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Quarta, 25 Novembro 2015 20:28

Festival Terra do Rap no Brasil assinala interdição imposta a MCK por Angola

Vinicius Terra, organizador do festival Terra do Rap, no Brasil, onde devia atuar MCK, impedido terça-feira de sair de Angola, disse hoje à Lusa que o evento vai assinalar a ausência do 'rapper' de Luanda.

“É muito curioso, ao ponto de ser triste, Angola comemorar 40 anos de independência sendo que essa independência é apenas uma questão de estatuto. Ter uma ditadura em que um indivíduo não tem o direito de questionar, de pensar de forma diferente do governo é um retrocesso humano ridículo”, disse à Lusa Vinicius Terra, organizador do Festival Terra do Rap que começou na segunda-feira no Rio de Janeiro.

Na terça-feira, o angolano MCK e um acompanhante preparavam-se para embarcar num voo entre Luanda e o Rio de Janeiro, para uma atuação no dia 26 de novembro no Festival Terra do Rap.

No aeroporto 4 de Fevereiro em Luanda, dois “oficiais que não se identificaram” disseram-lhe apenas que havia um “impedimento por ordens superiores” que não o permitia embarcar.

“Não havia nenhum motivo para que o artista não embarcasse para o Brasil, não havia uma irregularidade plausível para impedir a vinda dele a não ser a questão do MCK ser um artista contundente sobre os aspetos políticos do seu país e de levantar questões políticas”, afirma Vinicius Terra organizador do festival.

A edição de 2015 do Festival Terra do Rap é dedicada à “África Lusófona”, contando com participações de músicos países de expressão portuguesa, incluindo Portugal.

“Nós já estamos a preparar aqui uma intervenção sobre o problema do MCK. Infelizmente, por conta da atitude do governo angolano o festival Terra do Rap que tem uma conotação de bloco lusófono começa também a ter também uma conotação política”, explica o organizador.

Vinicius Terra diz ainda que o festival já tinha agendado um debate sobre os casos relacionados com os assassinatos de jovens negros no Brasil e uma homenagem ao 'rapper' brasileiro Sabotagem, que “morreu violentamente” tendo a investigação policial sido arquivada.

“Amanhã (quinta-feira) temos uma homenagem ao Sabotagem mas já comecei a direcionar os artistas sobre a ausência forçada do MCK e que vai causar muito mais barulho do que se ele estivesse cá. É muito triste o que aconteceu. É uma ação violenta e truculenta por parte do governo angolano”.

Sendo assim, está a ser preparada uma ação com todos os artistas no palco que deve decorrer na quinta-feira há mesma hora em que MCK devia atuar.

Segundo o organizador, a interdição do governo angolano já se transformou, entretanto, “no assunto” do festival.

“Hoje vamos ter debates e tudo isto sobre o MCK é já o assunto do festival que tinha como tema a África lusófona. Agora todos começam a tomar consciência aqui no festival que existe um problema político em Angola e por isso vão ser criadas atividades sobre o próprio MCK e os presos políticos”, sublinhou Vinicius Terra, 'rapper' e organizador do festival que decorre no Rio de Janeiro.

Entretanto, MCK apresentou hoje uma reclamação formal junto dos Serviços de Migração e Estrangeiros de Angola e admite avançar com uma queixa-crime caso não sejam fornecidas explicações.

“Nós queremos fazer valer os nossos direitos até às últimas consequências e o primeiro procedimento é esta carta administrativa e se eventualmente não responderem apresentaremos uma queixa-crime”, disse à Lusa o 'rapper' angolano em contacto telefónico a partir de Lisboa.

Lusa

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