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Segunda, 06 Julho 2020 13:25

João Lourenço trava FMI e opta por moratória chinesa

Angola adia pagamentos à China, o seu maior credor, e recusa-se a entrar na iniciativa das maiores economias, com efeito reduzido

Luanda prepara-se para privilegiar uma moratória de três anos para retomar o pagamento da dívida à China, congelando, para já, a sua adesão à iniciativa idêntica que está em cima da mesa do G20 (o grupo das maiores economias mundiais), soube o Expresso junto de uma fonte da presidência angolana. Esta posição ficou bem vincada em reunião recente do Conselho de Ministros, em que, pela primeira vez, o Presidente angolano, João Lourenço, manifestou dúvidas sobre a atuação do Fundo Monetário Internacional (FMI) no país.

Nessa reunião, Lourenço deixou clara a sua oposição à proposta do FMI, que pretendia ver Angola abdicar da moratória ao pagamento da dívida chinesa a favor exclusivamente da iniciativa do G20.

Com receio de ver Angola cair no colo de Pequim, a diplomacia norte-americana entrou em ação e decidiu manter a porta aberta a uma eventual adesão de Luanda à iniciativa do G20 sem os condicionalismos exigidos pelo FMI

“O Presidente foi categórico ao bater o pé, porque terá pressentido que se não seguirmos um caminho diferente do que nos está a querer encurralar o FMI, acabaremos por ser vítimas do seu resgate, e isso seria o fim”, revelou ao Expresso fonte governamental. Para um diplomata ocidental, João Lourenço esteve certo na sua decisão perante um grupo de países que tem manifestado muito pouco interesse em apostar em Angola.

Para a presidência angolana, a diferença entre o tamanho da dívida ao G20 e o alívio proposto não passa de 5%, e por isso concluiu que a pressão do FMI se tornou não só “irrelevante” como o prazo proposto acaba também por ser manifestamente “pouco compensatório”. “Se seis meses é muito pouco, o mais grave é que ao concluirmos um acordo com os chineses teríamos de ‘abrir o jogo’ sobre os termos das nossas negociações, o que para nós é inaceitável”, disse uma fonte do Ministério angolano das Relações Exteriores.

EUA tentam afastar Angola da China

Com receio de ver Angola cair inteiramente no colo de Pequim, a diplomacia americana entrou em ação e decidiu manter a porta aberta a uma eventual adesão de Luanda à iniciativa do G20 sem os condicionalismos exigidos pelo FMI.

“Na altura própria iremos negociar, mas agora a nossa prioridade é a China”, disse ao Expresso uma fonte do Conselho de Ministros. A China é a prioridade de Luanda porque é àquele país que Angola deve metade da sua dívida. Mas a China é também o país que neste momento manifesta maior compreensão em relação às dificuldades de Angola em fazer face aos seus compromissos. E está pronta a estender a mão a Luanda numa altura em que as previsões apontam para um rácio da dívida em relação ao PIB de 123%.

Apesar da pressão da dívida, que poderia colocar Angola à beira da falência, as negociações conduzidas nos últimos três meses pela ministra das Finanças, Vera Daves, poderão, nos próximos três anos, resultar num significativo alívio do seu serviço da dívida. “Foi engenhosa e soube interpretar como poucos a cultura chinesa na sua relação com Angola”, explica um diplomata angolano conhecedor deste dossiê. “Ao conseguirmos adiar o pagamento da dívida chinesa, ficaremos, no futuro, com folga para reanimar a economia em novos moldes”, garantiu fonte governamental angolana. EXPRESSO

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