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Segunda, 11 Mai 2015 14:09

Anselmo Ralph: “Eu sei que esta fase de sucesso vai acabar, por isso, estou a curti-la ao máximo”

Com 32 anos, é o artista angolano com mais discos vendidos em Portugal. Protagonista dos principais êxitos das rádios e pistas de dança nacionais, já esgotou o MEO Arena por duas vezes. Eis Anselmo Ralph, o artista que deixou o país rendido ao ritmo do Kizomba. Em entrevista ao ComUM, depois da sua atuação no Enterro da Gata, falou da fase de sucesso que está a viver, do carinho dos portugueses pelos artistas angolanos e da forma como se prepara para o futuro.

Em poucas palavras, quem é este angolano que já conquistou o país com os ritmos do Kizomba?

AR: [Risos] É um rapaz que já viveu um pouco pelo mundo inteiro… Nem sei bem, é muito difícil falar de mim… Mas, bem, é mais um angolano a tentar fazer música com qualidade, a tentar levar o nome de angola e a musicalidade angolana além-fronteiras. E, é importante agradecer aos portugueses a forma carinhosa como têm recebido a música angolana. Acredito que esta nova geração tenha começado pelo Anselmo Ralph, mas, hoje, já não é só o Anselmo Ralph que tem o carinho do público português… Acho, também, que o meu trajeto foi muito facilitado por outros músicos angolanos, que vieram antes de mim, como o Bonga, o Paulo Flores, e muitos outros… Na verdade, isto é um trabalho de equipa. Por isso, não quero ficar com os louros só para mim.

A relação entre Portugal e Angola é secular. Mas, há cada vez mais portugueses a viver em Angola e vice-versa. Acredita que este intercâmbio cultural favoreceu o sucesso da sua música, no nosso país?

AR: Eu penso que outrora, sim, houve um intercâmbio cultural. Mas, depois, também houve uma fase em que isso não se sentia. Em Angola, não recebíamos tanta música feita em Portugal, por músicos portugueses, e vice-versa. Mas hoje, realmente, é bonito ver os artistas angolanos serem aplaudidos cá, assim, como os artistas portugueses são aplaudidos em Angola. Eu acho que isto nos torna mais unidos e, acima de tudo, engrandece mais o mercado da música cantada em português.

Já sentiu algum tipo de preconceito ou dificuldade em singrar profissionalmente, pelo facto de ser negro?

AR: Claro que senti! Não vou tapar o Sol com a peneira. Mas, senti essa dificuldade da mesma forma que, talvez, um português sentiria em Angola. Se para mim, que sou angolano, conquistar o meu país já é difícil, conquistar um país estrangeiro ainda vai ser mais … Em todos os casos, um artista está sempre sujeito a situações muito difíceis. Mas, eu acho que as coisas fáceis não dão gosto. As coisas difíceis é que nos fazem olhar para o céu e agradecer.

A verdade é que conseguiu, mesmo, alcançar um grande êxito e aceitação no nosso país. Acredita que isto pode ser um indício de uma maior abertura étnica e ideológica da nossa sociedade, especialmente, em relação aos povos africanos?

AR: Eu penso que Portugal tem ajudado muito os músicos africanos a levarem a sua música pela Europa inteira. Como nós, os PALOP, partilhamos a mesma língua, Portugal acaba por ser a nossa porta de entrada para outros mercados. Depois, como o povo português é forte em emigração, conseguimos ter uma maior indústria de concertos, a nível da europa. Então, eu acredito que este carinho que o povo português tem por mim acaba por abrir mais portas para outros sons culturais, outros estilos musicais, não só de Angola, mas também de outros países, como Moçambique e Cabo Verde… Acho que agora é a hora! Mas, também, devo dizer que tudo é uma questão de modas…

O Anselmo tem consciência de que esta “fase dourada” que está a viver pode acabar, ou acredita que com trabalho ela pode perdurar?

AR: É claro que eu trabalho no sentido de a fazer persistir. Mas, eu tenho noção, não que pode acabar, mas que tem de acabar! Talvez, por isso, é que quero curtir esta fase de sucesso… E, estou a mesmo a curtir! De forma responsável, inteligente… Curtir os fãs, os abraços, os autógrafos, os aplausos… Porque sei que vai acabar, e eu quero viver cada ciclo da minha vida de forma intensa… Quero ser feliz em cada ciclo da minha vida: o ciclo da juventude, o ciclo em que trabalhamos para conseguir aquilo que queremos, o ciclo de quando conseguimos e estamos no auge, e ciclo do ‘fiz tudo e agora deixa curtir a minha família e estar mais descansado’ [sorri].

E como é que o jovem tímido, que vivia no recato de Angola, consegue, agora, enfrentar as legiões de fãs que o perseguem, no nosso país?

AR: [Risos] Não sei, não sei… É que não sei, mesmo! Mas, eu acho que nuca deixei de ser tímido. Por isso é que falo muito, falo pelos cotovelos [risos].

Quando sobe ao palco sente que se transforma, ou o Anselmo dos concertos é o mesmo do dia-a-dia?

AR: [Pede ajuda ao manager para responder] Não… Sou muito mais pacato, mais contido… O Anselmo em palco é muito mais enérgico!

A aposta na produção musical e na sua imagem são estratégias para uma internacionalização mais ampla?

AR: Sim, de certa maneira sim… 2014 foi um ano em grande, e eu acho que, à medida que vamos crescendo, temos que apresentar coisas novas. Até porque o público está sempre à espera de mais. E nós temos de melhorar, não só porque nos queremos internacionalizar, mas por respeito ao nosso público.

Das rádios para uma telenovela, como foi a experiência de dar voz ao genérico de “A única mulher”?

AR: Foi ótimo! Fiquei muito feliz. Principalmente, por ser uma telenovela gravada, parcialmente, em Angola… Se a novela fosse emitida na China ou no Japão, eu já ficaria feliz. Mas, como é em Portugal, eu ainda fico mais feliz. Portugal já é a minha segunda casa! É tanto o carinho, tanta a consideração dos portugueses que não tenho forma de não me sentir em casa. Este desafio foi mesmo ouro sobre azul!

Pela primeira vez em Braga, como correu este concerto?

AR: Foi super, foi muito bom de se ver! O pessoal no recinto, fora do recinto, ou mesmo no fundo… todos eles vibrando. Muitos deles nem estavam a ouvir em condições, ao fundo… Já estavam a ouvir com eco, e estavam a ver-me só aos centímetros… Mas, mesmo assim, não arredaram pé, e ficaram até ao fim. Já deviam estar cansados, até porque houve o concerto dos D.A.M.A, e ficaram muito tempo à espera… Tinham muitas razões para não vibrar. Mas, a verdade é que estiveram sempre animados. Foi do melhor, não vejo a hora de voltar!

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