“Nós não somos contadores de anedotas, fazemos stand-up commedy, que é ‘humor cara limpa’ (…), é um humor sem preconceito onde falamos de tudo e mais alguma coisa, começou por contar Daniel Violola, ou Costa, como é conhecido, acrescentando que o show dos Tuneza contém sempre uma dimensão de música e dança porque isso é característico do povo angolano, que apesar da adversidade consegue sempre divertir-se.
José Chieta, ou Tigre, vai ainda mais longe: “Vemos que em cada angolano encontramos um humorista e mais alguma coisa”. Ideia partilhada por Daniel Violola, que acrescenta, em tom de brincadeira: “Temos mais de 20 milhões de concorrentes”.
É num ambiente de natural boa disposição que damos início a esta entrevista, às portas da sala do Coliseu dos Recreios, em Lisboa, dias antes da subida dos Tuneza ao palco. O grupo, levantou o véu sobre aquilo que leva a Portugal: “Nós vamos trazer aqui um espectáculo já conhecido, foi feito há pouco tempo em Luanda, claro que alterado e enquadrado com a realidade de Lisboa. Queremos ter muito mais interacção com o pessoal aqui, algo que é característico do grupo”, explica Gilmário Vemba.
NGA não vai poder estar presente neste show, como inicialmente avançado, devido a incompatibilidades de agenda, mas os Tuneza contam com outras visitas de peso, entre elas Don Kikas e o humoristas português Nilton, contou Daniel Violola.
Quando lhes perguntamos se alguma vez alguém levou a mal as suas piadas, não negam, mas garantem que nunca tiveram problemas sérios com isso. “Nós brincamos com muitas situações mas é claro que temos o cuidado de não ferir a sensibilidade de ninguém”, conta Gilmário Vemba.
O que acontece regularmente, porém, é alguns fãs não distinguirem a realidade da ficção, chegando mesmo a insurgir-se contra algumas personagens por destratarem outras, conta Cesalty Paulo.
Não se considerando “contadores de anedotas”, Gilmário salienta que uma das partes mais interessantes do seu trabalho é conseguir fazer humor com coisas que obrigam o espectador a reflectir mais tarde. Orlando Rodrigues Kikuasa concorda e acrescenta: “Há piadas muito elevadas e há pessoas que para perceberem levam um tempinho. Há pessoas que vão assistir ao nosso espectáculo e só ficam a rir quando chegam a casa”, diz de sorriso aberto.
E como fazer rir está longe de ser tarefa fácil, os Tuneza revelaram ao SAPO a sua estratégia em palco. “Como somos cinco, temos dois líderes de palco. Sempre que a cena não estiver a funcionar, os líderes de palco são obrigados a encontrar a linha B para ir buscar riso, porque a nossa missão é fazer rir”, diz José Chieta, ou Tigre.
“Nós somos muito críticos para com o nosso trabalho, então enquanto um está à frente a fazer a piada, estão quatro atrás a ouvir e a avaliar. A ver os momentos altos e baixos e, claro, nós sentamo-nos para fazer uma avaliação do nosso trabalho”, confessa Gilmário Vemba ao SAPO.
Depois deste espetáculo, os Tuneza regressam a Luanda, dia 25, e ao show “Blá blá blá com os Tuneza”, que tem sido a ‘porto seguro’ do grupo nos últimos tempos. “O espectáculo está sempre cheio (…) e isso para nós é bom porque funciona como o nosso laboratório, onde vamos testar as piadas, onde nos sentimos mais à vontade”, conta Gilmário, sem resistir deixar uma piada final: “Para nós é fixe porque também garante um pãozinho”. Depois o grupo continuará a sua digressão e está prevista a passagem por Moçambique.
Quanto a um dos segredos para o sucesso dos Tuneza? Aqui fica: “Temos cinco cabeças a pensar, discutem muito, porque nem sempre as ideias estão na mesma linha, mas é isso que faz o espectáculo correr bem”, diz Gilmário.
SAPO