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Quinta, 30 Junho 2016 19:50

"A obsessão com o controlo de tudo faz com que o PR atraia a zombaria de todos" - Reverendo Nzinga

Co-fundador do Grupo Angolano de Reflexão para a Paz e ex-secretário executivo do Comité Inter-Ecclesial para a Paz em Angola, o reverendo Daniel Ntoni Nzinga, da Igreja Evangélica Baptista, notabilizou-se pelo olhar crítico e avisado sobre a realidade nacional, centrado, em entrevista ao Novo Jornal, nas eleições gerais de 2017 e na consolidação democrática do país.

"Um dos graves problemas que dificultam o funcionamento normal da democracia em Angola é o fraco compromisso da classe política angolana com o exercício da cidadania activa por todos os angolanos", defende o reverendo Daniel Ntoni Nzinga em entrevista ao Novo Jornal, publicada a 24 de Junho e aqui revisitada.

Apologista de "novas visões e políticas, bem como de novos programas e formas de trabalhar", o religioso considera que "o fraco compromisso com os valores humanos", nomeadamente a honestidade, a liberdade e a justiça, é uma das razões por detrás das "crises políticas, económicas, sociais e até de moral", que o país tem atravessado desde a Independência, em 1975.

"Isto faz com que muitos compatriotas responsáveis por serviços e dirigentes das instituições do Estado privilegiem a sua sobrevivência nas posições que ocupam no Estado em detrimento da vida da nação e dos interesses da pátria", critica Ntoni Nzinga, lamentando que as lideranças "não assumam plenamente a responsabilidade pelos erros e falhas".

A falta de sentido autocrítico agrava-se, segundo o reverendo, pelo facto de o Presidente da República ser também o chefe do Governo.

"É normal que seja acusado de tudo e por todos", aponta, "porque o Executivo "deixou de ser constituído por governantes de pleno direito", passando apenas a integrar "assessores nomeados sob a designação de ministros", que apenas cumprem ordens superiores.

"A obsessão com o controlo de tudo faz com que o Presidente atraia a zombaria de todos, e seja o esconderijo daqueles que se servem das suas prerrogativas para esconder as verdadeiras motivações das suas acções e respectivos comportamentos", prossegue Ntoni Nzinga.

"Precisamos de rever o conceito de oposição"

Para agravar a realidade política, o co-fundador do Grupo Angolano de Reflexão para a Paz duvida "da capacidade dos partidos que temos dentro e fora do parlamento de estarem ao serviço da nação que pretendem representar".

Defendendo que "precisamos de rever o conceito de oposição ao partido no poder", o reverendo considera que esse trabalho não deve ser prerrogativa apenas das forças com assento parlamentar.

"A perspectiva muito estruturalista vigente no nosso país não permite que haja uma oposição devidamente organizada. Só se fala da oposição quando se trata dos partidos com assento no parlamento. Sabe-se, porém, que a oposição tem tido pouco em comum, seja em termos de visão como de programas", nota o religioso.

Segundo Ntoni Nzinga, "pior ainda é o facto de os deputados no parlamento serem obrigados a representar os partidos que os colocaram naquela casa e não o povo que alegam representar".

Por isso, propõe uma reflexão: "A questão que temos de tratar é de saber se temos políticos ao serviço do povo ou papagaios que se servem das posições no parlamento para cuidar de seus interesses?".

Em nome da "consolidação da paz e reforço da confiança na governação democrática", Ntoni Nzinga apela ao cumprimento do calendário eleitoral.

"Não se deve contemplar a hipótese de adiar o pleito previsto para o ano de 2017. É melhor suspender a execução de outras tarefas que podem esperar por melhor tempo do que adiar as eleições", aponta, sem esconder as suas "reservas acerca do presente formato de promoção e administração eleitoral", representado pela Comissão Nacional Eleitoral.

"Considero-o ideologicamente ligado à governação monopartidarista, que se servia da visão do Estado herdado do colonialismo português, e cujo funcionamento era ditado pelo princípio de quem manda ordena e quem não manda apenas cumpre".

NJ

 

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