Quinta, 26 de Junho de 2025
Follow Us

Quarta, 13 Julho 2016 17:08

Com engenho e arte, transformam-se kwanzas em euros e dólares

A questão que mais atormentava, até há uns meses, os estrangeiros a trabalhar em Angola era: a quanto está o dólar na rua? Hoje é outra: há dólares em algum lado? Não, não há... ou quase não há. Perante este cenário, como transformar os kwanzas em euros ou dólares? Com muito engenho e arte...

Expatriados e angolanos estão a recorrer a engenhosas soluções para ultrapassar a falta de divisas no país e a impossibilidade de trocar a moeda nacional, o Kwanza, no exterior. Uma das soluções mais habilidosas passa por adquirir em Angola objectos, de arte ou outros, com valor de colecção na Europa, mas pouco ou nada valorizados no país, exportá-los e, dessa forma, transformar kwanzas em euros ou dólares.

Sabe-se que as situações de crise apuram o engenho e a arte e, em Angola, a crise chegou com força, levando à criação de múltiplas soluções para contornar obstáculos, como a quase impossível transferência de salários dos expatriados para os seus países de origem ou o envio de dinheiro para familiares que se encontram fora de Angola a estudar, por exemplo, ou em tratamento médico.

Aquisição de diamantes em Angola, no mercado legal, com a devida certificação, com kwanzas e vendê-los posteriormente na Europa; adquirir carros antigos, que em Angola não têm valor para os coleccionadores e na Europa são procurados, aparelhos electrónicos, como telemóveis de modelos recentes... são alguns dos mecanismos que estão a permitir a estrangeiros a trabalhar em Angola transformar os salários que recebem em kwanzas nos euros ou dólares que precisam no país de origem.

"Esta é uma das razões que levou muitos dos expatriados portugueses a não regressarem a Portugal depois da crise se ter instalado em Angola", aponta ao Online do Novo Jornal um quadro português de uma empresa com sede em Luanda.

Ganhar com a crise

Com a queda abrupta do preço do barril de petróleo nos mercados internacionais, as divisas, euros e dólares norte-americanos, começaram a desaparecer dos bancos comerciais e, depois, com maior incidência a partir de 2013, lenta mas inexoravelmente, do mercado informal.

Actualmente, as transferências através dos bancos comerciais são quase impossíveis e, quando acontecem, podem demorar entre três a seis meses, restando o recurso às "kinguilas" que, no mercado informal, estão a trocar dólares a cerca de 650 kwanzas ou euros próximo dos 750, quando o câmbio oficial é de 166 Akz para cada dólar e 185 para um euro e, mesmo assim, cada vez mais difíceis de encontrar.

Perante este cenário, admite ao Online do Novo Jornal um empresário português que pediu anonimato, "não admira que as pessoas procurem soluções", muitas delas, adianta, "porque não estão em condições de deixar o país", seja porque "investiram em Angola" ou porque "estão a trabalhar e o regresso não surge como solução porque em Portugal as coisas estão tão ou mais complicadas".

Apesar de a maioria pretender apenas não perder dinheiro com a transformação dos seus salários ou, no caso dos empresários, lucros obtidos em kwanzas nos desejados euros ou dólares, há casos em que o engenho permitiu desbravar um caminho de lucros, por vezes, avultados.

É o caso da aquisição de viaturas, incluindo antigas e com valor acrescentado devido à procura por parte de colecionadores europeus, em Angola e em kwanzas, exportando-as de seguida para países como a Bélgica, onde não existem impostos que são aplicados em Portugal, como é o caso do Imposto Automóvel ou onde o próprio IVA é mais baixo, gerando avultados lucros.

"Na verdade, as coisas são bem mais simples do que aquilo que parecem. Porque o que estamos a fazer é apenas usar os kwanzas que temos para comprar coisas em vez de divisas, que, como se sabe, são cada vez mais raras", descreveu ainda o mesmo empresário português.

Obter kwanzas em Luanda

Mas não são só os expatriados a recorrerem a estas fórmulas engenhosas. Os angolanos também o estão a fazer. Um dos recursos para fazer face à crise que o país atravessa é vender a expatriados propriedades adquiridas no estrangeiro em alturas de maior bonança, recebendo em Angola em kwanzas.

Durante os anos de maior bonança, consentida pelo barril do petróleo nos mercados a ultrapassar a barreira dos cem dólares, sendo os 147 conseguidos no verão de 2008 o momento mais alto, gerando grandes e lucrativos negócios a muitos empresários angolanos, foram comprados imóveis em países europeus, nomeadamente em Portugal, como quintas agrícolas ou casas de habitação.

Hoje, com a crise também a bater-lhes à porta, muitos destes angolanos, empresários ou com negócios pontuais, optam por vender essas propriedades a expatriados com disponibilidade de kwanzas em Angola, gerando uma situação que a todos satisfaz. Os primeiros ficam com liquidez e os segundos com património no país de origem que pode, em qualquer altura, ser transformado em cash.

NJ

 

Rate this item
(0 votes)