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Sexta, 19 Agosto 2016 16:31

Mulher acusada de feitiçaria foi levada pela população à polícia

Moradores do bairro do Tunga-Ngó, Município do Cazenga, levaram hoje uma mulher à 18º esquadra policial, acusando-a de feitiçaria, depois de ter sido encontrada no interior de uma casa a "lavar a loiça", durante a madrugada, pelos proprietários, que garantem que a porta estava fechada.

Carla dos Santos, dona da casa onde a mulher foi descoberta, explicou ao Novo Jornal Online que a encontrou dentro da cozinha quando eram 03:00 de hoje a lavar a loiça. A mulher que a população acusa de ser feiticeira aparenta ter 45 anos de idade.

Ao vê-la, a dona da casa assustou-se e chamou a família que a levou a uma esquadra policial, de onde foi transferida para a Psiquiatria Geral de Luanda.

"Ouvia fortes barulhos na cozinha, mas não sabia ao certo o que era, pensava que fossem os ratos. Como os ruídos eram constantes, fui até lá e encontrei a senhora de calcinha e, quando a questionámos, disse que estava à procura da sua irmã". E estava também a lavar a loiça numa bacia com pratos mas sem água.

Segundo a dona da residência, a suposta feiticeira confessou que é vizinha, mas que não poderiam reconhecê-la "porque estava escondida por detrás da(quela) cara rugosa".

Carla, ainda amedrontada com a situação, disse que está admirada como a senhora conseguiu entrar com as portas todas fechadas.

Os vizinhos aperceberam-se da situação: "Uns gritavam para lhe queimar, outros jogavam-lhe objectos", mas Jorge Francisco, dono da residência, e alguns próximos, optaram por levá-la à esquadra policial.

Vários moradores estão preocupados com a constante "caída" de pessoas dentro de casas durante a noite e madrugada, como explica Adriana Jorge, moradora do bairro do Tunga-Ngó, há mais de dez anos.

"Na passada madrugada de segunda-feira também nos deparámos com uma situação igual. Demos conta porque, durante a noite, a suposta feiticeira gritava devido às dores que sentia, só não saímos porque tínhamos muito medo", disse a moradora de 36 anos.

Carlos Justino, de 57 anos de idade, disse que a última vez que ouviu uma situação do género foi em 2015, realçando que vários vizinhos foram obrigados a abandonar a sua residência porque achavam que estavam a ser seguidos por familiares ou até mesmo vizinhos.

Contactado o comandante da 18.ª esquadra do Cazenga, António Moreira, disse que a suposta feiticeira já se encontra sobre custódia da Psiquiatria Geral de Luanda e que não poderia adiantar mais nenhum dado.

As pessoas que a levaram acabaram, como se vê na foto, por ficar a aguardar o destino da mulher depois de ter sido entregue à PN.

Explicação razoável

Se por um lado, conforme adiantou ao Novo Jornal Online uma psicóloga, como existe nas comunidades angolanas uma profunda crença no feiticismo ou na magia, resulta normal que as pessoas qualifiquem estas situações como se tratando de feitiçaria ou actos de magia, quando, na realidade, se trata apenas ou de distúrbios psicológicos ou algum tipo de intencional perseguição a outro, aproveitando esse tipo de crenças populares que, normalmente, atribuem poderes maléficos às "feiticeiras".

No caso que é apresentado, desconhecendo a situação com profundidade, aparenta tratar-se ou de uma pessoa com problemas mentais ou que, tendo sido encontrada na casa de outrem, ficcionou qualquer distúrbio para melhor lidar com a situação. Por exemplo, se estivermos perante uma tentativa de furto.

A questão de ter sido encontrada no interior de uma casa cujos proprietários garantem que tinham portas e janelas bem fechadas... "pode muito bem acontecer que, acreditando que assim era, estarem enganados", e terem deixado alguma forma de entrada na sua residência menos bem fechada.

No entanto, esta técnica enfatiza o facto de a senhora ter sido levada à polícia sem agressões físicas de monta, o que é um comportamento adequado e de sublinhar quando, noutras situações semelhantes, como bem se sabe, o resultado tem sido outro e mais violento.

NJ

 

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