única e, apesar de se desenvolver de forma sitiada, é definida como a forma como os Angolanos através de práticas históricas, cultura política e boa imagem fomentada pela filosofia de pensar, ética e normativa dos povos compreendem e, por conseguinte, respondem aos desafios e ameaças que são impostos no plano interno e externo do país.

O grande desiderato com esta teoria é saber o porquê das atitudes do MPLA, FNLA e UNITA, que são grupos com ideias ou filosofias de acção ofensiva e defensiva diferente e, fundamentalmente, modelos de narrativas que, politicamente, a voz mais influente se propõe identificar a despeito do conjunto de padrões que o poder político lhe proporciona. Decerto, a voz mais influente neste contexto é o MPLA que é um partido que Governa Angola e tem a incumbência de criar e aplicar políticas educacionais que os membros de uma comunidade política adquirem nas escolas e nos livros. É o caso do 4 de Fevereiro e 15 de Março que as crianças, jovens e adultos aprendem nas escolas como duas datas da luta armada contra o regime colonial, mas só a primeira é celebrada pelo MPLA.

A colonização foi um mal que os Portugueses implementaram em Angola nos anos 1930 à 1974, e para acabar com este mal, a FNLA, MPLA e depois a UNITA buscaram lutar contra os portugueses. A ofensiva era análoga e o objectivo era descolonizar Angola e emancipa-la da violência colonial. Foi no dia 4 de Fevereiro e 15 de Março que grupos de tribos diferentes (FNLA-MPLA) por meio da coragem accionaram estratégias de revolta para se libertarem, e enxotarem os portugueses da terra que não lhes pertencia. Este texto pressupõe consertar as consciências que pensam e aceitam, somente, o 4 de Fevereiro e não o 15 de Março, não obstante reflectir o porquê de haver esta dualidade de pensamento sobre duas datas com um só objectivo.

O 4 de Fevereiro é observado como uma data especial da luta armada pelo MPLA e os seus militantes e uma parte do povo menos cauteloso porque, neste dia, somente, os que lutaram contra os portugueses eram do MPLA, que na altura era Movimento Político Revolucionário. Ora, em estratégia tem se dito que "quem vence a guerra é quem conta a história", isto é, depois do processo da guerra civil, o MPLA enquanto vencedor da Guerra e Governo do País despojou o 15 de Março como uma data de guerra proporcionada pela FNLA, e promoveu durante muitos anos uma única celebração do 4 de Fevereiro, deixando o 15 de Março como um só orgulho da FNLA.

    Esta dualidade de concepção é preocupante. Pois, não importa como foi a luta, se um grupo começou primeiro e outro interagiu, o que importa é que foi uma única luta, e celebra-las com vontade nacional é simbólico para Angola, uma vez que as vidas humanas perdidas naquele instante perderam-se para não perderem o território.

Portanto, a política é um factor de actividade que move os homens numa sociedade de contrato, é importante que os órgãos públicos e privados em Angola debatam e se preocupem com os males que impedem o desenvolvimento. Se, sempre, houver parcialidade na forma de ver estas datas, jamais de forma imparcial o Governo presente vai servir os Direitos dos antigos combatentes de forma imparcial. Angola é uma Angola soberana porque, no dia 4 de Fevereiro e 15 de Março de 1961, vários guerreiros tomaram decisões racionais e estratégicas em prol de um presente inesperado. Esse presente ou sonho deóntico do país gerado por um passado mal sonhado ou planificado pode ser inovado com "reconciliação, vontade e carácter nacional", e esse acto pode fortalecer a teoria da cultura estratégica Angolana, uma vez que é a despeito da filosofia de pensar e considerar, ofender e defender, negar e aceitar, criar leis e cumpri-las, respeitar os valores nas diferenças e igualdades históricas e antropológicas que constatamos, ontologicamente, a caracterização débil do estado económico, político, social, cultural, científico e tecnológico de Angola e dos Angolanos [...]   

Dorivaldo Manuel "DORIVAL" – Estudante Finalista de Ciência Política, na Universidade Agostinho Neto, FCS. (2015-2018).

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