A Federação Angolana de Futebol (FAF) disponibilizou 48 mil ingressos, mas anunciou o fim das vendas ao terceiro dia, deixando centenas sem bilhete e denunciando irregularidades. Paralelamente, multiplicam-se críticas aos gastos estimados com a presença da seleção argentina em Angola, país que comemora os 50 anos da Independência.
Entre os que pernoitaram junto ao Estádio da Cidadela, um dos locais oficiais de venda, estava Osvaldo David.
"Não consegui comprar bilhete, apesar de dormir aqui. Disseram-me que os bilhetes estavam a ser vendidos ao preço de 1.500 Kwanzas (cerca de 1,40 euros). Nós permanecemos aqui à espera e não vimos alguém comprar mais de duzentos ou trezentos bilhetes, mas dizem que os bilhetes terminaram. Para onde é que levaram os bilhetes? Isso é um sistema. A FAF tem de falar verdade, pois acredito que está a haver máfia. Há jovens que compraram bilhetes a 1.000 kwanzas (cerca de 0,94 euros) e estão a vender a 10.000 kwanzas (9,40 euros)", acusou.
Também Marcos Daniel Cadimão expressou desconfiança: "Acompanhando as informações nas redes sociais, diz-se que os empresários compraram todos os ingressos. Talvez tenha havido alguma 'máfia' na venda de bilhetes".
Jorge Domingos, igualmente inconformado, reforçou a crítica, declarando que dormiu junto das bilheteiras.
"O que acho que está a acontecer aqui é que eles (FAF) tiram os bilhetes de dentro para fora, e entregam a alguns jovens que estão a revender a preços altos aqui fora", contou.
A polémica cresceu também em torno dos custos associados ao jogo. Estima-se que a Argentina receba cerca de 12 milhões de euros para defrontar Angola, valor ao qual partidos políticos e organizações da sociedade civil somam despesas de viagem, hospedagem e segurança para mais de 80 elementos da comitiva, apontando para um total próximo dos 20 milhões de euros.
"Houve precipitação do nosso Estado desse ponto de vista. Acho absurdo gastarmos esses valores todos, apesar de estarmos a comemorar 50 anos de independência", referiu Gerson Cabina.
Osvaldo David mostrou-se "triste", considerando que "o dinheiro deveria ser investido na comida, nas escolas e hospitais", e lembrou: "O nosso país está a sofrer, devido à fome, o saco de arroz está a custar 22 mil kwanzas (20,70 euros), não conseguimos comer nada".
Jorge Domingos partilha a opinião, defendendo que os 12 milhões poderiam ser investidos no "combate à fome, e em emprego para os jovens".
O governo angolano não divulgou os valores oficiais, mas desmentiu as cifras avançadas, afirmando que os custos serão suportados por três empresários angolanos.
A expectativa para o jogo, agendado para sexta-feira, às 16:00 (horas de Lisboa), no Estádio Nacional 11 de Novembro, permanece elevada.
"Há muita ansiedade em se poder ver os campeões mundiais, a perspetiva é positiva, estamos a aguardar que seja uma partida bem disputada. Quanto ao resultado, perspetivo um empate a dois golos", prognosticou Gerson Cabina.
Osvaldo David evita arriscar um vencedor, mas torce por golos angolanos: "A Argentina é uma grande seleção, pois já foi campeã Mundial, mas espero que o Gerson Dala e o Mabululu marquem".
Marcos Daniel Cadimão acredita numa vitória à justa: "A seleção argentina é a melhor do mundo, ganhou o Mundial e a Copa América, mas nós gastamos para a nossa festa, nós só queremos ganhar 2-1, e espero que seja o Mabululu a marcar os golos".

