Depois do Bank of America, um segundo grande banco internacional anunciou a suspensão da venda de dólares a Angola. A decisão do Standard Chartered vem assim criar renovadas dificuldades para as autoridades angolanas lidarem com a falta de dólares no mercado, que está a afetar a economia.
Na base da decisão do Standard Chartered está a necessidade de cumprir os padrões internacionais de transações financeiras. Angola está, segundo a organização Transparency International, entre os 20 países mais corruptos do mundo. Há suspeitas de que algumas transações tenham vindo a ser usadas no branqueamento de capitais.
Numa nota, o banco baseado no Reino Unido e presente em Angola desde 2010 anuncia que decidiu abandonar todos os negócios “off-shore” em dólares com bancos comerciais angolanos. Excluídos ficam pagamentos internacionais, comércio e investimento na divisa norte-americana.
Mantêm-se operações em kwanzas e atividades interbancárias. Também a joint-venture com a Empresa Nacional de Seguros de Angola, iniciada no ano passado, é para continuar, afirma.
No início de novembro, o Banco Nacional de Angola foi informado da suspensão pela Reserva Federal e transmitiu a informação aos principais bancos angolanos. Mas realçou apenas parte da justificação – a probabilidade de organizações/redes do terrorismo internacional estarem a financiar-se através de tal dinheiro.
É relegada para segundo plano a razão principal: uma sistemática violação de regras internacionais do sector financeiro, cuja observância cabe ao BNA, segundo a newsletter.
O Bank of America, que disponibiliza a maior parte dos dólares usados pelos bancos angolanos, já tornou efetiva a suspensão, segundo a agência Bloomberg. Os dólares eram distribuídos através do sul-africano Rand Merchant Bank.
No dia-a-dia, a falta de dólares é cada vez mais sentida. As pessoas estão a ser incentivadas a usar outras divisas, sobretudo o euro, o rand sul-africano e o renminbi chinês. Além disso, os clientes bancários estão a recorrer cada vez mais a cartões de crédito e transferências bancárias.
O Banco Nacional de Angola tinha referido no dia 5 que reduzirá a entrega aos clientes de “dinheiro vivo” em moeda estrangeira, além de limitar as transferências internacionais, numa tentativa de segurar o kwanza.
Segundo a Reuters, os analistas esperam nova desvalorização do kwanza. Nos últimos meses, o banco central angolano já desvalorizou a moeda angolana em Junho (6%) e Setembro (4%).
Angola vive uma crise económica, financeira e cambial, decorrente da quebra da cotação internacional do barril de crude, que fez cair para metade, no espaço de um ano, as receitas com a exportação de petróleo.
Este ano, o kwanza já perdeu cerca de um terço do seu valor. Nas ruas, o valor do dólar está cerca de 20 por cento acima do câmbio oficial. Alguns cambistas de rua afirmam não ter dólares para venda.
AO24 | AM