O mais recente episódio de violência deu-se no último fim-de-semana em Quimbele, província do Uíge. O secretário provincial da UNITA, Félix Simão Lucas, e o secretário municipal da Casa-CE, José Pedro, acusam o dirigente local do MPLA de orientar um ataque que causou vítimas entre os seus próprios militantes. Os confrontos entre apoiantes dos partidos fizeram um morto e 12 feridos, 3 em estado grave.
“Isso foi uma orientação do primeiro secretário municipal do MPLA, que nos dias 3 e 6 do mês em curso convocou uma reunião para orientar a juventude a agredir qualquer partido na oposição que entrar em Quimbele”, afirmou o responsável do Casa-CE, citado pela VOA Português.
A 25 de maio, deu-se o mais grave incidente recente: um ataque a militantes e deputados da UNITA no Cubal, província de Benguela, que fez, pelo menos 3 mortos. Responsáveis locais citados pela VOA Português apontam para um número muito superior de vítimas.
O incidente levou o líder da UNITA, Isaías Samakuva, a apresentar ao presidente um protesto formal, pedindo uma rigorosa investigação para que os seus autores sejam criminalmente responsabilizados. As autoridades remetem a responsabilidade pelos confrontos para a ausência de comunicação prévia da ação da UNITA no terreno.
Mas, já depois destas acusações a nível institucional, cerca de 180 militantes da UNITA terão sido desalojados no Cubal, por um “soba” apoiado por membros de um auto-proclamado Movimento da Defesa Civil, encabeçado por supostos militantes do MPLA, segundo a VOA Português. Dezenas viram queimadas as suas casas e encontram-se ao relento, perante um comando da Polícia “apático”.
Entre os episódios de violência mais recentes destaca-se ainda a perseguição e ataque a tiro à caravana do Secretário Provincial da UNITA no Kuando Kubango, Adriano Sapinala, a 23 de Abril, no Município do Dirico, Comuna do Mucusso.
A UNITA acusou efetivos da Casa Militar e da Polícia Nacional de dispararem contra militantes que participavam numa manifestação presidida pelo Secretário Provincial da UNITA, na presença do deputado Manuel Savihemba.
A sucessão de incidentes, numa altura em que as máquinas partidárias começam a mobilizar-se para a campanha eleitoral de 2017, levanta questões em relação à disponibilidade para as autoridades e forças policiais deterem o fenómeno. Até porque têm dispendido meios de segurança e informações de forma eficaz no controlo de movimentos desalinhados - tendo inclusivamente condenado a penas de prisão pesadas um grupo de intelectuais e artistas ligados a estes movimentos.
Enquanto a atenção pública, angolana e internacional, se concentra principalmente nas tentativas de manifestação por movimentos contestatários que vêm tentando fazer da libertação dos "15+2" um elemento mobilizador e galvanizador – e cujas marchas têm sido sucessivamente frustradas pelas autoridades, mais recentemente a 20 de junho – a violência interpartidária vai ganhando expressão, sobretudo fora de Luanda.
Segundo o Briefing Africa Monitor, as antigas rivalidades partidárias a nível local são empoladas pela atual situação de carências. "O surgimento de convulsões sociais é favorecido pelo descontentamento em alta, entre uma população a subsistir com ainda maiores dificuldades devido à falta de acesso a serviços sociais, encarecimento de bens essenciais, desemprego e crescente percepção das desigualdades de rendimento em relação às elites políticas e empresariais – de que é exemplo a omnipresença da “família presidencial” nas áreas chave da economia".
"As próximas eleições irão decorrer num clima de maior crispação, mesmo que as condições económicas melhorem no próximo ano, e mesmo levando em linha de conta a habitual generosidade pré-eleitoral das autoridades. Perante este risco, é de nota que tanto os incidentes de Dirico, como os de Cubal e Quimbele, como outros anteriores, apontam na sua origem para atos de provocação e mesmo de instigação contra ações da oposição no terreno por parte de militantes do MPLA, incluindo dirigentes", adianta o Briefing.
Em causa, refere, "fica a vontade/capacidade de as forças policiais provinciais – e em última instância das nacionais – lidarem com violência entre militantes".
AM